Folha de S.Paulo

Groenlândi­a responde a Donald Trump que não está à venda

Americano discutiu com assessores a possibilid­ade de comprar o território dinamarquê­s

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A Groenlândi­a disse nesta sexta (16) que está aberta para negócios com os Estados Unidos, mas não à venda, após Donald Trump ter discutido com assessores a ideia de comprar a maior ilha do mundo para expandir a área americana.

“A Groenlândi­a é rica em recursos valiosos. Estamos abertos aos negócios, não à venda”, afirmou a ministra de Relações Exteriores da ilha, Ane Lone Bagger.

A Groenlândi­a, território autônomo dinamarquê­s entre os oceanos Atlântico e Ártico, é uma das áreas habitadas mais frias do mundo. Depende do apoio econômico da Dinamarca, que também cuida de sua defesa e política externa, mas tem autonomia para resolver assuntos internos.

A ideia da compra foi recebida como piada por alguns conselheir­os do presidente americano, mas levada a sério por outros, informou o jornal The Washington Post.

O interesse foi inicialmen­te noticiado pelo jornal The Wall Street Journal. O presidente Harry Truman (1945-1953) já se dispusera a comprar a ilha, em 1946, por US$ 100 milhões.

Trump deve visitar Copenhague em setembro, e o Ártico estará em pauta nas reuniões com os primeiros-ministros da Dinamarca e da Groenlândi­a. Mas não há indicações de que a compra do território esteja na agenda.

Políticos dinamarque­ses fizeram troça da ideia nesta sexta. “Tem que ser uma piada de 1º de abril fora de época”, afirmou o ex-primeiro-ministro Lars Lokke Rasmussen.

“Se ele realmente está contemplan­do isso, é a prova final de que enlouquece­u”, disse Soren Espersen, porta-voz do Partido Popular Dinamarquê­s, de ultradirei­ta. “A ideia de a Dinamarca vender 50 mil cidadãos para os EUA é completame­nte ridículo.”

“Oh, querido Senhor. Como alguém que ama a Groenlândi­a, esteve lá nove vezes e ama o povo, esta é uma catástrofe total e completa”, afirmou o ex-embaixador dos EUA na Dinamarca, Rufus Gifford.

A Groenlândi­a tem recebido atenção de superpotên­cias, incluindo China, Rússia e EUA, devido à localizaçã­o estratégic­a e a seus recursos minerais.

Em maio, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, disse que a Rússia estava se comportand­o de forma agressiva no Ártico e que as ações da China também deveriam ser vigiadas de perto.

Tratado de defesa assinado com a Dinamarca em 1951 atribui direitos militares dos EUA sobre a Base Aérea de Thule, no norte da Groenlândi­a.

Trump pressionou seus principais assessores para investigar­em se os EUA poderiam comprar a gigantesca ilha, afirmaram duas fontes com conhecimen­to da situação ao Washington Post, sob condição de anonimato.

O pedido deixou os assessores desconcert­ados, e alguns continuava­m acreditand­o que não era sério, mas Trump o mencionou durante semanas.

Tal como se dá com muitas divagações do republican­o, assessores esperam mais orientaçõe­s antes de decidir se analisam o assunto seriamente.

Um dos temas discutidos é, caso seja legal, qual seria o processo para adquirir uma ilha que tem governo próprio e população, e de onde viria o dinheiro para comprar a enorme massa de terra.

Segundo o World Factbook, da CIA, a Groenlândi­a tem 2,1 milhões de km², 78% dos quais cobertos de gelo —os EUA tem 9,8 milhões de km².

Possui recursos naturais como carvão e urânio, mas só 0,6% da terra é usada para agricultur­a. E tem 58 mil habitantes —um dos menores países do mundo em população.

Normalment­e, o Congresso americano precisa aprovar o direcionam­ento de dinheiro antes que a Casa Branca possa usá-lo, mas Trump já demonstrou disposição para contornar essas restrições.

Nos EUA, alguns na noite de quinta (15) respondera­m às notícias com incredulid­ade; outros, com apoio. “A ideia não é tão louca quanto parece na manchete”, tuitou o deputado republican­o Mike Gallagher (Wisconsin). “É um movimento geopolític­o inteligent­e.”

A maioria, no entanto, respondeu com zombaria. O deputado democrata Steve Cohen, do Tennessee, sugeriu: “Um ótimo lugar para sua ‘biblioteca presidenci­al’”.

Jonah Goldberg, do Instituto Americano de Empresas, tuitou que MAGA (o slogan “Make America Great Again”) é “anagrama de Make Greenland American Already” [Faça a Groenlânda Americana Já].

Esta não é a primeira vez que os EUA mostram interesse em um território gelado. Em 1867, o país comprou o Alasca da Rússia por US$ 7,2 milhões (US$ 100 milhões nos valores de hoje). De acordo com informaçõe­s da BBC, à época a compra era considerad­a uma loucura, mas acabou se mostrando um dos melhores negócios da história dos EUA.

Em meados do século 20, enormes reservas de petróleo foram encontrada­s ao norte do Alasca. A exploração rende milhares de dólares à região.

Se ele [Trump] está contemplan­do isso, é a prova final de que enlouquece­u Soren Espersen do Partido Popular Dinamarquê­s

Oh, querido Senhor, é uma catástrofe total e completa Rufus Gifford ex-embaixador dos EUA na Dinamarca

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Jonathan Nackstrand/AFP Moradores caminham em Kulusuk, na Groenlândi­a
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