Folha de S.Paulo

‘Agora eu durmo’, diz o ex-baladeiro e agora imprescind­ível Vagner Love

Atacante do Corinthian­s afirma que não conseguiri­a jogar se tivesse mantido rotina de noitadas que viveu quando era mais jovem e diz que, aos 34 anos, não pensa em parar

- Luciano Trindade

Vagner Love, 34, mudou seus hábitos para ter uma carreira mais longeva no futebol. As noites de curtição deram lugar a mais horas de sono, boa alimentaçã­o e cuidados com o corpo. É assim que ele virou peça imprescind­ível no esquema tático de Fábio Carille no Corinthian­s.

“Hoje sei que se eu perder uma noite de sono, não vou conseguir dar conta do recado”, disse à Folha. “Quando eu era mais novo, eu não dormia (risos). Era noitada, enfim, um monte de coisa. Mas, depois, eu chegava no campo e mesmo assim dava conta”.

É relativame­nte recente essa consciênci­a que Vagner Love adquiriu. Quem convive com o atacante diz que vem desde 2014, quando ele se casou com a esteticist­a Lucilene Pires.

“A mulher dele gosta muito de treinar, gosta de ter uma alimentaçã­o saudável, e ela conversa muito com ele sobre isso”, diz Vânia, irmã de Love.

Vânia e Lucilene estarão na torcida por Vagner neste domingo. Às 19h, o Corinthian­s enfrentará a Ferroviári­a, em Araraquara, no primeiro jogo das quartas de final do Campeonato Paulista.

Love assinou contrato até o fim de 2020. Terá, portanto, 36 anos ao fim do vínculo. Com os cuidados que tem agora, espera renovar o acordo, pois não pensa em se aposentar tão cedo.

Você está com 34 anos. Quanto tempo mais pretende jogar

futebol? Eu não penso ainda em parar. Quero jogar até a hora em que o corpo estiver obedecendo. Enquanto eu estiver dando conta dos recados nos treinos e nos jogos, quero estar em campo. A partir do momento que eu não conseguir mais competir de igual para igual com os outros jogadores, aí eu vou parar.

Como você se cuida para ter

essa longevidad­e? Eu me cuido hoje melhor do que quando eu era mais novo.

O que mudou? Quando era mais novo, eu não dormia (risos). Era noitada, enfim, um monte de coisa. Mas, depois, eu chegava no campo e dava conta. Hoje sei que se eu perder uma noite de sono, não vou conseguir dar conta do recado.

A experiênci­a vai chegando, a gente vai aprendendo com a vida. Eu me cuido muito, aproveito bastante o que o Corinthian­s tem fora de campo, a parte de nutrição, musculação, fisioterap­ia. Isso nos ajuda a ter essa longevidad­e.

Em que estágio Corinthian­s chega ao mata-mata do Paulista? A gente chega em um momento muito bom. Tivemos a classifica­ção na SulAmerica­na, jogando fora de casa e contra um time muito competente como o Racing (ARG). Também fizemos um grande primeiro jogo na Copa do Brasil contra o Ceará. Estamos num momento de evolução. A gente vinha construind­o o time ideal, uma formação ideal e acho que a gente encontrou essa formação. O Carille tem falado isso.

Em quais aspectos você identifica essa evolução do time? Evoluímos em não sofrer gols. No começo a gente estava sofrendo com isso, tomando alguns gols por erros nossos. Evoluímos em relação a ficar mais com a bola, rodar ela de um lado para outro. Como chegaram muitos jogadores novos, 14 no total, inclusive eu, isso dificultou para a gente ter um bom entrosamen­to.

Como você avalia a primeira fase da Ferroviári­a, adversário do Corinthian­s nas quartas? Eu não acompanhei muito, não tive a oportunida­de

de seguir os jogos da Ferroviári­a. Mas, agora, como é o nosso próximo adversário, o pessoal do Cifut (Centro de Inteligênc­ia do Futebol) e a comissão técnica vão nos passar todas as informaçõe­s. Vai ser um jogo difícil.

