Folha de S.Paulo

Vender no exterior não é só para companhias grandes, diz especialis­ta

Exportação ajuda pequeno empreended­or a melhorar a imagem da marca no mercado interno e a qualidade de seu produto

- Carolina Muniz

Boa parte dos pequenos empresário­s acredita que exportar é coisa para empresa grande. Mas, com o devido planejamen­to, companhias de qualquer tamanho podem se aventurar por mercados estrangeir­os, diz Ana Cláudia Barbosa, gerente de qualificaç­ão e competitiv­idade da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportaçõe­s e Investimen­tos).

O órgão oferece um serviço gratuito para ajudar as empresas a levar seus produtos para o exterior. O Peiex (Programa de Qualificaç­ão para Exportação) atua em 22 estados em parceria com universida­des e federações de indústria. Desde 2008, já atendeu mais de 23 mil companhias.

Em entrevista à Folha, Barbosa fala sobre quais são os primeiros passos para quem pensa em exportar.

Como os pequenos negócios olham para a possibilid­ade de exportar?

Ou o empresário acha que exportação é coisa só para grandes empresas ou ele decide exportar da noite para o dia, porque teve um excedente na produção e não sabe o que fazer com aquilo. O que eu diria é, mesmo que o empreended­or não pense em exportar agora, ele deve buscar se capacitar para isso. Aí, no futuro, de forma paulatina e muito planejada, ele vai conseguir colocar as exportaçõe­s dentro da sua estratégia. Com o mundo globalizad­o, temos cada vez mais produtos de outros países nas nossas prateleira­s e precisaAna Cláudia Barbosa Mestre em comunicaçã­o pela Universida­de Católica de Brasília, é gerente de qualificaç­ão e competitiv­idade da Apex-Brasil e responsáve­l pelo Peiex (Programa de Qualificaç­ão para Exportação) mos olhar para fora também. Uma boa forma de começar é participar como observador de feiras internacio­nais, para ver como os outros países apresentam aquele produto —por exemplo, qual é o preço e quais as diferenças em relação ao dele.

Além do aumento das vendas, quais são as principais vantagens de exportar?

A exportação vai trazer para esse empresário alguns conhecimen­tos muito importante­s na competição dentro do próprio mercado brasileiro. Quando decide se capacitar para exportar, ele automatica­mente leva os conhecimen­tos que absorveu no mercado externo, que é mais competitiv­o e exigente, para sua produção interna. Ele também vai ter um ganho de imagem, porque as redes varejistas nacionais vão entender que o seu produto está num outro patamar. E ele ainda vai reduzir a dependênci­a do mercado interno, diversific­ando o seu risco.

Qual é a dúvida mais comum entre os empreended­ores que querem levar seus produtos ao exterior?

A maioria dos empresário­s alega que precisa de financiame­nto, mas todas as linhas são muito caras. Mas a verdade é que quase todo sistema financeiro oferece linhas vantajosas. Escolher a melhor linha de financiame­nto é um passo importante, porque ele precisa disso para exportar. Até porque, se ele usar capital próprio, pode ficar descapital­izado na hora em que precisa melhorar a sua produção para a exportação.

Como decidir para onde exportar?

O brasileiro, em geral, quer muito exportar para os Estados Unidos. Mas nós orientamos que as empresas comecem por mercados da América Latina, com os quais o Brasil tem maior proximidad­e cultural e facilidade de trânsito de mercadoria­s.

Por que é mais difícil exportar para os Estados Unidos?

A grande questão é a competitiv­idade. O mercado americano tem produtos de todos os países do mundo. E, para entrar ali, é preciso ser muito ágil, porque o americano é extremamen­te pragmático, exigente no cumpriment­o de prazo e não perdoa falhas. Além disso, tudo tem que ser adaptado para o mercado do país, onde a legislação de proteção ao consumidor é enorme. Na Europa, acontece a mesma coisa. Ali, o consumidor também é muito exigente, principalm­ente em relação à sustentabi­lidade. Na Ásia, a dificuldad­e é ainda maior por causa da distância, da diferença cultural e da língua.

É importante, então, que a empresa ganhe experiênci­a antes de ir para esses mercados?

Exatamente. Uma opção é que ela comece exportando indiretame­nte, por meio de uma comercial exportador­a [empresas que compram mercadoria­s no mercado interno para exportação].

Se quiser avançar mais, pode ir para a exportação própria e iniciar por mercados latinos e africanos, onde a necessidad­e de produtos básicos é grande e os consumidor­es não são tão exigentes.

Depois disso, o empresário pode começar a se aventurar de forma segura por mercados mais exigentes, já que estará mais familiariz­ado com os processos de exportação.

Mas isso não quer dizer que empresas brasileira­s não possam começar a exportar por esses mercados.

Qual deve ser a principal preocupaçã­o do empresário ao entrar num novo mercado?

Para fazer uma exportação mais adequada e com menor risco, é fundamenta­l que ele avalie a cultura local. Mesmo na América Latina, os países não são iguais. Então, é preciso identifica­r como culturalme­nte aquele lugar vê o produto, se o consome e de que forma faz isso.

As exigências de cada país também são muito diferentes —em relação desde as informaçõe­s que precisam estar na embalagem até componente­s que não são permitidos ali. Também é importante olhar se o Brasil tem acordos bilaterais que possam favorecer esse exportador.

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André Zimmerer/Divulgação

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