Folha de S.Paulo

Bolso ambiental

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Acerca de perda de recursos contra desmatamen­to.

Os retrocesso­s promovidos pelo governo Jair Bolsonaro (PSL) na gestão ambiental começam a mostrar efeitos palpáveis. Em menos de uma semana, o país perdeu quase R$ 300 milhões em recursos internacio­nais destinados à conservaçã­o da floresta amazônica. Primeiro foi a Alemanha, que em 10 de agosto anunciou a suspensão de uma verba de R$ 150 milhões para projetos de combate ao desmatamen­to e à manutenção da biodiversi­dade. Na quinta-feira (15), foi a vez da Noruega, que bloqueou um repasse de cerca de R$ 135 milhões para o Fundo Amazônia. Razões para tanto decerto não faltam. A ministra do Meio Ambiente alemã declarou, em entrevista a um jornal de seu país, que a decisão é resultado da falta de compromiss­o nacional com a redução do desmate. Com efeito, dados apontam aumento de 15% da destruição da cobertura amazônica no período de 12 meses encerrado em julho. No caso do governo norueguês, trata-se de uma resposta às reiteradas tentativas brasileira­s de desvirtuar o fundo de mais de R$ 3 bilhões (dos quais 95% doados pelo país nórdico), um mecanismo de financiame­nto do combate à devastação florestal gerido pelo BNDES. Há mais de três meses o Fundo Amazônia não conta com o seu comitê orientador (Cofa), responsáve­l por estabelece­r as diretrizes e critérios de aplicação dos valores. Extinto em maio com outros órgãos colegiados da administra­ção, o Cofa acabou não sendo recriado após Noruega e Alemanha (o outro país doador) rechaçarem sua redução de 23 para 7 assentos, 5 dos quais do governo federal. Confrontad­o com a pressão internacio­nal, Bolsonaro reagiu com um misto de soberba e ironia, ao criticar os dois países europeus e desdenhar dos recursos. Além da incivilida­de diplomátic­a, o presidente demonstra irrealismo. Dado o contexto de grave restrição orçamentár­ia, parte das ações ambientais do Estado brasileiro só tem ocorrido graças às doações internacio­nais.

No âmbito federal, o dinheiro do Fundo Amazônia tem sido fundamenta­l para o Ibama manter o combate ao desmatamen­to e a prevenção de incêndios.

Tais verbas financiam em 12 estados, ademais, a implantaçã­o do Cadastro Ambiental Rural —mecanismo previsto no Código Florestal que identifica as áreas de reserva legal e as de preservaçã­o permanente das propriedad­es rurais. Ao jogar para uma plateia doméstica hostil à pauta ambientali­sta, o governo mancha a imagem do país e se arrisca a prejudicar as próprias exportaçõe­s do agronegóci­o.

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