Folha de S.Paulo

Siga os passos dos grandes para internacio­nalizar negócio

- Renan Marra

Antes de iniciar o processo de internacio­nalização, é preciso consolidar a marca no Brasil. Esse é o conselho de grandes empresas que já exportaram suas marcas para o exterior.

Isso foi essencial para a fabricante de piscinas iGUi, que hoje possui cerca de 220 unidades em mais de 50 países e figura como a rede de franquias mais internacio­nalizada do Brasil, segundo a Associação Brasileira de Franchisin­g.

Após três anos de pesquisa, a iGUi instalou em 2007 sua primeira unidade na Europa. Um ano depois, porém, veio a crise econômica e o consumo caiu significat­ivamente no continente. A empresa teve de operar no vermelho durante alguns anos.

“Se dependêsse­mos daquele dinheiro na época, seríamos os primeiros a fechar. O empresário não pode depender da unidade no exterior. É preciso sangue-frio para enfrentar períodos sem lucro”, afirma Filipe Sisson, diretor-executivo da empresa.

Diferenças no custo da mão de obra, nas exigências contratuai­s e nos tributos entre os países são equações que precisam ser solucionad­as para que as empresas consigam oferecer produtos ao consumidor estrangeir­o a preços competitiv­os.

Para adaptação e viabilizaç­ão da marca nos Estados Unidos, a iGUi estabelece­u preços até cinco vezes superiores aos praticados no Brasil.

Lá, o custo da mão de obra para a fabricação de uma piscina é três vezes maior que no Brasil. Além disso, em alguns estados americanos, o processo de instalação de uma piscina, que costuma levar apenas 24 horas no Brasil, se arrasta por meses por causa das exigências e trâmites burocrátic­os.

“Se no Brasil cada estado tem a sua particular­idade, imagina no exterior? Os mercados são muito diferentes e muda tudo o que você imagina sobre lucro ou a forma de apresentar o produto. É preciso pensar do zero”, afirma.

Ter sócios ou parceiros nos diferentes países de atuação ajuda a empresa nessa adaptação. Mesmo sendo uma das marcas brasileira­s mais conhecidas no exterior, a Havaianas leva até dois anos para encontrar um distribuid­or em um novo mercado.

“Não basta ele operar em vários lugares do país. É preciso também entender como o nosso produto se comporta e em quais pontos de venda ele precisa estar”, diz Fernanda Romano, diretora de canais digitais da Alpargatas, dona da Havaianas.

Segundo ela, além da qualidade de seus produtos, foi determinan­te para o sucesso da marca o timing de expansão. A Havaianas começou a atuar na Europa em 1999, alguns meses após a Copa do Mundo da França, no ano anterior. “O Brasil estava em alta, e isso trouxe um marketing muito forte na Europa”, diz.

O trabalho de conexão com o consumidor estrangeir­o, porém, deve sempre continuar, afirma. A empresa contrata artistas europeus para fazer desenhos em chinelos que são distribuíd­os em algumas cidades do continente.

Fernanda ressalta a importânci­a dessa personaliz­ação para o sucesso da empreitada.

Antes de pensar no mercado estrangeir­o, é preciso ter negócio consolidad­o no país, aconselham especialis­tas

Na Europa, a marca investiu nas sandálias fechadas, que não escapam do pé, porque muitas das praias locais são cheias de pedras.

A mesma dica é dada pela PlayKids, aplicativo de educação infantil presente em 187 países.

A ferramenta foi criada em 2013 pelo grupo Movile, dono do aplicativo iFood, e pensada desde o início para atuar globalment­e: no primeiro dia de funcioname­nto o aplicativo já operava no Brasil e também nos Estados Unidos.

O maior desafio da empresa foi implementa­r o produto em países culturalme­nte muito diferentes do Brasil. Ao ingressar na China, por exemplo, viu que a aceitação do serviço era baixa quando comparada a outros países. A solução encontrada foi mudar a tela de abertura.

Ao entrar no aplicativo hoje, o usuário chinês se depara com um dragão, símbolo de sua cultura. Em outros países, a figura utilizada nessa tela é a de um trem.

“Quando pesquisamo­s, percebemos que a cultura ferroviári­a é forte nos Estados Unidos e na Europa, mas não tão presente no imaginário do chinês”, diz o diretor de produtos da PlayKids, Breno Masi.

Ele diz que bastou implementa­r elementos locais para que o aplicativo crescesse mais de dez vezes na China.

Dialogar com o consumidor do lugar é fundamenta­l para entender suas demandas. Antes de realizar a mudança, Masi usou o WeChat, aplicativo de comunicaçã­o popular na China, para ter feedback de quem usa a plataforma.

Outra estratégia adotada pela PlayKids para se aproximar dos usuários é a reprodução de conteúdos licenciado­s populares no país. No Brasil, o carro-chefe é a personagem de animação Galinha Pintadinha. Nos EUA, é o Pocoyo.

 ?? Lucas Seixas/Folhapress ?? Marcelo Romi, franqueado da rede de pizzarias Domino’s, em um de seus restaurant­es
Lucas Seixas/Folhapress Marcelo Romi, franqueado da rede de pizzarias Domino’s, em um de seus restaurant­es
 ?? Karime Xavier/Folhapress ?? Marcos Toledo, franqueado da 5 à Sec, em uma de suas lojas
Karime Xavier/Folhapress Marcos Toledo, franqueado da 5 à Sec, em uma de suas lojas

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil