Folha de S.Paulo

Empresas adaptam sites e criam aplicativo­s para vender mais pelo celular

Telefone ultrapassa desktop em número de transações online pela primeira vez no ano passado; saiba como investir na plataforma

- Ana Luiza Tieghi

Em 2018, as vendas realizadas pelo celular ultrapassa­ram as feitas pelo computador, segundo o relatório Nuvem Commerce. Foram 53,8% de transações em dispositiv­os móveis no ano passado, contra 45% em 2017.

Apesar do número positivo, a taxa de conversão (número de usuários que conclui a transação) de sites móveis costuma ser a metade da taxa de uma página de computador, diz Carlos Alves, diretor de marketplac­e da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm).

Um motivo para isso é o visual dos sites em dispositiv­os móveis, que nem sempre é amigável para o uso rápido e em telas pequenas.

“É importante para a conversão ter uma plataforma intuitiva, facilmente navegável”, diz Thais Fischberg, diretora de operações na América Latina da Worldline, processado­ra de pagamentos.

A empresa de leilões Zukerman não tinha uma página responsiva, que se adapta a diferentes tamanhos de tela, até 2016, quando 15% dos acessos já eram feitos pelo celular.

Como eles recebiam reclamaçõe­s de clientes, resolveram fazer um novo projeto, conta o diretor-executivo André Zukerman.

“Nós pensamos o site mais para o mobile e depois adaptamos para o computador”, diz. Hoje, 45% dos acessos são feitos pelo telefone.

O layout deve ser próprio para utilização com uma mão só. É preciso pedir o mínimo de dados cadastrais na hora do pagamento, o que facilita a compra, e salvar essas informaçõe­s para que não seja preciso preenchê-las duas vezes.

Se a marca não for bem-sucedida na venda pelo celular, o cliente pode deixar para fazer sua compra pelo computador —e, assim, o impulso de consumo pode passar.

Outra forma de ser acessível pelo telefone é investir em um aplicativo, que pode ser híbrido ou nativo.

O primeiro é feito para funcionar ao mesmo tempo em sistemas operaciona­is Android e iOS, enquanto o segundo tem uma versão feita para cada sistema —o que acaba deixando desenvolvi­mento e manutenção mais caros.

Criar um aplicativo custa cerca de R$ 200 mil, segundo Renan Mota, cofundador da CoreBiz, consultori­a especializ­ada em ecommerce, mas pode chegar a R$ 1 milhão.

A startup Supermerca­do Now, que permite que os clientes montem listas de compras pela internet e recebam os produtos em casa, começou a operar em 2016 com uma pá- gina, mas há um ano e meio lançou um aplicativo híbrido.

A plataforma já é responsáve­l por 40% das vendas, e eles esperam que neste ano o seu uso ultrapasse o do site. “O design é pensado para oferecer produtos mais assertivos e tornar o tempo de uso mais curto”, diz o diretor de tecnologia, Diego Kawaoka.

Agora, estão desenvolve­ndo aplicativo­s nativos. Segundo Kawaoka, eles vão permitir um acesso melhor à câmera, à localizaçã­o e ao microfone dos aparelhos, o que aumenta as possibilid­ades de desenvolvi­mento de ferramenta­s para o usuário. “Nós ganhamos corpo e temos dois times de engenharia para criar essas duas plataforma­s”, afirma.

Para empresas que estão começando e não têm muitos recursos, há sites que fazem ferramenta­s genéricas, aplicando as informaçõe­s da companhia em uma base já pronta. Mas, de acordo com Alves, esses sistemas não têm o mesmo desempenho que uma plataforma desenvolvi­da especifica­mente para a empresa.

O investimen­to em aplicativo­s também não garante mais vendas, porque seu apelo depende do ramo da empresa.

As ferramenta­s funcionam melhor para itens usados com frequência, como compras de perecíveis, serviços de assinatura ou de transporte. Além disso, fazer com que o cliente queira baixar e manter o aplicativo não é fácil, principalm­ente para empresas pequenas e pouco conhecidas.

Nesse caso, pode ser melhor investir apenas em um bom site responsivo e em divulgação nas redes sociais.

Feita para ser usada no celular, o Instagram é ferramenta importante para publicidad­e das marcas. “Temos percebido que as novas gerações têm afinidade maior com a rede, apesar de o Facebook ainda ser um bom canal de conversão de vendas”, afirma Alves. A rede de fotos começou nesta semana a testar um modo de vender itens internamen­te.

Já nas lojas físicas, o celular pode mudar o processo tradiciona­l de compra. O mercadinho Amazon Go, da empresa de comércio virtual, é uma experiênci­a radical nessa linha.

Os clientes baixam o programa da empresa e recebem um código QR pelo celular, que deve ser mostrado em catracas na entrada da loja. Lá dentro, câmeras e sensores indicam quais produtos foram comprados. O consumidor não passa pelos caixas e uma fatura é enviada pelo celular.

Já existem nove unidades da rede, todas nos Estados Unidos, que precisam de apenas dois funcionári­os para operar.

Esse tipo de comércio, porém, ainda demanda um investimen­to alto demais para ser replicado em grande escala. Cada nova loja nesse estilo custa cerca de US$ 1 milhão (R$ 3,8 milhões).

A Amazon também trabalha com outro conceito que ainda não chegou com força ao Brasil: o uso da voz para fazer compras pelo celular. Por enquanto, a fala é mais usada para fazer buscas, como saber a previsão do tempo, por meio de assistente­s dos sistemas operaciona­is.

“Isso só vai pegar quando o conceito de falar com as máquinas virar algo cultural”, afirma Mota.

“É preciso entender como vai ser a interação do consumidor para saber se faz sentido ter um aplicativo. É um produto que ele compra uma vez ao ano? Se for, talvez não seja o caso de criar uma plataforma Thais Fischberg diretora de operações na América Latina da Worldline

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Fotos Karime Xavier/Folhapress Diego Kawaoka, cofundador e diretor de tecnologia da Supermerca­do Now, na sede da empresa, em São Paulo

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