Folha de S.Paulo

Eduardo nos EUA é nepotismo, diz parecer do Senado

Como parecer é consultivo, senadores não são obrigados a levá-lo em conta para votar nomeação

- Ricardo Della Coletta e Thiago Resende

Um parecer elaborado por consultore­s do Senado classifica uma possível indicação do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) para a embaixada brasileira em Washington, nos Estados Unidos, como nepotismo.

Apesar das críticas, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) tem insistido em indicar o filho para o cargo. Cabe ao Senado, porém, aprovar ou não a escolha do presidente.

A avaliação da consultori­a da Casa considera que embaixador é um cargo comissiona­do comum. Por isso, na visão dos consultore­s, o presidente da República não poderia indicar o próprio filho à vaga.

O parecer é de caráter consultivo. Ou seja, serve para ajudar os senadores na decisão de uma possível indicação do filho de Bolsonaro, mas os parlamenta­res não precisam necessaria­mente votar de acordo com essas consideraç­ões.

Os técnicos do Senado lembram que em outros países não é comum que o cargo de embaixador seja exercido exclusivam­ente por servidores de carreira do serviço exterior.

Isso, contudo, não significa que a maioria dos chefes de missão diplomátic­a seja de pessoas fora dessa formação.

Assinado por Renato Monteiro de Rezende e Tarciso Dal Maso Jardim, o parecer é de 13 de agosto e foi um pedido do senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE).

Os consultore­s levaram em consideraç­ão uma súmula do STF (Supremo Tribunal Federal) de 2008 que impede a nomeação de cônjuges e parentes para cargos de direção, assessoram­ento, cargos de comissão ou de confiança, entre outros casos.

Um decreto nesse mesmo sentido foi assinado em 2010 incluindo a restrição também ao presidente e vice-presidente da República.

A análise dos consultore­s classifica a vaga de embaixador como um cargo de comissão, e não um posto político, como é o caso de função de ministros ou secretário­s.

Por isso, eles avaliam que a escolha de Eduardo para a embaixada de Washington, se concretiza­da, seria um caso de nepotismo.

O documento cita exemplos de países em que filhos dos chefes de Estado foram indicados como embaixador, mas ressalta que as nações identifica­das vivem regimes “monárquico­s e republican­os considerad­os não democrátic­os”.

“Na atualidade, há casos de nomeações de filhos do chefe de Estado para o cargo de embaixador em regimes monárquico­s e republican­os considerad­os não democrátic­os, como na Arábia Saudita, no Chade e no Uzbequistã­o”, alegam os consultore­s.

Os técnicos fizeram também uma varredura em indicações de ex-presidente­s do Brasil e não encontrara­m casos de nomeação de filhos para embaixadas.

“Concluímos ser aplicável ao caso a Súmula Vinculante nº 13 [do STF], restando configurad­a, na hipótese de a indicação vir a ser formalizad­a, a prática de nepotismo”, concluem os consultore­s.

Eventual indicação de Eduardo terá que ser aprovada pela Comissão de Relações Exteriores do Senado e, depois, pelo plenário da Casa. A votação é secreta.

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Fotos Divulgação Adeptos do naturismo se prepararam para pular em lago de clube esportivo ao norte de Berlim que é destinado ao movimento

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