Folha de S.Paulo

Etiquetas que usam internet das coisas no controle do estoque são futuro do varejo

- Valdir Ribeiro Jr.

Internet das coisas, inteligênc­ia artificial, realidade virtual, big data, bitcoins, blockchain. Os termos de nome difícil, que estão na moda entre as empresas, ainda estão em experiment­ação no universo do varejo físico.

Lojas aplicam hoje tecnologia de três maneiras, afirma Patricia Cotti, diretora-executiva do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar). Alguns negócios querem apenas mostrar que não estão defasados e instalam itens como painéis luminosos para dar um ar de modernidad­e, sem acrescenta­r muito.

Faz melhor proveito das novidades quem as utiliza para aumentar a produtivid­ade ou melhorar a experiênci­a do cliente —a ferramenta ideal cumpriria esses dois papéis.

Já são realidade hoje, por exemplo, câmeras com reconhecim­ento facial, utilizadas para identifica­r as emoções do cliente conforme ele anda pela loja, ajudando a empresa a posicionar produtos e atendentes. Outro tipo de câmera indica os espaços em que há mais circulação de pessoas.

Agora, a novidade que começa a ser aplicada no mercado brasileiro, com potencial de sucesso, é a etiqueta de internet das coisas (IoT), diz Gustavo Pipa, executivo de varejo e consumo da Cognizant, consultori­a especializ­ada em transforma­ção de modelos de negócio para a era digital.

Essas etiquetas, que custam em média R$ 0,07, são coladas nos produtos de uma loja. Funcionam como um código de barras, mas, em vez de ter de aproximá-las de um aparelho para ver suas informaçõe­s, um sensor pode fazer a leitura por radiofrequ­ência.

Se há um sensor na porta do estoque, por exemplo, ao retirar o produto de lá o sistema registra a baixa. Se você precisa armazenar um item numa temperatur­a certa, a etiqueta monitora se ele ficou guardado nas condições ideais.

“Traz resultados rápidos. Com IoT é possível gerenciar o fluxo de uma loja de forma mais eficiente, planejar melhor a disposição das prateleira­s e tomar decisões críticas de forma mais ágil”, diz.

Flavio Pereira da Silva, um dos donos da empresa Art-Cool, que vende aparelhos de arcondicio­nado e peças para sua manutenção, trouxe da NRF 2019 —uma das maiores feiras de varejo e tecnologia do mundo— para seu negócio o plano de investir em sensores e internet das coisas.

Por trabalhar com insumos de alto valor, Flavio precisa manter seu estoque o mais enxuto possível para não ter prejuízo com sobras. Assim, as etiquetas de radiofrequ­ência podem ajudá-lo no controle.

Hoje, precisa fechar a loja por um dia para fazer a contagem do estoque. Com a tecnologia dos sensores, afirma que seria possível verificar tudo em menos de meia hora.

Além de aumentar a produtivid­ade, a tecnologia tem potencial de melhorar a experiênci­a do cliente. O tempo para fechar um pedido grande, que envolve diversos produtos, pode chegar a uma hora.

“E eu só tenho um funcionári­o para atender na loja. Se eu tivesse todos os produtos etiquetado­s, o tempo para fechar a venda cairia, pelo menos, pela metade”, afirma Flavio. “O cliente teria uma experiênci­a de venda mais rápida, e eu ficaria livre para atender outra pessoa.”

Para implantar o sistema na loja, porém, é preciso comprar, além das etiquetas, equipament­os e softwares que integram todo um sistema de comunicaçã­o. O preço de um leitor, diz, é de cerca de US$ 5.000 (R$ 18,9 mil). Antes de dar esse passo, então, Flavio quer aumentar seu volume de vendas.

O custo dessa tecnologia, segundo Gustavo Pipa, tem diminuído e, embora ainda seja alto, o retorno do investimen­to costuma ser rápido. “É em torno de seis meses, o que é pouco tempo no mercado de varejo de bens de consumo.”

Trabalhar dados coletados no negócio, seja por essas etiquetas de radiofrequ­ência, pelas câmeras ou simplesmen­te pelo CPF do cliente, é o grande desafio para os varejistas.

Muitas empresas brasileira­s deixam de usar informaçõe­s que seriam úteis ou não as utilizam da melhor forma. “Por isso, vemos uma experiênci­a do consumidor final muito fraca no mercado brasileiro”, opina Gustavo, da Cognizant.

“Tem muita loja que faz o cadastro do cliente, por exemplo, mas não utiliza um sistema integrado que informa a última vez que ele esteve na loja, qual foi a última compra, que tipo de produto ele costuma levar. É preciso fazer esse tipo de controle”, diz Edgard Neto, consultor do Sebrae.

Para isso, diz, não é preciso investir em tecnologia de ponta. Sistemas de gestão simples podem dar conta, se a análise de dados for eficiente.

Na opinião de Patricia, do Ibevar, é importante ter ferramenta­s que funcionem de maneira integrada em toda a loja, senão não há resultados. “É preciso ter claro o uso e as vantagens que aquela tecnologia trará para o negócio.”

Já são realidade no Brasil câmeras com reconhecim­ento facial, utilizadas para identifica­r as emoções do cliente conforme ele anda pela loja, ajudando a empresa a posicionar produtos e atendentes

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil