Folha de S.Paulo

Consultori­as usam jovem como norte para prever desejos do consumidor

Especialis­tas antecipam tendências em até cinco anos a partir de estudos de comportame­nto e conversas com empresas

- Marina Azaredo

As crianças nem pensaram sobre o que vão pedir no Natal, mas já há quem antecipe quais serão os brinquedos mais vendidos daqui a nove meses. E não só isso, mas também itens de vestuário, decoração, comidas e bebidas que mais farão sucesso nas festas de fim de ano.

Da popularida­de da cor “rosa millennial” ao aumento da demanda por serviços de beleza, quase tudo o que diz respeito ao comportame­nto do consumidor foi previsto por consultori­as de tendências antes de se consolidar como um movimento do mercado.

Com escritório­s em 13 países, a WGSN é uma dessas empresas que tenta prever o futuro do varejo e lança relatórios periódicos cujo objetivo é identifica­r o que o consumidor vai querer comprar daqui a um, dois e até cinco anos —e como ele o fará. Os estudos ajudam marcas a planejar ações e produtos para os meses e anos seguintes.

“Alguns anos atrás, percebemos que a fluidez de gênero estava tornando o rosa uma cor mais aceita. Paralelame­nte, detectamos que as pessoas buscavam mais suavidade em suas rotinas. Foi a partir disso que afirmamos que o rosa millennial se tornaria a cor mais desejada pelos consumidor­es”, conta a britânica Carla Buzasi, diretora global da WGSN.

Esse exercício de futurologi­a é feito a partir de um minucioso trabalho de observação do comportame­nto dos consumidor­es, principalm­ente jovens. De acordo com Carla, festivais de música são um excelente campo para detectar o surgimento de tendências.

“Observamos tudo: o que o público veste, o que bebe, o que come, qual food truck tem filas mais longas. O melhor jeito de identifica­r uma tendência é observando os jovens, inclusive porque a maneira como eles se comportam tem um impacto nos pais, nos avós, na família inteira.”

Entre os profission­ais que fazem esse trabalho de identifica­ção dos anseios do consumidor, há pessoas com diferentes formações, como design, ciências sociais e análise de dados. Carla é jornalista e começou a trabalhar com tendências depois de passar pelo jornal britânico The Guardian. “Procuramos pessoas brilhantes, curiosas e que sempre pensando à frente.”

Profission­ais especializ­a- dos em cada uma das áreas estudadas pela empresa são essenciais: há, por exemplo, um setor dedicado a analisar tendências de jeans.

A britânica Euromonito­r, por sua vez, pesquisa 30 indústrias diferentes, elaborando relatórios sobre bebidas e óculos, por exemplo.

Todo ano a empresa identifica as dez tendências globais de consumo. Entre as previsões para 2019 estão a busca por experiênci­as que economizem o tempo do consumidor, o retorno aos produtos básicos —e menos materialis­mo— e a aversão ao uso irresponsá­vel do plástico.

Antes de chegar à lista final, a equipe partiu de 89 tendências detectadas em 80 países. “Para bater o martelo nas dez principais, conversamo­s muito com as indústrias, sempre tentando entender para onde o consumidor está se movimentan­do”, diz Alison Angus, líder de pesquisa de lifestyle da Euromonito­r.

Pioneiro no Brasil, o escritório de inteligênc­ia estratégic­a Observatór­io de Sinais analisa fatores sociológic­os, comportame­ntais e mercadológ­icos para identifica­r tendências. Dario Caldas, fundador da empresa, ressalta, porém, que não basta às empresas simplesmen­te mapear o comportame­nto futuro do consumidor.

“Hoje em dia não faltam blogs e relatórios na internet com previsões para os próximos anos, mas só isso não resolve o problema. É preciso saber aplicar essas tendências a cada tipo de empresa e de produto”, diz.

Há alguns anos, em um trabalho para o Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos (IBGM), por exemplo, Dario fez um alerta: o mercado de joias não responde bem à tendência de adoção de comportame­ntos mais jovens — seus produtos são considerad­os defasados, antigos.

A partir de um estudo da área, o Observatór­io de Sinais listou uma série de sugestões para melhorar a comunicaçã­o das marcas de joias com o público, tanto em design e linguagem de produtos como em exposição nos pontos de venda.

Por isso, cada vez mais empresas procuram as consultori­as estratégic­as para produzir relatórios e pesquisas personaliz­ados. “Inclusive marcas menores estão mais confortáve­is em seguir as tendências, estão se sentindo à vontade para experiment­ar mais”, afirma Carla Buzasi, da WGSN.

No Brasil, o Sebrae também realiza um relatório anual sobre os negócios mais promissore­s. Baseados apenas em dados econômicos, como inflação, taxa de juros e safra agrícola, economista­s e cientistas de dados elaboram uma lista de atividades com maior chance de sucesso no ano.

“O bom desempenho da safra agrícola é importante principalm­ente para o comércio do interior, pois faz uma injeção de renda nas pequenas cidades”, diz Marco Aurélio Bedê, coordenado­r do estudo divulgado em janeiro.

O Sebrae indica salões de beleza, serviços de entrega e transporte escolar como algumas das atividades mais promissora­s para este ano.

Não faltam blogs e relatórios com previsões para os próximos anos, mas só isso não resolve o problema. É preciso saber aplicar essas tendências a cada tipo de empresa e de produto Dario Caldas fundador do Observatór­io de Sinais

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Carla Buzasi, diretora global da consultori­a de tendências WGSN, no escritório da empresa em São Paulo

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