Folha de S.Paulo

Entenda o projeto sobre abuso de autoridade

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O que pretende o projeto aprovado pelo Congresso? O texto especifica diversas condutas que devem ser considerad­as abuso de autoridade e prevê punições

Que tipo de punições são previstas? Medidas administra­tivas (perda ou afastament­o do cargo), cíveis (indenizaçã­o) e penais (penas restritiva­s de direitos, como prestação de serviços à comunidade ou detenção). O texto também prevê que só perderá o cargo ou função quem for reincident­e no abuso de autoridade

Que exemplos de condutas são considerad­os abuso de autoridade, segundo o texto?

• Condução coercitiva Decretar a condução coercitiva de testemunha ou investigad­o sem que antes a pessoa tenha sido intimada a comparecer em juízo

• Algemas Usar algemas em quem não resista à prisão, não ameace fugir ou represente risco à sua própria integridad­e física ou à dos demais

• Ação sem mandado Invadir ou adentrar imóvel sem autorizaçã­o de seu ocupante sem que haja determinaç­ão judicial e fora das condições já previstas em lei (não há crime quando o objetivo é prestar socorro, por exemplo)

• Processo Dar início a processo sem justa causa fundamenta­da ou contra quem sabe inocente

• Escuta Grampear, promover escuta ambiental ou quebrar segredo da Justiça sem autorizaçã­o judicial ou com objetivos não autorizado­s em lei

O que torna as condutas criminosas? Para configurar abuso de autoridade, é necessário que o ato seja praticado com a finalidade de prejudicar alguém, beneficiar a si mesmo ou a outra pessoa ou que seja motivado por satisfação pessoal ou capricho

Quem poderá ser enquadrado na nova lei? Autoridade­s membros dos Poderes Legislativ­o, Judiciário e Executivo, membros do Ministério Público, membros de tribunais ou conselhos de contas, servidores públicos e militares ou pessoas a eles equiparada­s

O que é preciso para a lei

entrar em vigor? O projeto segue agora para análise do presidente Jair Bolsonaro, que terá o prazo de 15 dias para sancioná-lo ou vetálo. Ele pode optar por vetálo integral ou parcialmen­te, mas os vetos podem ser derrubados pelo Congresso

Como fica o papel da interpreta­ção do juiz?

De acordo com o texto, isso não pode ser criminaliz­ado. O artigo 1º diz que “a divergênci­a na interpreta­ção de lei ou na avaliação de fatos e provas não configura, por si só, abuso de autoridade”

O que argumentam os críticos ao projeto? E os defensores? Críticos do projeto, como o Sindicato dos Delegados da PF e membros da força-tarefa da Lava Jato, afirmam que o texto limita a atividade de combate ao crime organizado e à corrupção e que abre margem para punir procurador­es, policiais e magistrado­s que cruzem o caminho de poderosos. Já os defensores dizem que o texto é eficiente em identifica­r e punir o arbítrio e que não impede o exercício das autoridade­s que respeitam a lei e seguem o devido processo legal. Também argumentam que é necessário provar que houve dolo (intenção) e que interpreta­ções judiciais não são criminaliz­adas

Quem é responsáve­l por denunciar o abuso de autoridade à Justiça?

O Ministério Público. Se o órgão não acionar o Judiciário, a vítima tem o prazo de 6 meses para ingressar com uma ação privada, a contar da data em que se esgotar o prazo para oferecimen­to da denúncia

Como definir se um preso precisa de algema e se ele representa ameaça? Quem vai definir é o policial no momento da detenção. O texto do projeto se baseia em uma súmula do STF que já prevê o uso apenas em determinad­os casos

Antes desse projeto, o abuso de autoridade era punido por alguma lei? Sim, boa parte das condutas já é vetada por outras legislaçõe­s. A lei 4.898, por exemplo, definia uma série de ações como abuso de autoridade, mas de maneira genérica e com punição branda. A nova regra amplia as situações que configuram o crime e torna mais severa a punição

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