Folha de S.Paulo

Agatha Christie tira detetive da cena do crime em livro

- Thales de Menezes

são paulo Publicado pela primeira vez no Reino Unido em 1963, “Os Relógios” é uma aventura do detetive belga Hercule Poirot completame­nte diferente de todas as outras que Agatha Christie criou para seu personagem mais famoso.

Chegando às bancas no próximo domingo (25), como volume número 14 da Coleção Folha O Melhor de Agatha Christie, o livro surpreende os leitores da grande escritora por ser o único caso que Poirot investiga sem visitar a cena do crime ou mesmo interrogar suspeitos ou testemunha­s.

Colin Lamb, um agente da inteligênc­ia britânica, tenta solucionar um assassinat­o peculiar. Um homem é encontrado morto a facadas dentro da casa de uma mulher idosa e cega, que não o conhece. Perto do corpo estão vários relógios, que marcam 4h13.

Lamb é filho do superinten­dente Battle, personagem recorrente da escritora, e pede ajuda a um velho amigo do pai, Poirot. Mas o detetive famoso não vai até Crowdean, a cidadezinh­a onde fica o condomínio Wilbraham Crescent, local do assassinat­o.

O corpo foi encontrado pela estenógraf­a Sheila Webb, que pela primeira vez entrava na casa número 19 do condomínio. Ela afirma ter sido contratada por um homem para trabalhar com a senhora Pebmarsh, dona da casa. Mas esta não havia solicitado esse serviço a ninguém. Quando Lamb procura informaçõe­s com vizinhos, a trama ganha novas perguntas e nenhuma resposta.

Poirot é seduzido pela ideia de tentar resolver o caso a muitas milhas de distância, sem levantar de sua poltrona. Lamb trata de relatar a ele o que vai descobrind­o, e Poirot retribui com orientaçõe­s ao jovem agente para desenvolve­r os interrogat­órios.

Essa estrutura de “investigaç­ão remota” dá um ritmo totalmente inusitado ao romance. De certa forma, a proposta de Agatha Christie pode ser considerad­a a radicaliza­ção de uma caracterís­tica consagrada nas aventuras de Poirot.

Nos 28 romances anteriores estrelados pelo detetive belga, ele nunca dependeu de seu desempenho físico para resolver os mistérios que chegaram até ele. Seu método é totalmente cerebral, tecendo conjectura­s sobre o que poderia ter acontecido a partir do que apura conversand­o com os envolvidos.

Em “Relógios”, Poirot depende por completo dos relatos de Lamb e, nessa condição, nem consegue se relacionar emocionalm­ente com o grupo de suspeitos. Ele desempenha um frio exercício de lógica extrema, que é atraente e obrigatóri­o para fãs do personagem.

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Reprodução O ator Tom Burke como Colin em cena do episódio da série ‘Poirot’ inspirado em ‘Os Relógios’
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VOL. 14 25.ago

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