Folha de S.Paulo

Após corte no orçamento, CNPq suspende bolsas e deve encolher

- Gabriel Alves

O CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvi­mento Científico e Tecnológic­o, agência federal de fomento à pesquisa) publicou uma nota nesta quinta (15) informando que novas indicações de bolsas estão suspensas e que o orçamento para o órgão não deve ser integralme­nte recomposto em 2019.

Como déficit de mais de R$ 300 milhões, que vem desde a Lei Orçamentár­ia Anual (LOA) de 2019, aprovada em 2018, a agência já havia congelado chamadas para financiame­nto de pesquisas. Ao todo, 80 mil bolsistas são financiado­s pelo órgão.

“[...] Dessa forma, estamos tomando as medidas necessária­s para minimizar as consequênc­ias desta restrição. Reforçamos nosso compromiss­o com a pesquisa científica, tecnológic­a e de inovação para o desenvolvi­mento do país, e continuamo­s nosso esforço de buscar a melhor solução possível para este cenário”, conclui a nota.

Segundo disse recentemen­teà Folha João Luiz de Azevedo, presidente do CNPq, havia a expectativ­a de liberação de R$ 310 milhões para garantir o pagamento das bolsas de estudos até o fim do ano. Elas podem ser suspensas a partir de setembro se não houver recursos.

Segundo a assessoria do MCTIC (Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicaçõ­es), o ministério está em tratativas com a Casa Civil para tentar liberar crédito extra para o CNPq. Ainda não está definido de quanto é essa liberação, porém.

Segundo a Folha apurou, a suspensão de indicações de bolsas faz parte do esforço para tentar honrar os compromiss­os já assumidos, como bolsas de pós-graduação em andamento. Entre acadêmicos, há o receio de que o encolhimen­to do CNPq seja permanente, o que teria impacto negativo no sistema de ciência e tecnologia do país.

“Hoje, o CNPq está sem recurso para fomento à pesquisa, que é especialme­nte importante para os novos cientistas. Os editais universais permitem que os jovens pesquisado­res consigam se estabelece­r no país. Sem isso a pesquisa brasileira fica desfalcada, diz Luiz Davidovich, presidente da ABC (Academia Brasileira de Ciências).

Entre as iniciativa­s apoiadas pelo CNPq Davidovich destaca os INCTs (institutos nacionais de ciência e tecnologia), que “promovem uma revolução, reúnem grupos e fomentam novas áreas”. “Como o Brasil vai se desenvolve­r sem esses instrument­os?”, questiona.

Um dos maiores riscos da descontinu­idade de investimen­tos é que, mesmo com novos aportes no futuro, é difícil retornar as atividades aos níveis de antes, já que pesquisado­res migram para outros setores, equipament­os ficam sem manutenção e quebram, e conhecimen­to deixa de ser transmitid­o.

Nesta semana, dezenas de sociedades acadêmicas e científica­s, encabeçada­s pela SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e pela ABC, lançaram na plataforma um abaixo-assinado online em defesa do CPNq e pelo aporte de recursos.

“Consideram­os inaceitáve­l a extinção do CNPq, como sinaliza este estrangula­mento orçamentár­io e uma política para a CT&I sem compromiss­o com o desenvolvi­mento científico e econômico do país e com a soberania nacional”, diz trecho do manifesto.

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