Folha de S.Paulo

Nova série da Netflix feita no Brasil foi pensada para exportação

‘Coisa Mais Linda’ gira em torno da criação da bossa nova e leva à tela o fortalecim­ento da figura da mulher

- Tony Goes

Maria Casadevall nunca havia interpreta­do alguém tão frágil. Pathy Dejesus jamais havia chorado em frente a câmeras. Ícaro Silva não fazia ideia de como tocar bateria. Fernanda Vasconcell­os não sabia que sabia cantar.

Todos eles tiveram suas primeiras vezes em “Coisa Mais Linda”, cujos sete episódios da primeira temporada estão disponívei­s a partir desta sexta (22) na Netflix.

A série produzida pelo serviço de streaming no Brasil foi pensada para ser um produto de exportação: fala do ritmo nacional mais conhecido internacio­nalmente, a bossa nova, e um de seus criadores é a americana Heather Roth, que desenvolvi­a um filme sobre o assunto (o outro é o brasileiro Giuliano Cedroni).

Ambientada no Rio de Janeiro, em 1959, a produção não investiga as origens do gênero musical que seduziu o mundo nem fala de figuras reais como Tom Jobim ou Vinicius de Moraes. O tema, na verdade, é o fortalecim­ento da mulher, com quatro protagonis­tas femininas.

Maria Luiza é uma paulistana que se muda com o marido para o Rio, dispostos a abrir um restaurant­e. Quando ele some com o dinheiro do casal, Malu decide fazer um clube de música (e não uma boate, como ela frisa). Mas esbarra em sua inexperiên­cia e no machismo dos possíveis sócios e fornecedor­es.

“Foi difícil interpreta­r uma mulher que, a princípio, enxerga os homens de baixo para cima”, conta Casadevall. A atriz encaixou as gravações de “Coisa Mais Linda” entre uma temporada e outra de “Ilha de Ferro”. Na série da Globoplay, ela faz Julia, tão forte e altiva que é capaz de comandar uma plataforma de petróleo. “Precisei de um tempo para encontrar o gestual delicado da Malu.”

Outra que ganhou um papel diferente do usual foi Pathy Dejesus. Sempre escalada para personagen­s glamoro- sas, a atriz faz a sofrida Adélia, mãe solteira e pobre. “Fui buscar inspiração na minha avó e em outras mulheres negras que viveram essa época, quando elas não tinham muita opção”, diz ela.

Já Mel Lisboa usou um pouco de Clarice Lispector para compor Thereza, uma jornalista. Apesar de casada, ela não hesita em se envolver com Helô (Thaila Ayala), uma colega de redação.

A música também é o instrument­o de libertação de Lígia, a personagem de Fernanda Vasconcell­os. Mesmo casada com o dono de uma gravadora (Gustavo Machado), ela custa a transforma­r o hábito de cantar em uma carreira profission­al.

As atrizes fizeram testes para vários papéis, até a produção decidir quem faria quem. O processo de Ícaro Silva foi mais simples: veterano de musicais (e consagrado por uma imitação de Beyoncé na primeira edição do quadro “Show dos Famosos” do “Domingão do Faustão”), o ator foi uma escolha quase óbvia para o baterista Capitão. “Só precisei fazer um curso intensivo de bateria”, ri ele.

O personagem que mais demorou para encontrar seu intérprete foi Chico, garotão de praia e exímio violonista. O papel ficou com Leandro Lima, que foi modelo e trabalhou em novelas da Record. “Mas o violão que eu toco é muito básico”, conta o ator. “Penei para aprender os acordes da bossa nova”.

A própria bossa nova, no entanto, é usada com parcimônia na trilha sonora de “Coisa Mais Linda”. Clássicos como “Chega de Saudade” ou “Garota de Ipanema” ficaram de fora. Na ânsia de evitar o clichê, a série se arrisca a não entregar tudo o que promete.

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Divulgação Pathy Dejesus (esq.) e Maria Casadevall em ‘Coisa Mais Linda’

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