Folha de S.Paulo

Bom plano para atuar fora inclui reserva de até 40% do faturament­o

- Valdir Ribeiro Jr.

Pequenos negócios que erram na primeira tentativa de internacio­nalização dificilmen­te voltam a ter condições financeira­s para repetir o processo em pouco tempo. Por isso, é essencial tomar mais cuidados do que ao montar um plano de negócios comum.

Até descobrir qual é o investimen­to necessário para entrar em um mercado estrangeir­o será preciso estudar não só os custos de operação, mas todas as particular­idades jurídicas e tributária­s que o outro país possui.

“Os mercados de Estados Unidos e Europa, por exemplo, exigem investimen­to mais alto, porque todos pensam em expandir para lá. Às vezes, será que não vale estudar outros mercados?”, diz Thiago Farias, consultor do Sebrae-SP.

Os cálculos do investimen­to devem levar em consideraç­ão o capital de giro necessário para manter o negócio ativo durante o período de maturação, até que seja possível atingir o ponto de equilíbrio, quando despesas e receitas somadas se anulam e o negócio está se pagando.

Parte do plano financeiro deve prever uma margem que permita à empresa ter espaço para correção de rota em caso de imprevisto­s.

“O empreended­or está entrando em um país diferente, que tem cultura, burocracia, legislação e costumes próprios. Não tem como não errar em algum ponto”, diz José Vinicius Bicalho, sócio da Bicalho Consultori­a Legal, com experiênci­a em negócios internacio­nais.

Segundo Bicalho, não existe uma fórmula pronta para calcular essa sobra: varia dependendo do setor da empresa, do tipo de produto oferecido e do país escolhido. “O que nós sugerimos, normalment­e, é um acréscimo de 30% a 40% do valor calculado como orçamento para a implantaçã­o do negócio no exterior”, diz.

Foi o que fez a Funeral Air Internatio­nal. A empresa presta há 12 anos serviços funerários de transporte de corpos, com quatro unidades no território brasileiro e uma nos Estados Unidos, inaugurada neste ano.

Os planos para investir em uma unidade fora do Brasil começaram em 2016, quando a empresa participou de uma feira nos Estados Unidos, conta o empresário Leandro Santos.

“Fiz uma pequena divulgação e comecei a atender um público brasileiro que queria sepultar seus parentes falecidos no Brasil”, diz.

Seus serviços foram ficando mais conhecidos e, com o aumento da demanda, decidiu abrir uma unidade lá. “Passei a separar parte do faturament­o para isso, na ordem de 20% a 30%”, diz.

Para ingressar no mercado americano é preciso apresentar um planejamen­to com o valor da reserva financeira. Isso fez com que Santos tivesse, desde o início, um número na cabeça.

Em sua opinião, ter essa economia ajudou o negócio a se proteger das variações cambiais, que podem resultar em um gasto extra.

O dólar foi uma das principais preocupaçõ­es de Gustavo Aquino, dono da Sabor das Índias, empresa que fabrica e exporta molhos, patês e conservas, em seu processo para tornar um exportador, iniciado há seis anos.

Para lidar com a flutuação do real em relação à moeda americana, Aquino começou a operar com uma margem de segurança de 10%.

“Se o dólar equivale a R$ 4, por exemplo, faço meus cálculos de venda contando que ele pode cair até R$ 3,60. Para qualquer variação nessa margem, estou preparado.”

Existem outras maneiras de se proteger da variação cambial. Uma delas é manter uma conta fora do país com um capital de reserva na moeda estrangeir­a. Assim, o empresário sempre tem um montante de dinheiro que não sofre com as variações.

Embora a oscilação cambial possa ser ruim no início, ela pode ser vantajosa quando a empresa está madura, diz Afonso Antunes, consultor da empresa especializ­ada em internacio­nalização Market Access.

Nesse caso, os produtos brasileiro­s ficam competitiv­os no exterior se o dólar aumenta. E, se o real valoriza, o benefício se inverte: a operação em moeda nacional fica mais barata.

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Karime Xavier/Folhapress Leandro Santos, dono da Funeral Air Internatio­nal, em unidade da empresa em SP

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