Folha de S.Paulo

As entranhas do interior

Chama a atenção como os times fora da capital vêm e vão no Paulista

- Paulo Vinicius Coelho Jornalista, cobriu seis Copas do Mundo (1994, 1998, 2006, 2010, 2014 e 2018)

A Ferroviári­a recebe o Corinthian­s neste domingo (24), em Araraquara. Dos oito finalistas do Estadual, é o único inédito na década e não jogava a fase decisiva desde 1985, quando caiu na semi contra a Portuguesa. Dos outros sete classifica­dos, o Corinthian­s só não esteve na fase decisiva em 2015, o Red Bull esteve em 2015 e 2016, o Ituano foi campeão em 2014 e classifico­u-se em 2015, o Novorizont­ino está nas quartas pelo terceiro ano seguido.

Desde 2010, a lista dos classifica­dos do interior é enorme e o sucesso desses clubes é efêmero.

O Santo André foi vice-campeão em 2010 e rebaixado no ano seguinte. O Guarani repetiu a história entre 2012 e 2013.

O Audax virou reportagem em todos os jornais de 2016. Seu patrono, Mário Ferreira, rejeitou entrevista­s para todos os canais de TV, Fernando Diniz, bom treinador, está hoje no Fluminense, Ytalo foi jogar no São Paulo e Tchê Tchê no Palmeiras. O Audax está na Série A-3.

No Brasil, houve um tempo em que a diferença entre o futebol e o basquete era que, no futebol, os jogadores sempre mudavam e os clubes eram sempre os mesmos. No basquete, os clubes mudavam e os jogadores eram sempre os mesmos. Paulinho Villas Boas, Guerrinha, Helinho jogavam pelo Arcal-Corinthian­s-RS, Ravelli Franca, Coc-Ribeirão.

Como o Corinthian­s contratou Vagner Love e o São Paulo pensa em Pato, fica a impressão de que o futebol mudou: os jogadores são sempre os mesmos, os times é que mudam.

Impression­a como os times do interior vêm e vão. O São Caetano vendeu caro a eliminação para o São Paulo nas quartas de 2018. Desceu para a Série A-2 na última quartafeir­a (20). Isso não exclui observar as tentativas empresaria­is de grupos que controlam o Red Bull, a Ferroviári­a, ou o Ituano, o mais constante de todos. Com Juninho Paulista na gestão, Itu tem time modesto e sempre presente. Seu atacante, Martinelli, é a revelação do estadual.

“Aqui temos projeto para o futuro. Temos um conselho de administra­ção e nos reportamos ao Roque Júnior, o diretor de futebol”, diz o técnico Vinicius Munhoz, da Ferroviári­a.

Munhoz também cita a formação de sua equipe, com reuniões para contratar jogadores que se encaixasse­m no modelo de jogo. Thiago Scuro, presidente do Red Bull, destaca que os quatro times do interior têm estilos próprios. Montaram-se pensando em como jogar.

Araraquara voltou ao mapa depois do apoio da prefeitura e de empresas da região para a reforma do estádio da Fonte Luminosa. O vice-campeonato da Copa Paulista garantiu vaga na Série D. Dos quatro do interior, é o único com divisão nacional assegurada. O Red Bull tenta a fusão com Oeste ou Bragantino, para ter vaga na Série B. Pretende chegar à elite.

Não é justo dizer que os times, mesmo os de sucesso efêmero, não contribuem para nada.

O Corinthian­s descobriu o campeão mundial, Ralf, no Grêmio Barueri. Diego Pituca estava nas quartas do Estadual pelo Botafogo, em 2017. O Santos se esforça para mantê-lo. Ricardo Goulart foi vice paulista como reserva do Santo André, em 2010. É o jogador mais bem pago do Brasil.

Os grandes clubes são instáveis pela estrutura política. O São Paulo cogita contratar Pato porque tem de dar satisfação a conselheir­os e torcedores. Política pura. Grêmio e Cruzeiro mantêm treinadore­s e estilos há dois anos e meio. Exceções.

Os pequenos têm outras razões para instabilid­ade. Não há previsão de jogos. Se houvesse certeza de calendário, mais gente séria poderia administra­r. Com todos os problemas, o Paulista tem equilíbrio como vantagem. Dos 18 campeonato­s do século, 5 tiveram grandes nas 4 primeiras colocações.

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