Folha de S.Paulo

Carrancas é o novo destino de ecoturismo no sudeste do país

Com mais de 80 cachoeiras e poços que podem ser acessados por trilhas com diferentes níveis de dificuldad­e, a cidadezinh­a no sul do estado também oferece atrações históricas, arqueológi­cas e gastronômi­cas

- Divulgação

No sul de Minas Gerais, Carrancas é um paraíso pacato pouco explorado, que ainda recebe uma quantidade de visitantes desproporc­ional ao número de atrativos naturais que reúne.

Nos últimos cinco anos, o fluxo de gente de fora na cidade registrou um cresciment­o de 40%, segundo o Centro de Atendiment­o ao Turista. O serviço não consegue, entretanto, quantifica­r o total de pessoas que o município recebe anualmente, já que há dezenas de atrativos naturais dispersos pela região.

A Secretaria Municipal de Turismo credita essa recente expansão do setor de turismo na cidade à divulgação de suas paisagens em redes sociais e à exposição em novelas globais, como “Império”.

“Esse aumento representa um impacto positivo na economia local, mas também esbarra nos esforços da cidade para preservar suas belezas naturais”, pondera Leandro José de Oliveira, secretário municipal de Turismo, Cultura e Meio Ambiente de Carrancas.

Entre as medidas adotadas pela prefeitura para conservar o patrimônio natural carranquen­se estão a proibição da mineração e a criação de um programa de ecoturismo, que é uma parceria com a Universida­de Federal de Lavras.

A iniciativa, explica o secretário, prevê um estudo com diagnóstic­o da situação ambiental de todos os atrativos da cidade e um projeto que define a capacidade máxima de visitantes diários de cada um.

Faz sentido. Mirantes à beira de precipício­s enfileiram-se entre picos, chapadas e vegetação meio verde-ocre, meio amarelo-ouro do cerrado. Nos fins de tarde, reúnem os forasteiro­s que já descobrira­m o mais novo destino ecoturísti­co do sudeste do Brasil.

Mas a cidade de apenas 4.000 moradores guarda mais segredos que um pôr do sol memorável para cada dia de viagem. Estima-se que abrigue pelo menos 84 poções e cachoeiras, todos acessíveis por trilhas que adentram pelas matas ciliares e pelos campos rupestres.

Em períodos sem chuva e a depender da incidência da luz solar, as águas transparen­tes ganham tons de verde que impression­am.

Não bastasse esse farto pacote aquático, adicionam potência a Carrancas os marcos da Estrada Real dentro de seu território, as fazendas centenária­s e uma gastronomi­a que começa a se sofisticar, sem jamais perder a ternura caipira do fogão a lenha.

A 290 km de Belo Horizonte e 430 km de São Paulo, Carrancas foi fundada por bandeirant­es durante o ciclo do ouro, em 1713.

Encravada no Caminho Ve

lho da Estrada Real, que ligava Ouro Preto à fluminense Paraty, a cidade faz uma dobradinha redonda com a cultural e histórica Tiradentes, que está distante 94 quilômetro­s.

De cinco anos para cá, o antigo povoado de Carrancas vem se inserindo no mapa das escapadas para casais, famílias, adeptos de trekking e fãs da santa trindade retiro nas montanhas-relax em águas revigorant­es-comida gostosa.

Carrancas virou uma alternativ­a “raiz” a Capitólio, sua conterrâne­a tomadas pelas massas de ecoturista­s e aventureir­os.

Como tem, literalmen­te, centenas de atrações naturais, nove complexos foram criados, agrupando cachoeiras, lagoas, poços, escorregad­ores e cânions: Zilda, Grão Mogol, Tira Prosa, Ponte, Toca, Fumaça, Onças, Vargem Grande e Serra do Moleque (parte da Zilda comprada e transforma­da em parque, aberto no ano passado).

Problema bom é definir um roteiro. Converse com os carranquen­ses, de nascimento e RG ou por opção —há muitos paulistano­s e alguns cariocas nesse segundo grupo—, e cada um dará sua resposta particular à relevante pergunta: afinal, entre as mais de 80 candidatas, qual a cachoeira mais bonita do pedaço?

Um “top 5” informal levantado durante seis dias na cidade traz Guatambu, Zilda, Esmeralda, Salomão e Grão Mogol. A elas, então.

Unanimidad­e no quesito “não pode faltar na viagem”, o Complexo Vargem Grande fica a 9 quilômetro­s do centrinho de Carrancas por estrada de terra (R$ 5 o estacionam­ento; não cobra taxa de visitação). Seguindo uma trilha leve, de meia hora, chegase a um dos tesouros da região: a cachoeira da Esmeralda, cuja cor das águas faz jus ao seu nome no período entre 11h e 13h.

O caminho pode ser mais marcante que o destino, certamente, mas aqui ele prepara num crescendo o terreno para o “gran finale”.

Poços como o Três Irmãos, o Beija-Flor e o Louva Deus surgem em meio à beleza árida do cerrado (o município está em zona de transição entre este bioma e a mata atlântica).

A 12 quilômetro­s do centro, o Complexo da Zilda tem muito o que ver e aproveitar, como o escorregad­or da Zilda, a cachoeira dos Índios e as pinturas rupestres gravadas ali há cerca de 3.500 anos.

É curioso estar no local e tentar voltar no tempo.

O Sítio Arqueológi­co Lapa da Zilda foi criado recentemen­te com o objetivo de conservar o local e garantir o acesso tanto de pesquisado­res quanto de visitantes.

O turista paga R$ 5 para deslizar pelo escorrega natural do complexo, mas as demais atividades por ali são gratuitas.

Aventureir­os vão curtir a Racha da Zilda (R$ 20 de taxa), mas a visita, neste caso, exige a companhia de um guia.

Você vai mergulhar no poço Sonrisal e atravessar a nado um cânion estreito até desembocar em uma secreta queda d’água.

Duas outras quedas d’água favoritas dos frequentad­ores estão no vizinho Parque Serra do Moleque, cujo ingresso custa R$ 25: a cascata da Zilda em si, com prainha e bastante espaço para banho, e a linda Guatambu.

Essa última cachoeira fica escondida entre a mata e os paredões de pedra e recebeu o apelido muito adequado de “paraíso perdido”. O desfrute desse éden, porém, demanda uma caminhada de nível intermediá­rio. De acesso difícil, o Complexo Grão Mogol conserva piscinas naturais muitas vezes desertas (entrada a R$ 15). Já o da Ponte, a 2 quilômetro­s da cidade, cobra uma taxa de visitação de R$ 5, enquanto oferece trilhas bem tranquilas e uma série de cinco poços e cachoeiras de águas cristalina­s. Não perca a do Salomão.

Um mergulho é a melhor recarga de bateria para o espetáculo do fim do dia: o sol se pondo, visto do topo de uma das serras que emolduram a cidade de Carrancas.

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Cachoeira da Esmeralda, assim batizada por conta do tom que a água adquire em certa hora do dia, localizada a 8 quilômetro­s do centro urbano de Carrancas
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Divulgação Crianças no acesso à Cachoeira da Fumaça, que fica a 3 km do centro de Carrancas (MG); é um complexo com várias cascatas, uma queda principal de 15 m de altura e piscinas naturais ao redor
 ?? Débora Yuri/Folhapress ?? Igreja Matriz no centrinho tranquilo do município de Carrancas, no sul de Minas
Débora Yuri/Folhapress Igreja Matriz no centrinho tranquilo do município de Carrancas, no sul de Minas
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