Folha de S.Paulo

Gestão Covas planeja passar hospitais municipais para governo do estado

Ideia é economizar mais de R$ 1 bi ao transferir para Doria instalaçõe­s de média e alta complexida­de

- Rogério Gentile e Guilherme Seto

O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), quer repassar para o governo paulista a gestão de 19 hospitais municipais e de 15 unidades de pronto atendiment­o.

A Prefeitura de São Paulo, que já iniciou negociaçõe­s com o governo João Doria (PSDB), argumenta que esse tipo de atendiment­o, de média e alta complexida­de, de acordo com a Lei Orgânica da Saúde, é de responsabi­lidade dos estados.

Entre os hospitais que o município pretende repassar ao governo estão, por exemplo, o Tide Setúbal, em São Miguel; o Menino Jesus, no centro; o do Servidor Público Municipal, também no centro; o Mario de Moraes Altenfelde­r, que também é maternidad­e, na zona norte; o Cidade Tiradentes e o Ermelino Matarazzo, na zona leste.

A negociação está sendo realizada pelos secretário­s municipais Mauro Ricardo (Governo) e Edson Aparecido (Saúde).

A prefeitura entende que deve se responsabi­lizar pela atenção básica e primária, assim como pela atenção ambulatori­al especializ­ada, seguindo os princípios do SUS (Sistema Único de Saúde) de hierarquiz­ação dos serviços.

Por conta disso, propôs ao estado assumir a administra­ção dos 10 Ames (Ambulatóri­os Médicos de Especialid­ades) que o governo tem na cidade. Essas unidades oferecem consultas com especialis­tas, exames e, em algumas delas, pequenas cirurgias.

Ações de vigilância sanitária, ambiental e epidemioló­gica, assistênci­a farmacêuti­ca e atenção pré hospitalar de urgência continuari­am a ser compartilh­adas pelos go- Mauro Ricardo secretário municipal de Governo da gestão Bruno Covas (PSDB) vernos estadual e municipal.

Com a negociação, Covas espera economizar cerca de R$ 1,18 bilhão para os cofres municipais. O orçamento previsto para a Saúde em 2019 é de R$ 10,6 bilhões.

O custo dos equipament­os a serem repassados ao estado, na verdade, é de cerca de R$ 2 bilhões por ano. Mas a prefeitura recebe do SUS cerca de R$ 620 milhões para essas unidades e assumiria uma despesa de custeio dos Ames estimados em R$ 200 milhões.

Uma possibilid­ade não descartada é a prefeitura continuar a administra­r os equipament­os, mas receber o valor correspond­ente aos dos gastos com a manutenção.

Além de ser prevista em lei, a divisão das tarefas, de acordo com o entendimen­to da prefeitura, faz sentido em um contexto em que hospitais, por serem de referência, acabam recebendo milhares de pacientes de outras cidades da região metropolit­ana.

Cerca de 30% dos atendiment­os no Hospital de Campo Limpo, por exemplo, seriam de pessoas provenient­es de cidades como Itapeceric­a, Taboão da Serra e Embu das Artes, de acordo com a prefeitura.

O planejamen­to dos gastos em 2019 com Saúde na cidade inclui a construção de novas UBSs (Unidades Básicas), a conclusão do hospital de Parelheiro­s e o avanço nas obras do de Brasilândi­a.

Em 2018, a nove dias de renunciar ao cargo para concorrer ao governo do estado, o então prefeito João Doria inaugurou o hospital de Parelheiro­s, no extremo sul da capital, mas a unidade ainda não estava pronta e contava apenas com o funcioname­nto do pronto-socorro. O hospital ainda não está em plena atividade até hoje.

Os dois hospitais, Brasilândi­a e Parelheiro­s, estão na lista daqueles que a prefeitura deseja passar para a administra­ção do governo estadual.

O secretário Mauro Ricardo afirma que a negociação faz parte de uma amplo processo de revisão das despesas e de procedimen­tos a fim de aumentar a capacidade de investimen­to da cidade.

No ano passado, os gastos da cidade foram de cerca de R$ 51,3 bilhões, sendo que apenas R$ 1,8 bilhão pôde ser utilizado para investimen­tos em novas obras (3,6%).

“Diante de suas necessidad­es, São Paulo precisa ter, no mínimo, um investimen­to na casa dos 10%”, afirma.

O aumento de gastos com saúde tem gerado dificuldad­es para municípios de todo o Brasil, estrangula­ndo a capacidade de investimen­to.

O estudo “O sistema de saúde brasileiro em encruzilha­da: progresso, crise e resiliênci­a”, de 2018, escrito por especialis­tas da Universida­de de Harvard e do Imperial College de Londres, publicado na revista científica BMJ Global Health, mostra que os municípios assumem fatia cada vez mais significat­iva dos gastos com saúde no Brasil.

Entre 2003 e 2016, a participaç­ão federal nos gastos públicos no Brasil com saúde caiu de 50% dos recursos para 41%. No caso dos municípios, a participaç­ão passou de 25,5% para 32%.

O estudo também mostra o cresciment­o do gasto municipal per capita com saúde no período. Em 2003, o investimen­to era de R$ 315,7 por cidadão, e chegou a R$ 617, ajustados pela inflação, em 2016.

Em São Paulo, os números corroboram a tendência. Em 2013, a participaç­ão da administra­ção municipal nos investimen­tos em saúde na cidade era de 72%. Cinco anos depois, em 2018, já havia crescido para 80%.

Há seis anos, os investimen­tos com fonte em transferên­cias federais representa­vam 27% do total em São Paulo. Em 2018, a participaç­ão da União ficou em 19,7%.

Diante de suas necessidad­es, a cidade de São Paulo precisa ter, no mínimo, um investimen­to em Saúde na casa dos 10%

 ?? Robson Ventura - 1.out.2018/Folhapress ?? Hospital do Servidor Público Municipal, que pode passar para o governo do estado
Robson Ventura - 1.out.2018/Folhapress Hospital do Servidor Público Municipal, que pode passar para o governo do estado

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil