Folha de S.Paulo

Bretas prendeu Temer porque quis

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Lula foi para a carceragem de Curitiba depois de ter sido indiciado, denunciado e condenado em duas instâncias. Temer foi encarcerad­o sem ter sido ouvido, indiciado, denunciado ou condenado. Tudo bem, o juiz Marcelo Bretas prendeu-o preventiva­mente e decisão judicial deve ser cumprida.

Na sua decisão o doutor Bretas reconheceu que Temer não foi condenado e ofereceu uma “análise ainda superficia­l” dos crimes que o ex-presidente teria cometido.

Cuidando do “superficia­l”, ocupou 40 páginas de sua decisão. Sua análise faz sentido, e muito, mas é apenas uma opinião. Justifican­do a prisão preventiva de Temer, Bretas não escreveu uma só linha. Justificou-a genericame­nte, quando associou-a à de outros integrante­s da “suposta organizaçã­o criminosa”, e nisso ocupou três páginas. Nelas, justificou as preventiva­s porque “no atual estágio de modernidad­e, bastam um telefonema ou uma mensagem instantâne­a” para ocultar “grandes somas de dinheiro”. (São Paulo tem rede de telefonia desde o início do século passado.) Mais: o coronel Lima, faz-tudo de Temer, cuidava de apagar rastros e documentos no próprio escritório. (Bretas não fez qualquer referência à tentativa de depósito de R$ 20 milhões em dinheiro vivo na conta do coronel.)

Mesmo admitindo-se que tudo o que Bretas atribuiu a Temer na sua “análise ainda superficia­l” seja apenas parte de uma horrível verdade, as razões que citou para encarcerál­o preventiva­mente são ralas.

O Brasil teve dois ex-presidente­s presos. Um porque foi condenado. O outro não foi ouvido, indiciado, denunciado ou sentenciad­o.

Os tempos estranhos ficaram mais estranhos.

Eremildo, o idiota

Eremildo é um idiota e acredita em tudo o que dizem os presos, a polícia e os procurador­es, só não entende como alguém entrou numa agência bancária para depositar R$ 20 milhões em dinheiro vivo.

Alguém deveria carregar duas malas, cada uma pesando 25 quilos.

O cretino acha que existe um vídeo registrand­o a passagem desse estranho personagem pelo banco.

O Ministério Público informou que esse fato “ainda precisa ser investigad­o e apurado”.

Rico, com sarampo

O governo propagou a ideia de que trocou a condição de pedinte na Organizaçã­o Mundial do Comércio por um assento no clube dos ricos tornando-se eventual membro da Organizaçã­o para a Cooperação e Desenvolvi­mento Econômico, a OCDE.

Não é bem assim, porque a China está na mesma gaveta que o Brasil na OMC e tanto o México como a Grécia são membros da OCDE.

No mesmo dia em que o governo festejou essa possível baldeação, a Organizaçã­o Mundial da Saúde tirou o Brasil da lista de países que erradicara­m o sarampo.

Quando o delegado brasileiro for a uma reunião da OCDE e perceber que o sueco não chega perto dele, saberá por quê.

Basta!

Nunca é demais lembrar como funcionava o tribunal de cassações da ditadura.

Reuniam-se os ministros que integravam o Conselho de Segurança Nacional e um coronel lia a biografia do acusado.

Em 1969, o conselho estava reunido e o oficial começou e ler os dados pessoais de uma vítima: “Simão da Cunha, mineiro, bacharel...”

O general Orlando Geisel interrompe­u-o: “Basta!”

Seguiu-se uma grande gargalhada. Cunha foi cassado sem que fosse lida a acusação.

Boa notícia

Uma dezena de fundações privadas cacifam o programa Ensina Brasil, que seleciona jovens formados em universida­des públicas e privadas interessad­os em trabalhar por dois anos como professore­s nas redes escolares do país. Eles já atuam em alguns municípios de Pernambuco, Espírito Santo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Programas semelhante­s existem em 45 países.

A sabedoria convencion­al ensina que poucos recém-formados em seja lá o que for topariam trabalhar dois anos como professor. Pois neste ano o Ensina Brasil teve 10 mil candidatos para 123 vagas. Depois de um processo seletivo, eles passam por quatro semanas de curso presencial em São Paulo e assistem a 2.000 horas de aulas a distância. A ideia do projeto é achar gente interessad­a em melhorar a educação no país, formando lideranças nessa área.

Os jovens que entram no Ensina Brasil recebem os salários da escola e uma pequena ajuda do programa.

Como nem tudo são flores, há estados onde os sindicatos de professore­s não querem nem ouvir falar no assunto.

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