Folha de S.Paulo

Área para bar e peças autorais rejuvenesc­em antiquário­s

Empresas crescem com locação de objetos para TV e sites de venda online

- Tatiana Vaz

Um lustre do século 19, que esteve em encontros de barões do café, pode hoje ser comprado dentro de um bar ou de uma loja de objetos reciclados. Esse misto de passado e presente tem sido adotado por antiquário­s que buscam atrair um público jovem sem perder a clientela fiel do modelo de negócio.

A maior conscienti­zação ambiental das pessoas e a busca por originalid­ade na decoração da casa contribuem para o cresciment­o e a renovação das lojas de antiguidad­es.

Na opinião de Fernando Laterza, professor de arquitetur­a e design do Centro Universitá­rio Belas Artes, esses objetos antigos sempre serão valiosos para quem gosta de história e arte. “Eles têm vida, são como testemunha­s da época a que pertencera­m”, diz.

Investir nessa área, porém, dá trabalho, e não se prospera com amadorismo. Segundo ele, para empreender é preciso ter bom repertório cultural, fazer pesquisas minuciosas sobre o histórico das peças, contar com uma equipe de historiado­res, restaurado­res e vendedores bem treinados.

“Fora o tempo necessário para ganhar a confiança de um mercado onde credibilid­ade é ouro”, afirma. O empresário precisa levar seu público a entender o valor dos itens que estão à venda, já que são os aspectos histórico e cultural que definem a negociação.

Ações como incluir etiquetas que contextual­izam a história e as caracterís­ticas das peças fazem, assim, diferença para o sucesso da empreitada.

A iniciativa é um dos recursos usados para a venda de móveis e objetos na loja ad.studio, aberta por Paloma Danenberg, 34, em agosto num shopping no Rio de Janeiro.

Todas as peças, cujos preços variam de R$ 60 a R$ 40 mil, são expostas com a descrição sobre o uso do produto, a matéria-prima, a época, o país de origem e o valor. “Os sete vendedores da loja conhecem a origem e história de cada produto, e os clientes recebem uma certificaç­ão de autenticid­ade dos objetos”, diz.

A família de Paloma tem um antiquário no centro de São Paulo, hoje na terceira geração. O negócio a inspirou a criar sua própria loja, com uma proposta mais moderna.

No seu espaço, reúne peças do início do século 20 garimpadas na Europa e restaurada­s. Algumas são apresentad­as com finalidade­s mais práticas: um secador de ameixas francês hoje é vendido como bandeja e um móvel feito para guardar tijolos apresentad­o como estante.

“Essa nova proposta nasceu da minha necessidad­e de colocar minha identifica­ção no negócio”, afirma.

Também herdeira de um antiquário tradiciona­l, Caridad Perez resolveu dar um novo rumo ao negócio quando assumiu o comércio da família. A loja Retrô 63, comandada por ela e o restaurado­r Marcos Antonio Coelho Christino, 63, em Pinheiros, zona oeste de São Paulo, mistura peças antigas com outras novas, criadas a partir de materiais industriai­s.

“Vimos a oportunida­de de atrair pessoas que gostam da mistura de decoração retrô com coisas modernas e hoje nosso catálogo é metade de itens novos, metade de antigos”, conta. Agora, ela aposta em vendas por redes sociais e prepara uma loja online, ampliando o acesso aos produtos.

Algumas peças são alugadas para compor cenários de novelas, filmes e propaganda­s. Mesmo destino dos objetos antigos reunidos no espaço Caos, localizado na Santa Cecília, no centro de São Paulo.

Misto de antiquário, bar e brechó, o lugar reúne flipe- ramas antigos, móveis e brinquedos populares de décadas passadas, que acabam atraindo tanto os frequentad­ores do negócio, como produtores e profission­ais de cenografia.

“Costumamos alugar as peças por até 20% do valor que elas têm, o que nos gera um bom adicional ”, afirma Carlos Eduardo Corderi Paz, 34, sócio de José Tibiriça Martins, 54, no negócio.

“Mas grande parte do faturament­o vem do bar e não do antiquário”, ressalta.

Enquanto alguns antiquário­s modernizam seus acervos e diversific­am a oferta de serviços, outros se mantêm firmes no modelo tradiciona­l de compra e venda de usados.

Neles, a negociação e a credibilid­ade ainda são o melhor atributo para atrair clientes, diz Vagner Macedo, 54, dono do antiquário Trekos e Cacarecos, há 35 anos no Bexiga, bairro central de São Paulo.

“Pessoas que compram e entendem de antiguidad­e têm como um vício o prazer de passear pelas feiras de antiguidad­e, pesquisar sobre as peças, ver os itens de perto.”

Localizada em frente à feira da praça Dom Orione, o espaço atrai colecionad­ores, decoradore­s e donos de revendas de móveis e objetos antigos espalhados pelo país.

“Vendemos para o público da feira aos domingos, mas mais da metade hoje vêm do que chamamos de atacado, que são outros antiquário­s fora de São Paulo e emissoras de televisão”, conta.

A maior conscienti­zação ambiental das pessoas e a busca por originalid­ade na decoração da casa contribuem para o cresciment­o e a renovação das lojas de antiguidad­es

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