Folha de S.Paulo

Ações e reações

- Hélio Schwartsma­n helio@uol.com.br

A terceira lei de Newton estabelece que a toda ação correspond­e sempre uma reação oposta e de igual intensidad­e. Em alguma medida, isso vale também para apolítica.

Durante muito tempo, corruptos no Brasil foram deixados em paz. Mas eles extrapolar­am e, por uma série de razões que não cabe aqui comentar, surgiu areação oposta e de igual intensidad­e que ficou conhecida como Lava Jato.

Ao longo do último quinquênio, policiais, procurador­es e juízes envolvidos coma operação reinaram soberanos. A Lava Jato foi importante para o país: quebrou o paradigma da impunidade, mandando para a cadeia políticos e empresário­s que estavam no centro do poder.

A turma da Lava Jato, contudo, também cometeu seu quinhão de abusos. Nada comparável aos crimes que enfrentou, mas são irregulari­dades que, pela lei, não poderiam ter acontecido. Foram pegos, e isso estimulou um areação iguale contrária ques e consubstan­cia numa série de iniciativa­s como a aprovação da Lei de Abuso de Autoridade, em decisões judiciais que dificultam investigaç­ões e até na ideia de reestrutur­ar órgãos como Coaf e Receita. Nem todas as medidas são ruins.

Uma nova lei para coibir o abuso de autoridade­s era necessária havia muito. A que está em vigor é dos tempos da ditadura. O projeto aprovado, embora longe do ideal, tem mais pontos positivos do que negativos.

Mais complicada é a liminar do STF que suspendeu processos e inquéritos baseados em informaçõe­s “detalhadas” fornecidas pelo Coaf. Minha impressão, porém, é que ela acabará sendo revista pelo plenário. A decisão foi mais um gesto de Toffoli para tornar-se credor dos Bolsonaros.

Seja como for, reações fazem parte da paisagem política e não necessaria­mente implicam a destruição da ação que as antecedeu. Na verdade, quando o jogo é bem jogado e os movimentos mais tolos são coibidos, o que costuma resultar desse processo são avanços institucio­nais.

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