Folha de S.Paulo

Com reforma em jogo, Bolsonaro bate boca com Rodrigo Maia

Presidente atribui atrito à ‘velha política’, e líder da Câmara critica falta de articulaçã­o por mudanças na aposentado­ria

- Sylvia Colombo, Talita Fernandes e Tássia Kastner

Jair Bolsonaro (PSL) passou o dia de ontem trocando farpas com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEMRJ), sobre a Previdênci­a.

Em visita ao Chile, Bolsonaro comentou o impasse político pela aprovação da reforma em três ocasiões e disse que a responsabi­lidade está com o Congresso.

O presidente atribuiu o atrito a quem não quer “largar a velha política”. Maia disse que ele precisa mostrar o que é a “nova política”, e não terceiriza­r a articulaçã­o pela reforma. Para Bolsonaro, Maia agiu de modo “um tanto quanto agressivo”. “Até perdoo pela situação pessoal que está vivendo.”

Maia é casado com enteada de Moreira Franco (MDB), preso na quinta (21).

O deputado rebateu o presidente. “Não uso as redes sociais para agredir ninguém.” Ele afirmou ainda que “numa democracia o Executivo não está acima dos outros Poderes, estão todos dialogando”.

santiago, brasília e são paulo Com a reforma da Previdênci­a em jogo, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), intensific­aram neste sábado (23) o bate-boca sobre a responsabi­lidade pela articulaçã­o política para a aprovação das mudanças na aposentado­ria.

Em Santiago, durante viagem oficial, Bolsonaro voltou a criticar a “velha política”. Após uma cobrança de Maia, ele disse que a tarefa de levar o texto adiante agora está com o Congresso.

O presidente respondeu a Maia, que tem criticado a posição do governo.

Bolsonaro falou três vezes sobre o impasse político. O presidente comentou o tema em café da manhã com empresário­s, em discurso ao lado do presidente Sebastián Piñera e em entrevista coletiva. À tarde, voltou ao Brasil.

“Os atritos que acontecem no momento, mesmo eu estando calado e fora do Brasil, acontecem na política lá dentro porque alguns, não são todos, não querem largar a velha política”, afirmou Bolsonaro.

Em Brasília, pela manhã deste sábado, Maia disse que o presidente precisa mostrar o que é a “nova política”. Ele afirmou também que Bolsonaro deveria assumir a condução da reforma.

“Ele não pode terceiriza­r a articulaçã­o como ele estava fazendo. Transfere para o presidente da Câmara e do Senado [Davi Alcolumbre] uma responsabi­lidade que é dele e fica criticando: ‘Ah, a velha política está me pressionan­do’”, afirmou Maia.

Para Bolsonaro, a reforma da Previdênci­a não é uma questão de governo, mas de Estado. “A responsabi­lidade no momento está com o Parlamento brasileiro. Eu confio na maioria dos parlamenta­res”, afirmou ele.

O presidente reforçou o discurso de que as mudanças nas aposentado­rias são importante­s para a superação da crise econômica.

“Temos a chance de sair dessa situação em que nós nos encontramo­s com as reformas. E a primeira delas, a mais importante, é essa, a da Previdênci­a”, disse.

Bolsonaro afirmou que o pano de fundo da tensão está no Senado, que está em embate para a criação da CPI (Comissão Parlamenta­r de Inquérito) da Lava Toga.

“Eu não vou entrar nessa disputa. Somos [Poderes] in- dependente­s, não serei levado para um campo de batalha diferente do meu”, afirmou.

“Eu respondo pelos meus atos no Executivo. Legislativ­os são eles, o Judiciário é o Dias Toffoli. E assim toca o barco, isso chama-se democracia. Não queiram me arrastar para um campo de batalha que não é o meu.”

Sobre as declaraçõe­s de Maia, Bolsonaro disse não entendê-las. “Nunca o critiquei, eu não sei por que ele de repente está se comportand­o dessa forma um tanto quanto agressiva no tocante à minha pessoa.”

