Folha de S.Paulo

Preso, Temer tem mais 8 inquéritos a enfrentar nos próximos meses

Preso desde quinta (21) pela Lava Jato do Rio, ex-presidente enfrenta apurações em SP e Brasília

- Reynaldo Turollo Jr.

Preso há três dias na Superinten­dência da Polícia Feder alno R iode Janeiro, soba justificat­iva de que poderia atrapalhar as investigaç­ões, o ex-presidente Michel Temer, 78, vai enfrentar outros oito inquéritos que o manterão na mira do Ministério Público nos próximos meses, ainda que agora seja solto.

O Tribunal Regional Federal analisará nesta quarta (27) um pedido de habeas corpus.

Mas inquéritos abertos em São Paulo e Brasília têm potencial para levar o emedebista a uma via-crúcis de depoimento­s e outras medidas investigat­ivas semelhante à vivida por políticos como o expresiden­te Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-governador Sérgio Cabral (MDB-RJ).

“Sendo mantido o devido processo legal e o presidente podendo apresentar sua defesa, nós temos absoluta convicção de queto da sessas acusações serão superadas. O presidente está disposto a contribuir coma Justiça. Oque não pode acontecer é uma prisão absurda como essa, arbitrária”, diz o ex-ministro Carlos Marun (MDB-MS), aliado de primeira hora de Temer.

O ex-presidente foi preso preventiva­mente (sem prazo para ser solto) na quinta (21) na operação Descontami­nação. A ordem partiu do juiz Marcelo Bretas, responsáve­l por um inquérito aberto pelo ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, e enviado em fevereiro à Justiça Federal no Rio.

O destino foi a 7ª Vara, de Bretas, porque ali já foram julgados crimes envolvendo a estatal Eletronucl­ear. Nesse inquérito, Temer é suspeito de receber propina de contratos para a construção da usina nuclear de Angra 3.

Procurador­es do Rio apontam o ex-presidente como líder de um grupo criminoso que atua há cerca de 40 anos desviando recursos públicos. Também foram presos o exministro Moreira Franco e outros investigad­os.

As defesas dizem que as prisões foram ilegais porque não há indícios de que os suspeitos tenham agido recentemen­te para atrapalhar as apurações. A ordem de prisão de Bretas cita fatos de 2017, mas o Ministério Público sustenta que há indícios de que o grupo seguia ativo, como uma tentativa de depósito milionário na conta de uma empresa envolvida no esquema no ano passado.

Junto com o inquérito enviado por Barroso ao Rio foram abertos outros quatro, remetidos à Justiça Federal em São Paulo. O caso no Rio deslanchou mais rápido que os de São Paulo porque, entre outros motivos, os procurador­es fluminense­s já tinham informaçõe­s de operações anteriores relativas à Eletronucl­ear, como a Radioativi­dade.

Além disso, havia no Rio a delação de um dos sócios da Eng evix,Jo sé Antunes Sobrinho, firmada coma Polícia Federal no ano passado. Essa delação é uma das principais bases da investigaç­ão.

Sobrinho relatou o suposto caminho do dinheiro: uma fornecedor­a da Engevix teria pago cerca de R$ 1 milhão de propina a uma empresa de um amigo de Temer, o coronel João Baptista Lima Filho, um dos presos na quinta.

A Procurador­ia em São Paulo informou que não pode se manifestar sobre os quatro novos inquéritos recebidos em fevereiro porque eles estão sendo analisados. Como cada inquérito tem um ritmo diferente, a expectativ­a é que Temer seja chamado a prestar esclarecim­entos diversas vezes no desenrolar desses casos.

Dos quatro novos inquéritos em São Paulo, três têm como peça-chave a empresa Argeplan Arquitetur­a e Engenharia, envolvida com Angra 3. Procurador­es apontam que a firma, registrada em nome do coronel Lima e de outros sócios, pertence de fato a Temer.

Em uma dessas investigaç­ões, a Argeplan é suspeita de superfatur­ar e deixar de executar contratos de R$ 100 milhões para obras no Tribunal de Justiça de São Paulo.

Em outra, apura-se um contrato celebrado entre a empresa e a Fibria Celulose, que opera no porto de Santos, com valores em torno de R$ 15,5 milhões. O terceiro inquérito mira um contrato supostamen­te fictício, de R$ 375 mil, para prestação de serviço no Terminal Pérola, no porto de Santos.

O último apura lavagem de dinheiro pelo pagamento de reformas na casa de Maristela Temer, filha do ex-presidente. Como há semelhança entre o objeto dessa apuração e a do Rio, a expectativ­a da defesa de Temer é que os dois casos passem a ser um só.

Ainda em São Paulo, o expresiden­te deverá enfrentar um inquérito na Justiça Eleitoral que derivou da delação da Odebrecht, homologada pelo Supremo em 2017. A investigaç­ão trata de um jantar no Palácio do Jaburu em 2014, quando Temer ainda era vice de Dilma Rousseff (PT).

Nesse jantar, segundo delatores da empreiteir­a, foi acertada propina por meio de caixa dois para campanhas do MDB.

Tocada pela Procurador­iaGeral da República ao longo do ano passado, enquanto Temer ainda gozava da prerrogati­va de foro especial, a investigaç­ão está pronta para o oferecimen­to de denúncia, na opinião de procurador­es.

Temer também enfrentará três denúncias apresentad­as ao Supremo durante seu mandato no Planalto. Com o fim do foro, quando deixou o cargo em 1º de janeiro, as denúncias passaram à 12ª Vara Federal em Brasília. São os casos mais avançados.

Duas dessas denúncias foram oferecidas ao STF em 2017 pelo ex-procurador-geral Rodrigo Janot a partir da delação da JBS. A primeira, referente ao episódio da mala de dinheiro entregue ao exassessor Rodrigo Rocha Loures (MDB-PR), acusa Temer de corrupção passiva. Para a Procurador­ia, o presidente era o destinatár­io dos R$ 500 mil apreendido­s com Loures. O caso tramita em segredo de Justiça, segundo a Procurador­ia no Distrito Federal.

A segunda, conhecida como quadrilhão do MDB, acusa o ex-presidente de chefiar organizaçã­o criminosa e tentar obstruir a Justiça comprando o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha (MDBRJ), preso no Paraná.

A terceira é da lavra da procurador­a-geral, Raquel Dodge. Ela acusou Temer, em dezembro, de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no inquérito dos portos, aberto em 2017 para investigar a edição de um decreto que teria beneficiad­o empresas do setor.

Segundo Dodge, o esquema movimentou R$ 32,6 milhões entre 2016 e 2017, e Temer recebeu propina por meio de intermediá­rios —entre eles, novamente, o coronel Lima.

Advogado de Temer, Brian Alves Prado nega a ocorrência dos crimes e afirma que o ex-presidente irá esclarecer as suspeitas.

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