Exportação ajuda loja virtual a faturar mais gastando menos
Dá para aproveitar estrutura já existente para vender em vários países, manter custo estável e tirar partido do câmbio
A venda de produtos via internet vem aumentando no Brasil: segundo o PayPal, há mais de 900 mil lojas virtuais no país e, do ano passado para cá, o número de unidades abertas cresceu 40%.
Mas o Brasil está longe de atingir seu potencial exportador. “Há muito espaço disponível para produtos nacionais se posicionarem mundo afora”, afirma Xavier Aguirre, gerente de negócios sênior do eBay América Latina.
Usar uma loja virtual que já existe para exportar pode tornar o negócio mais eficiente, diz Gabriel Vouga, professor da Escola Superior de Empreendedorismo do Sebrae-SP.
Se você usa a mesma estrutura para atender a demanda de vários países, pode manter o custo fixo estável e aumentar não só as vendas como os preços —beneficiando-se da questão cambial.
Para fazer sucesso lá fora, não é preciso se restringir aos produtos típicos do país. Segundo o eBay, os produtos mais exportados por brasileiros com lojas virtuais são quadrinhos originais, ilustrações, equipamentos de som para veículos, relógios de pulso de luxo e produtos de beleza.
O Brasil pode ainda ser competitivo nos segmentos de cuidados pessoais, pets, jogos eletrônicos e moda, diz Vouga. “Como alvo principal temos os países da Europa e da própria América Latina.”
Apesar das vantagens, montar uma operação de varejo online não é trivial. A concorrência é enorme —é preciso se destacar entre pequenos comerciantes mundo afora para viabilizar o negócio.
Assim, é fundamental estudar bem o mercado, e de cara, decidir se irá vender em uma loja própria (ecommerce) ou em pontos de venda que agregam marcas (marketplaces).
Se a maior necessidade for atrair mais público e ter volume de vendas, embarcando na mídia espontânea promovida pelo site, o marketplace é a saída ideal.
Por um preço fixo —como se fosse um aluguel em um shopping center—, a plataforma dá segurança nas transações financeiras, resolve problemas com fraudes e se apresenta como uma opção segura para o consumidor.
Eletrônicos, móveis, utensílios domésticos, brinquedos e suplementos de marcas tradicionais não precisam de tanta propaganda, por serem conhecidos do público. Nesses casos, dizem especialistas, o marketplace cai bem.
Mas se o negócio envolver roupas, itens de decoração e de luxo, o ecommerce pode ser a melhor solução, porque a necessidade de reforçar a identidade da marca é maior. Nesse caso, é o dono quem arca com todos os custos — do design do site à manutenção da operação.
“Os varejistas precisam entender onde estão seus clientes, como fazem compras, e organizar experiências personalizadas para atingir o público-alvo”, diz Aguirre, do eBay.
No ano passado, a plataforma lançou o eBayMag, ferramenta em português que permite aos vendedores listarem seus produtos em nove versões internacionais do site. Em quase 12 meses, o número de usuários brasileiros praticamente dobrou.
Foi por marketplace que Barbara Kramer resolveu começar a exportar os biquínis de crochê de sua marca Saravah, criada em 2011. A ideia de vender para outros países nasceu em 2014.
“Eu estava apaixonada por um australiano que veio ao Brasil durante a Copa do Mundo. Como a ideia era ir morar com ele, passei a testar vender para a clientela estrangeira.”
Primeiro, passou a ofertar seus produtos no Etsy, marketplace voltado a peças de design, decoração e artesanato. “O site dá menos trabalho, a logística já está pronta, você só tem que seguir.”
O romance acabou, ela não foi para a Austrália, mas como as vendas internacionais iam bem, continuou. Para artesãos, exportar é um bom caminho, diz ela.
“O trabalho manual é muito mais valorizado fora. Ouvi muita cliente brasileira perguntando se eu não faria desconto, já que suas avós também faziam coisas parecidas.”
Hoje, Kramer usa o Instagram para divulgar e segue vendendo no Etsy. Seus maiores clientes estão nos EUA, Canadá, Alemanha e Inglaterra.
Ao exportar, o empresário precisa pensar bem na época do ano em que pretende vender seus produtos, diz Alfredo Soares, sócio da plataforma de ecommerce VTEX.
“Enquanto é verão no Brasil, é inverno nos países do hemisfério Norte. A venda de calçados abertos e roupas mais leves não terá saída para esses países”, exemplifica. A produção, portanto, precisa estar adiantada em uma estação.
Barbara, por exemplo, produz mais pouco antes do verão europeu e americano, antes de maio, e vende bastante até setembro. Nos outros meses, encontra alternativas.
Em meados de 2018, passou a vender “receita de crochê”. Ela ensina como fazer o biquíni e vende o arquivo digital por US$ 5. “É outro público, e não há gasto de entrega.”
O valor do envio, aliás, é um dos desafios de quem exporta. “Como o frete é muito caro e demora muito, não dá para vender qualquer coisa para fora. É bom que o produto seja incomum”, diz.
Possíveis trocas são outro desafio. Por isso, os tamanhos dos produtos precisam estar adaptados aos padrões locais. Se não, é mais custo.
Para evitar esses problemas, um bom parceiro logístico ajuda, diz Lucas Fernandes, dono da NewLentes, que vende lentes de contato e óculos.
“Hoje temos uma excelente relação com a Fedex em nossas encomendas internacionais. Ela disponibiliza canal de atendimento para o consumidor e tem rastreabilidade em tempo real. Isso transmite mais confiança para o consumidor”, diz ele.
Lucas tem ecommerce. Já tinha loja física desde 2010 e notou o interesse de clientes fora do país. Para montar uma operação virtual, em 2014, foi necessário um investimento de apenas R$ 10 mil, diz.
Em sua opinião, vender via marketplace tira do empresário a oportunidade de fortalecer sua marca. E há uma briga grande por uma boa colocação na vitrine desses sites.
Pouco tempo após começar a exportar via loja virtual a NewLentes já vendia o dobro do que na unidade física. Hoje, o ecommerce envia produtos para quase cem países.
Se a maior necessidade for atrair mais público e ter volume de vendas, o marketplace é a melhor opção. Se o empresário quiser reforçar a identidade da marca, o ecommerce é um caminho mais indicado