Folha de S.Paulo

PSL quer triagem para evitar membro ex-petista como candidato e dirigente

Segundo deputados, contudo, haverá espaço para filiados que de fato mudaram de ideologia

- Carolina Linhares

O programa de compliance do PSL, partido do presidente da República, Jair Bolsonaro, terá um sistema de controle para evitar que pessoas que no passado foram ligadas a siglas de esquerda sejam candidatas ou integrem diretórios regionais da legenda.

Reportagem da Folha mostrou que, segundo levantamen­to feito pela reportagem com base em dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), dos 271 mil filiados ao PSL, cerca de 10,6 mil (4%) já estiveram em siglas identifica­das com a esquerda, como PT, PDT, PSB, PSOL, PC do B, PCB, PSTU e PCO.

Já entre os 145 políticos que o PSL elegeu nas eleições de 2018, 78 deles estiveram em outras siglas no passado. Desses, 19 passaram por partidos de esquerda.

O compliance, comum no mundo corporativ­o, representa uma série de procedimen­tos e normas para assegurar a conduta ética. No PSL, a ideia é implementa­r o modelo nos próximos 15 dias.

No âmbito desse programa, haverá um sistema eletrônico para fazer uma triagem ideológica dos membros do PSL. O fato de terem sido de outros partidos não impedirá, porém, a filiação no PSL.

No caso da massa de filiados, que o presidente Luciano Bivar (PSL-PE) quer fazer chegar a um milhão até as eleições de 2020, a direção partidária não exercerá controle rigoroso.

Haverá regras, contudo, para aqueles que queiram se candidatar pelo PSL ou que façam parte dos diretórios do partido. Nesses casos, a triagem analisará dois fatores, segundo o deputado federal Luiz Philippe de Orléans e Bragança (PSL-SP).

Primeiro, não poderão estar filiados a outro partido que não o PSL (há casos de membros de diretórios filiados a outras siglas). Também não poderão ter sido filiados ou terem tido qualquer envolvimen­to com partidos de esquerda nos últimos cinco anos.

“Isso é uma medida de segurança. Porque o jogo [na última eleição] foi muito desleal, extremamen­te destrutivo. Não tem como reconcilia­r isso. A população também já não aceita mais esse trocatroca partidário, de sair de uma ideologia e ir para outra. A população está rigorosa, então temos que entregar um partido com essa mesma medida”, diz o deputado.

Isso não significa que aqueles que militaram na esquerda ou já foram simpatizan­tes dela não terão espaço no PSL. O partido avaliará caso a caso para preservar quem de fato mudou de ideologia.

O partido tem hoje uma série de parlamenta­res que já estiveram em siglas de esquerda, inclusive dois deputados estaduais que foram do PT.

Os deputados federais Coronel Tadeu (PSL-SP) e Soraya Manato (PSL-ES) e o senador Major Olímpio (PSLSP), por sua vez, têm passagens pelo PDT.

Outra regra, que vai valer para filiados, pré-candidatos e dirigentes partidário­s, é que não sejam condenados em segunda instância por crimes como estelionat­o, latrocínio, pedofilia, assédio sexual ou agressão à mulher.

A iniciativa de tornar o partido mais coerente e vinculado a sua base é patrocinad­a por Jair Bolsonaro. Foi a partir de uma reclamação do presidente sobre ataques a seu governo deferidos pela própria bancada do PSL que Bivar deflagrou a expulsão do deputado Alexandre Frota (ex-PSL-SP, agora no PSDB).

Em entrevista à Folha, Frota afirmou que o próprio Bivar lhe disse que Bolsonaro havia pedido sua expulsão.

“O Luciano Bivar, meu amigo pessoal, ficou entre a cruz e a espada”, disse o deputado.

Bivar e Bolsonaro têm tido discordânc­ias em relação à condução do partido.

O presidente não participou de eventos da campanha nacional de filiação que ocorreram no sábado (17).

Para a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), “a expulsão do Frota por ele ter sido contra a política presidenci­al [de Bolsonaro] indica que Bivar está caminhando para tornar o PSL um partido de direita efetivamen­te”.

Zambelli diz que o PSL tem espaço para críticas ao presidente, mas que Frota o fez de forma generaliza­da. “Criticar de forma generaliza­da é desaprovar a política ideológica”, afirma.

A deputada defende uma blindagem do PSL contra aqueles que defendem outros espectros ideológico­s, mas afirma que o partido deve dar espaço a quem “foi para o PT acreditand­o num discurso de honestidad­e e se decepciono­u”.

O deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança diz que a intenção da triagem é que o PSL siga adiante “dando uma purificada e evitando os oportunist­as”.

“Não adianta pregar ‘nós vamos ter um milhão’ [de filiados] e seja lá quem for, não é assim”, diz o deputado Tadeu. “Mas não pode ser um filtro binário. O próprio Datena [que era filiado ao PT] hoje odeia a esquerda. A esquerda tinha projeto e muita gente foi achando que seria bom, mas o tempo mostrou que era uma porcaria.”

O líder da bancada do PSL na Câmara, Delegado Waldir (GO), diz que o partido não fará caça às bruxas. “O PSL é democrátic­o, não temos essa intransigê­ncia eleitoral.”

A deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) diz que “o fato de a pessoa ter sido ligada a algum partido não é impediment­o por si só”.

“Tem que ver se a pessoa é a alinhada às pautas do PSL. Se chega dizendo que é conservado­ra, contra ideologia de gênero, pela escola sem partido, contra desarmamen­to, mas começa a defender outras coisas, aí não pode ficar no partido”, completa.

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Fotos Ricardo Matsukawa/Folhapress A deputada federal Joice Hasselmann discursa em evento do PSL para impulsiona­r filiações no estado de São Paulo
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Militante carrega bandeira entre bonecos infláveis de Bolsonaro e Luciano Bivar

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