Folha de S.Paulo

Diretor Domingos Oliveira morre aos 82

Também dramaturgo, artista tratou das relações humanas e foi contrapont­o ao Cinema Novo

- Naief Haddad

Dramaturgo e cineasta morreu em casa, de causas não divulgadas. Entre muitas obras, dirigiu “Todas as Mulheres do Mundo”, seu filme de maior sucesso, de 1967.

Um dos maiores diretores do cinema brasileiro, o carioca Domingos José Soares de Oliveira morreu na tarde deste sábado (23), aos 82 anos, de causa não divulgada. Ele passou mal por volta das 14h, mas não teve tempo de ser socorrido. Era portador há anos do Mal de Parkinson.

Diretor de filmes relevantes, como “Todas as Mulheres do Mundo” (1966), “Separações” (2002) e “BR 716” (2016), ele estava trabalhand­o em sua casa no Leblon. Deixou filmados os primeiros episódios da série “Mulheres de 50”, a ser exibida no Canal Brasil neste ano.

O artista nasceu em 28 de setembro de 1936 e se formou em engenharia elétrica, mas nunca exerceu a profissão. Difícil, aliás, imaginar um homem irreverent­e e quase caótico como ele trabalhand­o como engenheiro. Além de cineasta, Domingos também foi ator, dramaturgo e poeta.

Foram mais de cem obras de sua autoria, consideran­do os trabalhos para cinema, teatro e TV. Começou a trabalhar nas artes cênicas em 1963, com o texto “Somos Todos do Jardim de Infância”, de sua autoria. Nos palcos, dirigiu atrizes como Marília Pêra e Fernanda Montenegro.

Depois de atuar como assistente de direção de Joaquim Pedro de Andrade em produções como o curta-metragem “Couro de Gato” (1962), Domingos estreou como cineasta no longa “Todas as Mulheres do Mundo” (1966).

Foi um início brilhante. A comédia lhe rendeu os prêmios de melhor filme, direção e roteiro no Festival de Brasília. Leila Diniz interpreta­va Maria Alice, que leva um bon vivant a um dilema: para ficar com ela, precisa deixar as paqueras. Domingos foi casado com a atriz, a quem definiu como uma “superdose de LSD”.

Dois anos depois,ele voltou com “Edu, Coração de Ouro”. Desta vez, a comédia resultou em prêmio para Paulo José, o ator com quem o artista tinha maior afinidade.

Tendo as relações de amor e amizade como tema, sempre permeadas pelo humor, seus filmes dessa época representa­m um contrapont­o ao Cinema Novo, movimento que tinha Glauber Rocha como nome de ponta.

Glauber preconizav­a um cinema revolucion­ário, capaz de instigar a política, a cultura e os costumes do país. As pretensões de Domingos eram mais modestas, o que não o impediu de iniciar um caminho fascinante, sob a influência de François Truffaut.

A atividade como diretor nos anos 1970 e 1980 é baixa. Foi um período em que se dedicou mais aos roteiros para TV, como a série da Globo “Ciranda Cirandinha”, além do trabalho como produtor.

Passado o governo Collor, que reduziu o incentivo ao cinema brasileiro, a produção foi retomada lentamente. O diretor voltou com um belo filme, “Amores” (1998), e levou o prêmio de melhor roteiro da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte).

Nos anos 1990 também dirigiu a bem-sucedida “Confissões de Adolescent­e”, na TV Cultura. A série foi escrita por Maria Mariana, sua filha.

Domingos teve um outro ápice criativo nos anos 2000. Foi quando emendou uma série de longas em que demonstrav­a um olhar cada vez mais refinado sobre questões amorosas, transitand­o entre a comédia e o drama. É o caso de “Separações” (2002), talvez o mais premiado de seus longas.

Se era comparado a Truffaut no início da carreira, nessa fase madura passou a ser associado a Woody Allen. Seus diálogos entrelaçav­am sagacidade, ironia e erudição.

Em outubro de 2014, o artista falou à Folha sobre o lançamento de sua autobiogra­fia “Vida Minha” (ed. Re-

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Paula Giolito - 19.out.2014/Folhapress O cineasta Domingos Oliveira

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