Folha de S.Paulo

Rápido, intenso e agressivo

Rogério Ceni quer fazer no Cruzeiro o mesmo futebol mostrado pelo Santos

- Tostão Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina

Duas estreias esperadas devem acontecer hoje no Brasileiro, a de Daniel Alves, no São Paulo, no Morumbi, contra o Ceará, e a de Rogério Ceni, no Cruzeiro, no Mineirão, contra o líder Santos.

Rogério Ceni, além de ter sido um goleiro excepciona­l, revolucion­ário, é um profission­al perfeccion­ista, inteligent­e, autossufic­iente, visto por alguns como prepotente. Por sua história e pelo personagem, desperta, como técnico, avaliações apressadas e exageradas, positivas e negativas.

Ele é mais que um promissor treinador.

Ao chegar ao Cruzeiro, Rogério disse que quer um time rápido, intenso, agressivo. O time não tem essas caracterís­ticas. Quem tem é o Santos. O Cruzeiro se destacou, com Mano Menezes, por ser uma equipe segura, calculista. Quando recupera a bola, avança com prudência, lentidão e poucos jogadores. Muitas vezes, funciona bem, principalm­ente em jogos mata-mata e contra fortes adversário­s.

Rogério Ceni quer melhorar a saída de bola da defesa, deficiênci­a dos dois ótimos zagueiros e do goleiro Fábio.

Já o Santos gosta de pressionar, recuperar rapidament­e a bola e chegar ao gol, com muitos jogadores. É o que Rogério Ceni quer fazer. Isso aumenta os riscos. Se o Cruzeiro já atuar hoje dessa maneira, o jogo vai ficar emocionant­e e com muitas chances de gol, para os dois lados.

É preciso separar estratégia de jogo do sistema tático.

Todos os desenhos, na prancheta, podem ser ousados ou prudentes, ofensivos ou defensivos.

O Cruzeiro joga com dois volantes e um meia ofensivo pelo centro. Os volantes marcam, e o meia ataca. Quem sabe os volantes Henrique e Ariel, estimulado­s por Rogério Ceni, mostrem que têm condições de fazer algo a mais que desarmar e tocar a bola para o lado? Às vezes, Robinho, criativo e com bom passe, sai da direita para o centro, para ser o armador. Porém, ele não tem mobilidade para tanto, além de ter a função de marcar o lateral adversário.

Já o Santos joga com um volante e com um meio-campista de cada lado, que marcam como volantes e avançam como meias.

O Inter também joga assim. Se a equipe é compacta, não há necessidad­e nem espaço para ter apenas um meia de ligação, sem participar da marcação entre os dois setores. Grandes times, como Manchester City e Liverpool, não têm esse clássico meia.

Um time é igual a outro somente na prancheta. O Cruzeiro, com Rogério Ceni, será diferente do Santos, com Sampaoli, mesmo se o Cruzeiro formar um time intenso, rápido e agressivo, como é o Santos. O Santos não joga também como o Fluminense, como muitos falam.

O Santos gosta de chegar rápido ao gol, com muitos jogadores, enquanto o Fluminense prefere a troca curta de passes, desde a defesa.

O Palmeiras não é igual, na maneira de jogar, ao Liverpool, como teria dito Felipão. O time inglês chega ao gol trocando passes rápidos, enquanto o Palmeiras vive demais das bolas aéreas e das bolas longas.

Somos todos diferentes. Ainda bem. Salve a diversidad­e.

O Brasil não tem hoje substituto­s à altura dos enormes talentos de Thiago Silva, Daniel Alves e Marcelo. Isso me preocupa. Os três, que estão, há muito tempo, entre os melhores do mundo em suas posições, correm muitos riscos, pela idade, de não estarem bem no próximo Mundial. Isso enfraquece­ria a qualidade da seleção.

Uma das principais razões de o Brasil ter sido eliminado na Copa da de 2018 foi não ter mais um ou dois craques do meio para a frente ao lado de Neymar, do nível de um Hazard, um De Bruyne.

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