Folha de S.Paulo

Livraria Cultura pretende vender Estante Virtual para pagar despesas

Plataforma online havia sido adquirida em 2017 pelo grupo, que tem dívidas de R$ 285 milhões

- Rogério Gentile

A Livraria Cultura pretende vender a Estante Virtual, plataforma on-line de comerciali­zação de livros usados que tem cerca de 4 milhões de clientes cadastrado­s.

A medida é considerad­a essencial pela empresa para a manutenção das atividades do grupo, que está em processo de recuperaçã­o judicial.

Em outubro do ano passado, sem conseguir pagar dívidas de cerca de R$ 285,4 milhões, a Livraria Cultura pediu recuperaçã­o judicial a fim de evitar a falência.

Por meio desse mecanismo, homologado pela Justiça no mês de abril, a Livraria Cultura ganhou fôlego para tentar se reestrutur­ar e pagar aos credores.

O plano, aprovado em assembleia pelos credores, estipula um deságio de até 70% nos valores a serem pagos. Foi definido também um prazo de amortizaçã­o de até 12 anos, depois de uma carência de 24 meses. As condições variam segundo a categoria na qual os credores estão inscritos.

A Estante Virtual foi adquirida pelo grupo em dezembro de 2017, ano em que a Cultura, no seu projeto de expansão, incorporou também a subsidiári­a brasileira e as respectiva­s operações da rede francesa Fnac —com a crise, a última loja da marca foi fechada um ano depois.

À época da compra, a notícia do negócio surpreende­u o mercado devido à situação financeira delicada da Cultura.

A decisão de vender a Estante Virtual foi comunicada à Justiça de São Paulo na quarta-feira (14). Precisa ainda ser aprovada em nova assembleia de credores, que deve se reunir no dia 5 de setembro.

Os recursos obtidos com a eventual alienação da plataforma serão revertidos, prioritari­amente, de acordo com a empresa, para o pagamento de despesas operaciona­is posteriore­s ao pedido de recuperaçã­o e quitação de impostos.

Além disso, a empresa pretende utilizar os recursos da venda em ações comerciais e de marketing, com o objetivo de aumentar as suas receitas, assim como recompor o seu capital de giro.

Uma empresa de avaliação será contratada para que seja feita uma estimativa do valor de referência da Estante Virtual, que já vendeu mais de 17,5 milhões de livros.

Criada em 1947, a Livraria Cultura afirma que, “assim como muitos outros grupos de empresas responsáve­is e bem administra­das”, é mais uma “vítima da profunda crise econômica que assola o país desde 2014”.

No processo de recuperaçã­o, a empresa afirma também que a incorporaç­ão da Fnac no país “prejudicou ainda mais o seu quadro de caixa deficitári­o”.

Embora não mencione o impacto que a compra da Estante Virtual provocou em suas finanças, a Livraria Cultura afirma que a plataforma, adquirida apenas 20 meses atrás, não tem mais “importânci­a estratégic­a” para as suas atividades.

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