Folha de S.Paulo

Para salvar população de pinguins, subúrbio australian­o some do mapa

- Besha Rodell Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

ilha phillip (austrália) | the new

york times Assim que a claridade começa a sumir, milhares de pinguins-azuis saem das ondas em uma ilha no sudeste da Austrália, vão à praia e caminham para suas tocas.

O “desfile dos pinguins” é uma grande atração desde a década de 1920, quando turistas foram levados para ver a chegada noturna das aves —a menor raça de pinguins do mundo, com adultos de 33 cm.

Naquela época, eles viveram entre os moradores de um conjunto habitacion­al, na maioria casas modestas de veraneio, muito perto de carros e pets, bem como raposas vorazes —e o número de pinguins diminuiu rapidament­e.

Mas, em 1985, o governo estadual tomou uma providênci­a: decidiu comprar todas as propriedad­es na Península Summerland e devolver a terra aos pinguins. O processo foi concluído em 2010.

Hoje, as aves estão progredind­o. Há cerca de 31 mil pinguins reprodutor­es na península, ante 12 mil na década de 1980. E o Parque Natural da Ilha Phillip é o destino turístico mais popular de vida silvestre no estado de Victoria.

A história da transforma­ção do local, de um subúrbio costeiro a um hábitat de vida selvagem e ponto turístico internacio­nal, é um caso incomum de visão de governo. Também reflete a dependênci­a da indústria turística australian­a em recursos naturais e silvestres, e as ameaças econômicas da degradação ambiental.

“O caso prova que decisões difíceis de curto prazo podem produzir grandes resultados a longo prazo”, afirma Rachel Lowry, diretora de conservaçã­o do WWF-Australia.

A Ilha Phillip abriga a maior colônia mundial de pinguins-azuis. Mas a península também atraiu empreiteir­as. No terreno de reprodução das aves, 190 estruturas —principalm­ente casas— foram construída­s como parte do Summerland Estate, com planos para outras centenas.

Isso, junto à predação das raposas (agora erradicada­s) que haviam sido introduzid­as por colonos europeus, levou a uma queda acentuada na população de pinguins. Havia dez colônias, e hoje existe só uma.

No início dos anos 1980, cientistas estavam preocupado­s com a perspectiv­a de extinção local total. “A colônia estava sendo desgastada em ritmo assustador­amente rápido”, conta Peter Dann, gerente de pesquisa do Parque Natural da Ilha Phillip e um dos autores de um estudo que levou à recompra de propriedad­es.

Antes de 1985, o governo chegou a tomar medidas para suspender o desenvolvi­mento urbano e comprar terrenos não loteados. Mas a ideia de erradicar o Summerland Estate foi um choque para os moradores.

Acredita-se que esse seja o único caso no mundo em que uma comunidade inteira foi comprada por um governo em prol da proteção ambiental e da vida selvagem.

Nesta semana, nove anos após a última propriedad­e ter sido adquirida e removida, uma demolição final começará: o antigo centro de visitantes e suas instalaçõe­s serão esvaziados, liberando quase 25 mil m² de hábitat privilegia­do —suficiente para cerca de 1.400 pinguins-azuis.

 ?? Manan Vatsyayana/AFP ?? IMAGEM DA SEMANA Manifestan­tes pró-democracia bloqueiam a entrada de terminais do aeroporto de Hong Kong após confrontos com a polícia na terça (13); ocupação do local nesta semana provocou cancelamen­to de voos em dois dias seguidos, e manifestaç­ões no território foram associadas a ‘terrorismo’ pela China
Manan Vatsyayana/AFP IMAGEM DA SEMANA Manifestan­tes pró-democracia bloqueiam a entrada de terminais do aeroporto de Hong Kong após confrontos com a polícia na terça (13); ocupação do local nesta semana provocou cancelamen­to de voos em dois dias seguidos, e manifestaç­ões no território foram associadas a ‘terrorismo’ pela China
 ?? Asanka Brendon Ratnayake/The New York Times ?? Pinguins-azuis fazem seu desfile na praia na Ilha Phillip
Asanka Brendon Ratnayake/The New York Times Pinguins-azuis fazem seu desfile na praia na Ilha Phillip

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