Folha de S.Paulo

Witzel planeja teste de integridad­e de servidores sem efeito criminal

Governo do Rio prevê regulament­ar ato para flagrar prática de corrupção no funcionali­smo já neste ano

- Italo Nogueira

rio de janeiro O governo do Rio de Janeiro pretende regulament­ar ainda neste ano o teste de integridad­e para flagrar e demitir funcionári­os públicos corruptos.

O projeto de lei para definir as regras da prática vai prever, contudo, que as provas obtidas por esse meio não poderão ser compartilh­adas para fins criminais. A informação foi dada pelo secretário Bernardo Barbosa, responsáve­l pela Controlado­ria-Geral do Estado, em entrevista à Folha.

O teste de integridad­e fez parte das Dez Medidas de Combate à Corrupção propostas pelo Ministério Público Federal em 2016. Ele prevê o uso de agentes para flagrar ou até mesmo estimular um ato ilícito —como o oferecimen­to de propina— de funcionári­os públicos, a fim de identifica­r aqueles que seriam suscetívei­s a cometer um crime.

A prática, contudo, contraria a súmula do STF (Supremo Tribunal Federal) que proíbe o flagrante preparado de um crime.

Barbosa afirma que o teste terá apenas fins disciplina­res, com o objetivo de tirar dos quadros do poder público servidores flagrados em atos criminosos pelo teste. A vedação ao compartilh­amento da prova para fins criminais deve ficar expressa no projeto de lei.

“Eu me alinho com a doutrina de que, para fins criminais, não é permitido. Se aproxima muito do flagrante preparado. Uma coisa é a esfera administra­tiva, para retirar a carteira funcional. Outra coisa é um processo que pode culminar numa prisão, privar ele da liberdade”, disse o secretário.

O governo ainda estuda se a proposta vai prever o compartilh­amento para fins cíveis, como a propositur­a de ações por improbidad­e administra­tiva.

O teste de integridad­e foi promessa de campanha do governador Wilson Witzel (PSC). Integrou o discurso de crítica aos antecessor­es no Palácio Guanabara, dois dos quais presos por corrupção —Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão, ambos do MDB.

Barbosa afirma que espera contestaçõ­es jurídicas, mas considera haver brechas no STF para manter a norma em vigor no estado.

“A última palavra é do Supremo. É o que eu digo: qual Supremo vai analisar isso? Acho muito temerário, dentro dos padrões do Brasil, dizer que isso é inconstitu­cional. [...] Nós temos uma estabilida­de [das jurisprudê­ncias]? Se não temos, por que não ousar?”, disse o secretário.

A intenção da CGE é também evitar que os agentes sugiram o ato criminoso. Barbosa defende que o testador, inicialmen­te, tenha atitude passiva, aguardando o cometiment­o de um crime por parte do servidor investigad­o.

O secretário pretende que todos os testes sejam gravados com microcâmer­as escondidas para dispensar o depoimento do testador. Também prevê rotativida­de entre os agentes responsáve­is por essa modalidade de investigaç­ão, a fim de evitar a sua identifica­ção.

“Tem que ter uma rotativida­de. Posso inclusive selecionar servidores de outros órgãos para compor minha equipe por um tempo, depois ser devolvido. Precisa ter para, como se diz na Polícia Federal, não queimar o agente”, disse Barbosa, delegado federal.

Os testes serão feitos tanto de forma aleatória, para checar repartiçõe­s públicas, como dirigida, àqueles servidores que já foram alvo de denúncias pelo Disque-Corrupção, criado no início do ano.

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Philippe Lima - 13.ago.19/GOVRJ O governador Wilson Witzel (PSC) cumpriment­a policiais em Japeri (RJ)

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