Suposta funcionária fantasma no RN é assessora do Metrô
Influenciadora, filha de ex-governador nordestino teve bens bloqueados e nega irregularidades
Filha do ex-governador Robinson Faria (RN), Janine Faria foi contratada como assessora do Metrô de SP, com salário de R$ 14 mil.
Janine, que se diz influenciadora digital, é acusada de ter sido funcionária fantasma da Assembleia potiguar.
Fernando de Noronha numa quarta-feira de julho, Trancoso numa segunda de janeiro, Uberlândia numa quinta de março e Noronha de novo numa terça-feira de setembro.
Segundo o Ministério Público, durante ao menos cinco anos, esse era o padrão de viagens de Janine Faria, 33, filha do ex-governador do Rio Grande do Norte, Robinson Faria (PSD), e irmã do deputado federal Fabio Faria (PSD), enquanto deveria estar trabalhando na Assembleia Legislativa potiguar.
Hoje respondendo a uma acusação de improbidade administrativa por supostamente ter sido funcionária fantasma, Janine é uma das mais novas assessoras comissionadas do Metrô de São Paulo, com salário de R$ 14.212.
Seu emprego na estatal ligada ao governo João Doria (PSDB) foi aprovado por um diretor do Metrô e por dois secretários de Estado.
A defesa de Janine nega que ela tenha sido funcionária fantasma e diz que trabalha assiduamente no Metrô. Em nota, o Metrô disse não ter encontrado qualquer impedimento na lei para contratá-la.
Janine Faria se declara influenciadora digital —tem mais de 100 mil seguidores no Instagram.
Em decisão liminar, chegou a ter parte de seus bens bloqueados na Justiça potiguar para reparar as perdas do estado com os salários pagos a ela de 2011 a 2016.
Segundo o Ministério Público do Rio Grande do Norte, o prejuízo ao estado foi de R$ 704 mil, em valores atualizados. Os bens foram bloqueados para que, caso ela seja condenada, a Justiça consiga restituir as perdas.
Nesse período, Janine deveria ter como local de trabalho o gabinete do deputado estadual José Dias (ex-PSD e atualmente no PSDB) —que está em seu nono mandato no estado—, onde atuava como secretária parlamentar, com salário que variava de R$ 6.700 a R$ 8.100. José Dias também é acusado na mesma ação.
Apesar do emprego, os promotores verificaram que Janine tinha uma intensa rotina de viagens, incompatível com o trabalho na Assembleia. Algumas das provas das viagens foram publicadas nas redes sociais de Janine.
Os promotores levantaram ainda registros de saída e de entrada de Janine do país, que não batiam com seus meses de férias.
Seu sigilo de mensagens telemáticas foi quebrado e a investigação encontrou emails que evidenciavam compras de passagens aéreas, por exemplo, para passar seis dias em Salvador, nove dias na Europa, 17 dias em São Paulo, 23 dias em Uberlândia.
Os promotores levantaram mais de 30 viagens de 2011 a 2016 que, segundo a acusação, não condizem com a atividade de assessora parlamentar.
Enquanto estava empregada na Assembleia, Janine ainda fez o curso de direito numa faculdade que a obrigava a fazer aulas nos períodos da manhã e da tarde —o que também inviabilizaria o trabalho no órgão legislativo.
Em 2015, promotores fizeram diligências por sete dias para ver se Janine comparecia ao trabalho. Ela não apareceu. Novas buscas foram feitas seis meses depois, mas ela não foi encontrada.
Segundo o inquérito, ela ocupava seu tempo em academias de ginástica e indo a clínicas de estética, em horários flexíveis, às vezes no meio da tarde. Alguns desses tratamentos estéticos seriam feitos sob permuta, em troca de divulgação nas redes sociais.
Os promotores concluíram que ela nunca havia trabalhado na Assembleia, que agiu de má-fé e que vivia “como se sempre estivesse de férias”.