“Agora, o que é articulaçã­o? O que é que está faltando eu fazer? O que foi feito no passado não deu certo e não seguirei o mesmo destino de expresiden­tes, pode ter certeza disso”, afirmou Bolsonaro.

Dois ex-presidente­s estão presos. Luiz Inácio Lula da Silva foi condenado na Lava Jato, e Michel Temer (MDB) está em preventiva, no Rio de Janeiro.

“Eu até perdoo o Rodrigo Maia pela situação pessoal que ele está vivendo. O Brasil está acima dos meus interesses e do dele, o Brasil em primeiro lugar”, disse Bolsonaro.

Maia é casado com a enteada de Moreira Franco (MDB), ex-ministro de Temer e exgovernad­or do Rio, que também foi preso na semana passada por ordem do juiz Marcelo Bretas.

À tarde, em São Paulo, onde almoçou com o governador João Dória (PSDB), Maia rebateu as declaraçõe­s. “Eu não uso as redes sociais para agredir ninguém”, disse Maia.

“Você pode pesquisar os meus tuítes, os do presidente e do entorno do presidente, para você ver quem está sendo agredido nas redes sociais. Aí, você vai poder chegar à conclusão de que há uma distorção na frase do presidente.”

O deputado disse ainda que “em uma democracia o Poder Executivo não está acima dos outros Poderes, estão todos dialogando entre si”.

A intenção do almoço era alinhar um discurso apaziguado­r sobre a reforma após três dias de desentendi­mentos entre o parlamenta­r e o entorno de Bolsonaro.

A desavença fez o mercado financeiro levantar dúvidas sobre a viabilidad­e de aprovação das novas regras, considerad­a essencial para o equilíbrio das contas públicas. A Bolsa fechou a semana em queda de 3,1%.

“Nós estamos olhando para frente. Cada um colocou o seu ponto de vista, o presidente colocou o dele, eu coloquei o meu. Eu não tenho nada mais a tratar do que ocorreu nos últimos dias”, disse o presidente da Câmara.

Sobre Bolsonaro ter afirmado que a aprovação da reforma depende do Congresso, Maia afirmou que as coisas não são tão estanques.

“Até porque o ministro Paulo Guedes tem tentado intervir na escolha do relator [da reforma], na escolha do presidente. Então não é tão independen­te assim a relação como se pode pensar. Vai se escolher um relator por sorteio? Vai se deixar ter um relator de oposição nessa matéria?”, questionou.

Maia disse que a Previdênci­a é um tema prioritári­o na agenda da Câmara.

“Depois da Previdênci­a, a nossa agenda é a reforma tributária e a repactuaçã­o do Estado brasileiro. De que forma o governo vai ou não participar, isso não é um problema meu”, disse.

Os atritos que acontecem no momento, mesmo eu estando calado e fora do Brasil, acontecem na política lá dentro porque alguns, não são todos, não querem largar a velha política

Nunca o critiquei [Maia], eu não sei por que ele de repente está se comportand­o dessa forma um tanto quanto agressiva no tocante à minha pessoa

Eu até perdoo o Rodrigo Maia pela situação pessoal que ele está vivendo

Jair Bolsonaro (PSL) presidente

Ele não pode terceiriza­r a articulaçã­o como ele estava fazendo

Você pode pesquisar os meus tuítes, os do presidente e do entorno do presidente, para você ver quem está sendo agredido nas redes sociais

Depois da Previdênci­a, a nossa agenda é a reforma tributária e a repactuaçã­o do Estado brasileiro. De que forma o governo vai ou não participar, isso não é um problema meu

Rodrigo Maia (DEM-RJ) presidente da Câmara dos Deputados

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Jorge Villegas/Xinhua Bolsonaro visitou o Chile, onde se encontrou com empresário­s e Piñera; ele voltou neste sábado ao Brasil
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Aloisio Mauricio/Fotoarena/Agência O Globo Rodrigo Maia participa de almoço na casa do governador João Doria em São Paulo

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