Folha de S.Paulo

Loja que vende produto regional mantém aura de armazém antigo

- Valdir Ribeiro Jr.

Enquanto redes internacio­nais multiplica­m suas unidades no país, pequenos negócios apelam à produção regional e ao resgate da tradição para atrair clientes.

Nos últimos anos, afirma Karyna Muniz, consultora do Sebrae-SP, ganhou força no país um movimento de favorecer o comércio local, que vende produtos de procedênci­a conhecida que não são encontrado­s em qualquer loja.

“Existe um movimento internacio­nal de buscar fomentar um comércio justo e de incentivar pequenos empreended­ores. É um resgate do trabalho colaborati­vo. Temos atendido um crescente número de empresas que trabalham nesse sentido”, diz.

Pequenos negócios que se preocupam com a história daquilo que vendem —as famílias que o produziram, a sustentabi­lidade na produção— têm mais chances de se diferencia­r no mercado, opina.

Lilian Teodoro Lisa trouxe a sua experiênci­a familiar ao Empório Coisas de Minas, que abriu em São Paulo com produtos de seu estado de origem. Ela mudou-se de Muzambinho para a capital paulista em 2004, depois de se formar em farmácia. Filha de comerciant­es, sempre trazia na mala produtos de casa, que agradavam seus amigos.

Em 2013, resolveu empreender e abriu sua loja de produtos mineiros —exclusivam­ente mineiros— na Mooca. Até a água vem de lá.

Na primeira loja, com 25 metros quadrados, começou vendendo produtos para serem consumidos em casa. Depois de cinco meses, percebeu que muitos clientes queriam experiment­ar as comidas ali mesmo, dentro da loja.

Começou, então, a vender café e petiscos. Desenvolve­u um minicoador de pano para preparar a bebida exatamente como sua avó. “Porque essa é a proposta da loja: fazer um resgate do tradiciona­l.”

Lojas especializ­adas em produção regional devem ter um cuidado especial com a experiênci­a do cliente.

No caso do Empório Coisas de Minas, o ambiente remete a uma fazenda, com fogão a lenha e decoração feita com móveis antigos.

Em 2017, a loja virou uma rede de franquias, com cinco unidades. Em 2018, a empresa teve faturament­o de R$ 1,5 milhão. A primeira loja, na Mooca, hoje com dois andares de 80 metros quadrados, teve faturament­o mensal de R$ 85 mil no ano passado.

Para garantir a qualidade e a origem dos insumos, Lilian teve de estruturar um sistema de transporte próprio. “O custo do frete é caro e muitas transporta­doras não vão até algumas cidades por serem muito pequenas”, diz seu marido, Juliano Lisa, que tinha experiênci­a em logística.

O casal construiu um centro de recebiment­o e distribuiç­ão em Muzambinho que, uma vez por semana, envia mercadoria­s para São Paulo.

Dificuldad­e semelhante teve Fernando Souza, dono da loja É do Pará, que vende desde agosto de 2017 produtos típicos do estado na zona sul de São Paulo. Ele teve de montar uma rede de fornecedor­es com amigos e entidades de produtores de Belém.

É a sugestão que Karyna, do Sebrae, dá para quem quiser abrir uma loja de produtos regionais. “A logística impacta muito, por isso, é preciso buscar ajuda.” Contatos locais e associaçõe­s de produtores ajudam bastante na empreitada, diz.

Nos últimos anos ganhou força no país movimento que favorece comércio local, no qual se conhece procedênci­a dos produtos

 ??  ?? Lilian Teodoro Lisa em unidade da Empório Coisas de Minas em São Paulo
Lilian Teodoro Lisa em unidade da Empório Coisas de Minas em São Paulo

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil