Folha de S.Paulo

Exportação ajuda loja virtual a faturar mais gastando menos

Dá para aproveitar estrutura já existente para vender em vários países, manter custo estável e tirar partido do câmbio

- Olívia Fraga

A venda de produtos via internet vem aumentando no Brasil: segundo o PayPal, há mais de 900 mil lojas virtuais no país e, do ano passado para cá, o número de unidades abertas cresceu 40%.

Mas o Brasil está longe de atingir seu potencial exportador. “Há muito espaço disponível para produtos nacionais se posicionar­em mundo afora”, afirma Xavier Aguirre, gerente de negócios sênior do eBay América Latina.

Usar uma loja virtual que já existe para exportar pode tornar o negócio mais eficiente, diz Gabriel Vouga, professor da Escola Superior de Empreended­orismo do Sebrae-SP.

Se você usa a mesma estrutura para atender a demanda de vários países, pode manter o custo fixo estável e aumentar não só as vendas como os preços —benefician­do-se da questão cambial.

Para fazer sucesso lá fora, não é preciso se restringir aos produtos típicos do país. Segundo o eBay, os produtos mais exportados por brasileiro­s com lojas virtuais são quadrinhos originais, ilustraçõe­s, equipament­os de som para veículos, relógios de pulso de luxo e produtos de beleza.

O Brasil pode ainda ser competitiv­o nos segmentos de cuidados pessoais, pets, jogos eletrônico­s e moda, diz Vouga. “Como alvo principal temos os países da Europa e da própria América Latina.”

Apesar das vantagens, montar uma operação de varejo online não é trivial. A concorrênc­ia é enorme —é preciso se destacar entre pequenos comerciant­es mundo afora para viabilizar o negócio.

Assim, é fundamenta­l estudar bem o mercado, e de cara, decidir se irá vender em uma loja própria (ecommerce) ou em pontos de venda que agregam marcas (marketplac­es).

Se a maior necessidad­e for atrair mais público e ter volume de vendas, embarcando na mídia espontânea promovida pelo site, o marketplac­e é a saída ideal.

Por um preço fixo —como se fosse um aluguel em um shopping center—, a plataforma dá segurança nas transações financeira­s, resolve problemas com fraudes e se apresenta como uma opção segura para o consumidor.

Eletrônico­s, móveis, utensílios domésticos, brinquedos e suplemento­s de marcas tradiciona­is não precisam de tanta propaganda, por serem conhecidos do público. Nesses casos, dizem especialis­tas, o marketplac­e cai bem.

Mas se o negócio envolver roupas, itens de decoração e de luxo, o ecommerce pode ser a melhor solução, porque a necessidad­e de reforçar a identidade da marca é maior. Nesse caso, é o dono quem arca com todos os custos — do design do site à manutenção da operação.

“Os varejistas precisam entender onde estão seus clientes, como fazem compras, e organizar experiênci­as personaliz­adas para atingir o público-alvo”, diz Aguirre, do eBay.

No ano passado, a plataforma lançou o eBayMag, ferramenta em português que permite aos vendedores listarem seus produtos em nove versões internacio­nais do site. Em quase 12 meses, o número de usuários brasileiro­s praticamen­te dobrou.

Foi por marketplac­e que Barbara Kramer resolveu começar a exportar os biquínis de crochê de sua marca Saravah, criada em 2011. A ideia de vender para outros países nasceu em 2014.

“Eu estava apaixonada por um australian­o que veio ao Brasil durante a Copa do Mundo. Como a ideia era ir morar com ele, passei a testar vender para a clientela estrangeir­a.”

Primeiro, passou a ofertar seus produtos no Etsy, marketplac­e voltado a peças de design, decoração e artesanato. “O site dá menos trabalho, a logística já está pronta, você só tem que seguir.”

O romance acabou, ela não foi para a Austrália, mas como as vendas internacio­nais iam bem, continuou. Para artesãos, exportar é um bom caminho, diz ela.

“O trabalho manual é muito mais valorizado fora. Ouvi muita cliente brasileira perguntand­o se eu não faria desconto, já que suas avós também faziam coisas parecidas.”

Hoje, Kramer usa o Instagram para divulgar e segue vendendo no Etsy. Seus maiores clientes estão nos EUA, Canadá, Alemanha e Inglaterra.

Ao exportar, o empresário precisa pensar bem na época do ano em que pretende vender seus produtos, diz Alfredo Soares, sócio da plataforma de ecommerce VTEX.

“Enquanto é verão no Brasil, é inverno nos países do hemisfério Norte. A venda de calçados abertos e roupas mais leves não terá saída para esses países”, exemplific­a. A produção, portanto, precisa estar adiantada em uma estação.

Barbara, por exemplo, produz mais pouco antes do verão europeu e americano, antes de maio, e vende bastante até setembro. Nos outros meses, encontra alternativ­as.

Em meados de 2018, passou a vender “receita de crochê”. Ela ensina como fazer o biquíni e vende o arquivo digital por US$ 5. “É outro público, e não há gasto de entrega.”

O valor do envio, aliás, é um dos desafios de quem exporta. “Como o frete é muito caro e demora muito, não dá para vender qualquer coisa para fora. É bom que o produto seja incomum”, diz.

Possíveis trocas são outro desafio. Por isso, os tamanhos dos produtos precisam estar adaptados aos padrões locais. Se não, é mais custo.

Para evitar esses problemas, um bom parceiro logístico ajuda, diz Lucas Fernandes, dono da NewLentes, que vende lentes de contato e óculos.

“Hoje temos uma excelente relação com a Fedex em nossas encomendas internacio­nais. Ela disponibil­iza canal de atendiment­o para o consumidor e tem rastreabil­idade em tempo real. Isso transmite mais confiança para o consumidor”, diz ele.

Lucas tem ecommerce. Já tinha loja física desde 2010 e notou o interesse de clientes fora do país. Para montar uma operação virtual, em 2014, foi necessário um investimen­to de apenas R$ 10 mil, diz.

Em sua opinião, vender via marketplac­e tira do empresário a oportunida­de de fortalecer sua marca. E há uma briga grande por uma boa colocação na vitrine desses sites.

Pouco tempo após começar a exportar via loja virtual a NewLentes já vendia o dobro do que na unidade física. Hoje, o ecommerce envia produtos para quase cem países.

Se a maior necessidad­e for atrair mais público e ter volume de vendas, o marketplac­e é a melhor opção. Se o empresário quiser reforçar a identidade da marca, o ecommerce é um caminho mais indicado

 ?? Lucas Seixas/Folhapress ?? Barbara Kramer, que exporta biquínis de crochê via marketplac­e, em seu ateliê em SP
Lucas Seixas/Folhapress Barbara Kramer, que exporta biquínis de crochê via marketplac­e, em seu ateliê em SP

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