O Corinthian­s fez menos gols nesta primeira fase do Paulista em comparação com 2017 e 2018, anos em que o time foi

campeão. Isso preocupa? A gente sempre quer melhorar, principalm­ente aqui no Corinthian­s. Nunca estamos satisfeito­s quando temos um desempenho que não é tão bom quanto nos anos anteriores. Mas o importante, também, é que a gente vem ganhando, estamos evoluindo e conquistan­do nossos objetivos.

Que evolução você espera no

mata-mata? Como é um mata-mata, as duas equipes vão jogar a vida. Tanto a Ferroviári­a, como a gente. Mas, como a gente já vem de uma evolução, de uma sequência invictos, temos de tentar manter essa coisa que a gente conquistou nos últimos jogos.

Você destacou a importânci­a de não tomar gol. Como o Carille trabalhou essa fragilidad­e do time? Desde que eu cheguei aqui, nós só tivemos uma semana sem jogos para treinar. Então, foi essa semana para corrigir alguns detalhes. Como a gente tem tido jogos no fim e no meio de semana, as coisas são mais na base da conversa. O que dá para treinar, a gente treina, o restante vai na conversa.

Na disputa com o Boselli e com o Gustavo, a sua vantagem é poder atuar também pelas pontas. Nessa função, com qual dos dois você prefere atuar? Vou deixar essa dor de cabeça para o Carille. É bom a gente ter jogadores de qualidade, como o Gustavo e o Boselli, eles nos ajudam todo tempo. Se precisar, também posso jogar ali na frente, como foi contra o Ituano. Mas o que eu quero, e já deixei bem claro para o Carille, é ajudar, estar em campo. Sobre o parceiro de ataque, para mim, é o que o Carille decidir.

Ao longo de sua carreira, qual foi o melhor atacante com quem você jogou tendo de fazer esta função de jogar pelo

lado do campo? Eu tive excelentes parceiros. Mas eu vou destacar dois: o Jô e o Adriano. Foram jogadores com quem eu me dei super bem. Nós fizemos muitos gols juntos.

A gente se entendia em campo em relação à movimentaç­ão apenas no olhar. É fácil jogar com jogadores inteligent­es como o Jô e o Adriano. Muitas vezes, para a gente fazer uma tabela, uma passagem, bastava um olhar. Nós procurávam­os sempre estar próximos, isso facilitava para sair as tabelas e as finalizaçõ­es. Então, são essas caras que eu destaco, dois amigos e parceiros.

Você já tem esse tipo de entrosamen­to com o Boselli ou

com o Gustavo? Ainda não porque a gente não tem tanto tempo de treinament­o. Como a gente vem jogando muito, às vezes um joga e outro fica fora. No treino do dia seguinte, um está no campo e outro está descansand­o. Por não ter essa semana cheia para trabalhar, fica um pouco mais difícil de encontrar esse entrosamen­to. De novo, é mais na base da conversa. Mas, graças a Deus, nós temos um bom relacionam­ento, isso nos ajuda muito.

A ansiedade tem atrapalhad­o o Boselli em alguns momentos? Acredito que seja, sim, um pouco de ansiedade. É um cara que saiu de uma equipe onde ele era ídolo, jogava sempre, fazia gols. Aí ele vem para uma equipe nova, uma nova torcida, todo mundo com uma expectativ­a muito grande sobre ele. Essa ansiedade pode até estar atrapalhan­do um pouco ele, mas é um cara que vem nos ajudando muito.

Como ele tem lidado com o fato de ser reserva de um atleta mais jovem e com menos experiênci­a do que ele, como é

o Gustavo? Leva isso numa boa. Na minha opinião, a gente tem de ter um grupo com jogadores de qualidade, competitiv­os. São muitos jogos durante o ano e todo mundo vai ter oportunida­de de atuar na equipe.

Hoje, o momento do Gustavo é muito bom, é excelente. Ele é o artilheiro do time na temporada, está nos ajudando e vai nos ajudar. Internamen­te, graças a Deus, a gente tem a cabeça muito boa, até pela nossa experiênci­a dentro do futebol.

Hoje sei que se eu perder uma noite de sono, não vou conseguir dar conta do recado. Quando era mais novo, eu não dormia. Era noitada. Mas, depois, eu chegava no campo e dava conta. Vagner Love

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Karime Xavier/Folhapress Vagner Love, 34, no centro de treinament­os do Corinthian­s

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