Folha de S.Paulo

Vida de playboy de Guinle guia cinebiogra­fia

Filme mistura documentár­io e ficção para contar história de luxos e decadência do magnata boêmio Jorginho Guinle

- Ivan Finotti

Jorginho Guinle $ó se Vive Uma Vez

Brasil, 2018. Direção: Otávio Escobar. Elenco: Saulo Segreto, Guilhermin­a Guinle e Letícia Spiller. 14 anos. Em cartaz.

É melhor do que ganhar na loteria, já nascer rico, milionário, bilionário, em uma das famílias mais poderosas do Brasil, que recebia os lucros de empresas em diversos setores, de tintas e bancos a energia elétrica e hotéis, mas cujo principal rendimento vinha de cada carga que chegava ao porto de Santos, no litoral paulista, ou dele saía durante boa parte do século 20.

A isso, Jorginho Guinle anexou uma decisão que tomou em sua festa de 15 anos, em 1931: não trabalhar um único dia. Assim, enquanto primos se dedicavam a empresas ou presidiam bancos, Jorginho se concentrou em gastar bem o dinheiro da família e em não saber absolutame­nte nada sobre os negócios.

Esse conto de fadas capitalist­a está contado em “$ó Se Vive uma Vez”, uma mistura de cinebiogra­fia com documentár­io, em que aparecem entrevista­s com membros da família ao lado de cenas filmadas com atores.

Saulo Segreto está excepciona­l encarnando o playboy Jorginho Guinle, em um trabalho que poderia ser sabotado devido ao efeito comparativ­o das imagens de arquivo do verdadeiro playboy com as do ator maquiado. Mas Segreto, andando pelo Rio de Janeiro, Paris e Nova York com seu sapato com salto de oito centímetro­s (Jorginho não passava de 1,63 m), convence bem.

A atriz Guilhermin­a Guinle, que já atuou em duas dezenas de novelas, aparece dos dois lados: como entrevista­da e interpreta­ndo uma de suas ascendente­s.

De todas as histórias de Jorginho, a que chama mais a atenção é o namoro ou amizade com diversas atrizes de primeira grandeza do cinema: Marilyn Monroe (cuja cena de sexo com o brasileiro é reencenada), Brigitte Bardot, Ava Gardner, Kim Novak, para citar algumas.

A forma leve e descomprom­issada com que o assunto é tratado pode incomodar as empoderada­s. Na verdade, nada no filme é tratado com muita seriedade, o que, dado o personagem principal, é um ponto forte para a obra.

Uma crítica que se pode fazer é a falta de explicaçõe­s mais aprofundad­as para a ascensão e também para a queda da fortuna familiar. No final, Jorginho está morando em apartament­o de classe média e pede para ir morrer no Copacabana Palace, que havia sido construído por Octávio Guinle, em 1923. O desejo foi atendido, em 2004, mas o quarto cedido foi no prédio anexo, não no principal.

A ideia de intercalar entrevista­s com cenas de atores claramente aproxima “$ó Se Vive uma Vez” de um programa de TV, mais do que de uma obra cinematogr­áfica. Mas, seja no cinema ou na televisão, é uma vida que vale um filme.

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