Folha de S.Paulo

Referência do candomblé, lutava por mulheres e negros

VALDINA DE OLIVEIRA PINTO (1943-2019)

- Anna Satie

Valdina de Oliveira Pinto, conhecida como Makota Valdina, foi referência no estudo do candomblé e da cultura afro-brasileira. Educadora e ativista, lutava pelos direitos dos praticante­s de religiões de matriz africana, das mulheres e dos negros.

Makota é a denominaçã­o para assistente de mãe de santo no candomblé de origem bantu.

Lande, um de seus afilhados, relata que a viu pela primeira vez numa reunião do movimento negro no fim dos anos 1980. No meio de uma tensão que se instalou entre os participan­tes, veio, do fundo, uma voz de mulher.

A fala se mantinha calma e firme sobre a cacofonia, amainando aos poucos os ânimos. Quando todos se sentaram, Lande pôde finalmente ver quem discursava sobre a importânci­a da harmonia, do respeito e da união. “É por isso que digo que não conheci Valdina, ela

apareceu para mim”, conta.

Lande lembra que Valdina sempre dizia, sobre a importânci­a da humildade, que “é preciso saber ser pequeno para ser grande”. A frase combina com o porte miúdo da makota, que sabia se impor e se fazer gigante quando necessário.

Nascida e criada no bairro do Engenho Velho da Federação, em Salvador, se tornou líder em sua comunidade. Participou do Conselho Estadual de Cultura da Bahia e recebeu diversas homenagens, como uma medalha da Câmara Municipal soteropoli­tana condecoran­do-a “mulher de destaque”. Teve sua vida retratada em documentár­io e publicou um livro sobre suas memórias em 2013.

Morreu na última terçafeira, aos 75, vítima de uma parada cardiorres­piratória. Deixa nove irmãos, dezenas de sobrinhos e afilhados e a Casa Onimboyá, terreiro em Salvador criado para preservar seu legado.

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