Centro moveleiro em São Bernardo é bom lugar para pechinchar
Rua Jurubatuba concentra mais de 70 lojas do ramo, comandadas por descendentes de imigrantes há gerações
Não se veem imóveis desocupados nos dois primeiros quarteirões da rua Jurubatuba, no centro de São Bernardo do Campo. É uma loja atrás da outra, todas repletas de produtos para quem quer renovar a casa.
São muitos estofados, mesas, cadeiras, guarda-roupas, colchões, berços, camas do tipo box e móveis planejados, a maioria fornecida por empresas do Sul do país. Sim, porque a rua, que ganhou fama com itens de fabricação própria, mudou de perfil após a instalação da indústria automobilística na região do ABC, nos anos 1960.
A transformação não foi só na origem dos produtos, mas também na de seus proprietários. Saíram os imigrantes italianos e entraram os libaneses.
Youssef Hindi, 53, é filho de libaneses, dono da loja de móveis que leva seu sobrenome e presidente da Associação dos Lojistas da Jurubatuba. “Nossas lojas atendem às classes A, B e C”, diz ele. “A maior vantagem é poder mobiliar uma casa todinha numa rua só.”
Youssef divide o comando do estabelecimento com seu filho, Omar Hindi. “A loja passou do meu avô para o meu pai e um dia vai ser [passada] para mim”, afirma o rapaz, que desde os 17 anos dá plantão no endereço.
Na Jurubatuba, não faltam histórias de negócios familiares e de filhos que cresceram entre as mercadorias. “Lembro que eu era criança e vinha para a loja aos sábados. Era uma diversão ver aquele movimento de clientes”, conta Raquel Fogelman, 48, que desde 2000 comanda a Estar Móveis ao lado da irmã, Edith Diesendruck, 54.
O pai delas, Israel Apter, 91, veio para o Brasil da Romênia após a Segunda Guerra Mundial. Aos 24 anos, ele montou seu primeiro negócio, que deu origem à Estar Móveis.
“Eu estava instalado em Santo André. Conversando com representantes que me atendiam, fiquei sabendo que aqui era um bom lugar para o comércio. Então comprei um terreno e vim”, conta.
Era o final da década de 1970 e só havia italianos na rua, segundo Israel.
“Eles foram envelhecendo, os filhos não queriam assumir, e as fábricas fecharam. Então chegaram os ‘brimos’. Mas eu sempre me dei bem com todos”, afirma o empresário judeu.
Na Toc Toc Baby, a pequena Maitê, 4, brinca entre as prateleiras recheadas de lençóis e edredons para berço, almofadinhas e papéis de parede.
Filha de Bianca Pascon Agustini, 23, a garotinha integra a quarta geração de uma família de origem italiana que trocou a fabricação e venda de móveis de dormitório e cozinha pelo comércio de produtos para bebês.
“Estamos neste ponto há mais de quatro décadas e desde que a loja focou na decoração de quartos de bebê, a clientela aumentou”, afirma Agustini, que recebe consumidores não só do ABC, mas também de São Paulo e de Santos, no litoral.