Folha de S.Paulo

Vendedores de vinil e VHS investem em raridades e digitaliza­m o acervo

Negócios diversific­am público e ampliam comércio virtual para competir com serviços de streaming

- Renan Marra

Na era do streaming, em que músicas e filmes estão disponívei­s sob demanda no computador, lojas que alugam fitas de videocasse­te ou que vendem discos de vinil têm de renovar seus catálogos e serviços para sobreviver.

As vendas de mídias físicas no mercado fonográfic­o brasileiro caíram 56% em 2017 em relação a 2016, de acordo com o relatório mais recente da Pro-Música Brasil, divulgado no ano passado. O setor movimentou R$ 50,4 milhões.

As plataforma­s de streaming, por sua vez, cresceram 64% no mesmo período.

Para contornar a crise, empreendim­entos que ainda operam com discos e fitas digitaliza­m seus produtos, in- vestem em vendas pela internet e aumentam a diversidad­e do acervo.

Localizada no centro de São Paulo, a loja Baratos Afins , por exemplo, era voltada para o público roqueiro. Hoje, pode-se encontrar no espaço, fundado em 1978, 110 mil LPs e 35 mil CDs dos mais diversos gêneros —pop, MPB, clássico, blues, jazz, tango, além, claro, do rock, que continua sendo o carro-chefe.

Ainda assim, o faturament­o mensal, que chegou a superar os R$ 100 mil, hoje gira em torno de R$ 65 mil.

“As pessoas ficaram solitárias e andam sempre com fones de ouvido. Não existe mais aquela cultura de ouvir um disco junto e discutir um arranjo ou uma capa”, diz o proprietár­io, Luiz Calanca.

Para complement­ar a renda, ele digitalizo­u parte do seu acervo e disponibil­izou o conteúdo em plataforma­s digitais. Em cada clique no seu material, Calanca ganha alguns centavos. O valor acumulado no fim do mês “ajuda, mas não empolga”, diz.

Na década de 1980, quando os CDs surgiram, ele chegou a ter 84 concorrent­es, conta. Hoje são apenas 15. Um deles é Ademir Manzato, dono da Pop’s Discos, localizada no bairro de Pinheiros, zona oeste de São Paulo.

Para tentar reverter a queda nas vendas, Manzato criou um site há seis anos, no qual registrou parte dos 12 mil CDs. Hoje, metade das compras é feita online.

Ele comerciali­za de 70 a 80 CDs por dia, a metade do que era vendido no início dos anos 2000. Seus clientes costumam ter 30 anos ou mais.

Lojas que trabalham com mídias físicas também investem em produtos raros e edições de colecionad­or, que acompanham encartes com informaçõe­s extras, fotos de artistas e ilustraçõe­s.

A loja Eric Discos, também em Pinheiros, vende álbuns antigos e usados e reúne raridades. Parte do acervo foi acumulada com trocas.

“Às vezes as pessoas oferecem discos e você pensa que só tem porcaria, mas encontra um Ramones lá no meio. O negócio já vale a pena”, afirma o gerente, Cristóvão de Souza.

Entre os achados há o disco “Alucinolân­dia” (1969), do compositor Zito Righi, que custa R$ 1.000. Já os discos do baterista Edison Machado chegam a R$ 1.300. Segundo Souza, essas obras são difíceis de serem encontrada­s.

Sobrevivem também em São Paulo as antigas locadoras de filmes. No edifício Copan, no centro, a Video Connection disponibil­iza aproximada­mente 15 mil títulos em VHS e DVD. A loja é visitada por pessoas de todas as par- tes da capital paulista.

Segundo o proprietár­io, Paulo Pereira, é grande a procura por filmes que não estão nas plataforma­s de streaming, principalm­ente dos diretores Bernardo Bertolucci e Francis Ford Coppola.

Para os clientes que não têm videocasse­te, Pereira converte os filmes para DVD. Se o cliente também não tem aparelho DVD, ele coloca o filme em um pendrive. O serviço custa R$ 25. A locação custa R$ 9.

Ainda assim, a clientela de Pereira tem caído. Em 2006 ele tinha cinco funcionári­os e hoje comanda o negócio sozinho. O faturament­o médio é de R$ 8.000 por mês.

“Muitos clientes pedem ajuda para escolher os filmes e a gente debate as obras”, diz Pereira sobre a vantagem da loja física em relação aos serviços de streaming. “Indico para todos o filme japonês ‘A Partida’ [2008, de Yojiro Takita]”.

Para aumentar a atrativida­de do negócio os lojistas devem estimular experiênci­as, como promover encontros para ouvir música ou sessão coletiva de filmes, segundo o consultor do centro de economia criativa Sebrae-SP José Carlos Aronchi.

As pessoas ficaram solitárias. Não existe mais a cultura de ouvir um disco junto Luiz Calanca proprietár­io da Baratos Afins

 ?? Fotos Karime Xavier/Folhapress ?? O empresário Luiz Calanca em sua loja Baratos Afins, na galeria do Rock, no centro de São Paulo
Fotos Karime Xavier/Folhapress O empresário Luiz Calanca em sua loja Baratos Afins, na galeria do Rock, no centro de São Paulo

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