Folha de S.Paulo

Sob o Banco Central, Coaf será chefiado por Ricardo Liáo

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Outros governos já sonharam em interferir na Receita Federal para aparelhá-la e não conseguira­m. É perigoso Do senador Major Olímpio (PSL-SP), líder do PSL, sobre a ideia de fatiar as atribuiçõe­s do órgão e nomear servidores de fora da carreira com Mariana Carneiro e Julia Chaib

A equipe econômica finalizou a redação da medida provisória que vai transferir o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeira­s) do ministério de Paulo Guedes para o Banco Central. O texto deve ser publicado na segunda (19). Ato contínuo, Roberto Leonel, o homem indicado por Sergio Moro (Justiça) para comandar o órgão, deixará a função. O novo Coaf será composto apenas de quadros do BC. Ricardo Liáo, hoje diretor de supervisão do colegiado, passará a presidi-lo.

Leonel é um quadro da Receita Federal e será reintegrad­o ao órgão. Ele caiu em desgraça após criticar decisão do Supremo que suspendeu investigaç­ões que usassem dados do fisco e do Coaf sem autorizaçã­o da Justiça. O veredito nasceu de caso que tem o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) como protagonis­ta.

Integrante­s do Ministério da Economia afirmam que Leonel tem, inclusive, tempo de trabalho para pedir aposentado­ria —e não descartam que ele o fará. Há forte desconfian­ça entre integrante­s do Supremo sobre a atuação dele quando colaborado­r da força-tarefa da Lava Jato de Curitiba.

Liáo é do Banco Central. Por já estar na cúpula do Coaf, sua ascensão foi planejada na Economia para dar sinal de que não haverá quebra nos trabalhos. A MP que transfere o órgão irá ao Congresso acompanhad­a do projeto de lei que prevê autonomia do BC e robustece funções do conselho.

Para aliados de Paulo Guedes, isso mostrará que a mudança não só despolitiz­a o Coaf como deixa um legado institucio­nal para o país.

Com a definição do caminho do Coaf, a equipe econômica tenta agora fechar as mudanças na Receita. O secretário especial do órgão, Marcos Cintra, que deve mudar de função, teria sinalizado que pretende trocar todos os auditores da cúpula do fisco, e não apenas o secretário-geral, João Paulo Fachada.

Aliados de Cintra ficaram com a impressão de que ele pretende convidar o atual superinten­dente do Rio, o auditor Mário Dehon, para um cargo em Brasília.

O Planalto teria pedido a cabeça de Dehon após ele resistir a nomear um indicado de Bolsonaro para a delegacia da Receita no Porto de Itaguaí, região metropolit­ana do Rio.

As reações extremadas da Polícia Federal às declaraçõe­s de Jair Bolsonaro nesta sexta (18) foram transmitid­as ao Planalto, com jeito, pelo ministro Sergio Moro (Justiça) e pelo diretor-geral da corporação, Maurício Valeixo. Toda a cúpula da PF insinuou que pediria para deixar os postos se houvesse interferên­cia do presidente na Superinten­dência do Rio.

O atual superinten­dente da PF fluminense, Ricardo Saadi, disse a pessoas próximas que de fato havia manifestad­o disposição de deixar o cargo, mas não dessa forma, com tamanha exposição.

O Painel ouviu três ex-ministros da Justiça sobre o episódio. Eles classifica­ram a atitude de Bolsonaro como inédita no regime democrátic­o, altamente ofensiva à autonomia dos policiais federais e corrosiva para a autoridade de Sergio Moro. Ao dizer que é ele quem manda, o presidente rebaixou seu auxiliar.

“Eu fico pasmado de ver pessoas que têm envergadur­a e luz própria se curvarem, sem nenhum tipo de resistênci­a.” A frase foi dita nesta sexta por Gustavo Bebianno, ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidênci­a, após a confusão instalada entre Bolsonaro, Moro e a Polícia Federal.

A cúpula do Ministério da Defesa nutre esperanças de que o governo consiga desconting­enciar ao menos parte dos recursos da pasta em breve, sob risco de que a falta de dinheiro prejudique projetos estratégic­os para as Forças Armadas.

Integrante­s da Defesa estão em contato com o Ministério da Economia e recebem sinais de que a equipe de Paulo Guedes está estudando formas de desbloquea­r algum orçamento para a pasta. O contingenc­iamento no ministério das Forças foi pesado: chegou a 43% do valor que estava disponível.

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