Cidades ficam mais vulneráveis a extremos de enchentes e secas
Mudança climática piora a distribuição das chuvas, diz Banco Mundial; veja como economizar na prática
A cidade de São Paulo aprendeu a lição após a crise hídrica de 2014 —pelo menos segundo a Sabesp, companhia de saneamento do estado. De acordo com a empresa, as represas da Grande São Paulo estão com níveis melhores que os do mesmo período de 2013, antes da crise (74%, contra 60,4%).
Foram feitas obras para captação nas represas, e inaugurados dois novos sistemas: o Produtor São Lourenço e a Interligação Atibainha-Jaguari.
Para especialistas em gestão hídrica, esses investimentos não são suficientes, pois ainda deixam a população à mercê das chuvas, variável sobre a qual não se tem controle.
“O erro está no fato de que, com o aquecimento global, a crise hídrica deixou de ser um problema circunstancial e virou uma questão estrutural” diz Helio Mattar, diretor-presidente do Instituto Akatu.
As mudanças climáticas têm levado a um significativo aumento da variabilidade hidrológica no mundo, o que significa que estamos mais vulneráveis tanto ao aumento de cheias e alagamentos quanto à severidade das secas, de acordo com Marcos Thadeu Abicalil, especialista em água e saneamento do Banco Mundial.
E a tendência é piorar, com a urbanização e a ocupação de áreas naturais. Só na última década, houve uma redução de 20% das áreas de bacias hidrográficas no mundo, segundo Abicalil.
“A atividade urbana também aumenta a poluição, o que muitas vezes impede que essa água seja útil tanto para o consumo quanto para agricultura e indústria”, diz.
Apesar de responder por cerca de 8% do consumo de água, o uso doméstico tem impacto na quantidade e na qualidade da água disponível.
“É preciso economizar na lavagem de roupa, mas também no consumo de bens e alimentos”, diz Mattar. “Está tudo interligado”. A fabricação de uma calça jeans, por exemplo, gasta mais de dez mil litros. Um quilo de carne bovina, de 15 mil a 17 mil litros .
Também é preciso encarar o desperdício: hoje, cerca de 34% dos alimentos são perdidos durante o processo de produção na hora do consumo. “Se um país concentrasse todo o desperdício do mundo, ele seria o primeiro em consumo de água”, diz Mattar.