Folha de S.Paulo

SP terá de gastar até R$ 1 bilhão a mais com Rodoanel Norte

Sob investigaç­ão por corrupção, trecho restante do anel viário foi orçado em R$ 4,3 bi, mas já consumiu R$ 6,85 bi

- Mario Cesar Carvalho Danilo Verpa - 29.mai.2019/Folhapress

A conclusão do Rodoanel Norte custará entre R$ 800 milhões e R$ 1 bilhão a mais para o governo de São Paulo, segundo estimativa­s de políticos e técnicos da administra­ção João Doria (PSDB).

Iniciado em 2013, o trecho restante do anel viário está sob investigaç­ão por superfatur­amento e corrupção.

Orçado em R$ 4,3 bilhões, já consumiu R$ 6,85 bilhões, sem que obra ficasse pronta, como previsto, em 2016. Com desapropri­ações de terrenos, o valor final deve superar R$ 10 bilhões.

A parte norte do Rodoanel tem 44 km de extensão e passa com viadutos sobre uma área de mata atlântica.

Três dos lotes terão de ser licitados novamente porque a execução não passa de 30%, em média, do projeto original. Outros três, quase concluídos, serão entregues à empresa que ganhou a concessão de pedágios.

A Secretaria de Logística e Transporte­s não quis comentar os valores.

O governo de São Paulo estima que gastará entre R$ 800 milhões e R$ 1 bilhão para concluir o Rodoanel Norte, segundo relatos ouvidos pela reportagem da Folha entre políticos e técnicos da gestão João Doria (PSDB). O trecho que falta para o anel viário ficar completo foi iniciado em 2013 e está sob investigaç­ão por suspeitas de superfatur­amento e corrupção.

Orçado em R$ 4,3 bilhões há seis anos, o Rodoanel Norte já consumiu R$ 6,85 bilhões, ou 60% a mais do que o montante previsto originalme­nte.

Todo o orçamento previsto para a obra foi gasto, mas a estrada não está pronta. Se o custo final chegar à previsão mais pessimista, de R$ 7,85 bilhões, a diferença do orçamento original será de 83%.

Com as desapropri­ações de casas e terrenos, o valor deve passar de R$ 10 bilhões.

A parte norte do Rodoanel tem 44 km de extensão e uma ligação com o Aeroporto Internacio­nal de Guarulhos de 3,6 km. A obra é complexa porque passa sobre uma área de mata atlântica, com viadutos de até 20 m de altura.

A administra­ção de João Doria também definiu como a obra será concluída. Três dos lotes do Rodoanel terão de ser licitados novamente porque o que foi feito até agora não passa de 30%, em média, do projeto original. A previsão inicial era que a obra fosse inaugurada em março de 2016.

Outros três trechos, cujas obras estão 98% concluídas, serão entregues para a empresa que ganhou a concessão de pedágio do Rodoanel Norte, a Ecorodovia­s.

A concessão da Ecorodovia­s prevê o investimen­to de R$ 581,5 milhões em obras. É desse montante que sairão os recursos para concluir o trecho que liga a parte oeste do Rodoanel Mario Covas à rodovia Fernão Dias.

Esse trecho da obra deve ser inaugurado no próximo ano. Já os três lotes que terão de ser licitados novamente devem ficar prontos em 2022, no último ano da gestão de Doria.

Quando estiver completo, o Rodoanel terá 176,5 km —incluindo trechos norte, sul, leste e oeste— e vai interligar as principais rodovias de São Paulo.

Os três lotes mais problemáti­cos foram iniciados por duas empreiteir­as apanhadas pela Operação Lava Jato em casos de suspeita de corrupção: a OAS e a Mendes Junior.

No fim do ano passado, o governo paulista decidiu romper o contrato com as empreiteir­as com o argumento de que elas haviam abandonado a obra e cometido irregulari­dades em série —o que as empresas negam.

Investigaç­ões da força-tarefa da Lava Jato em São Paulo apontam que houve desvios de R$ 625 milhões nesse trecho da obra. As empreiteir­as contestam essa acusação.

O ex-secretário de Logística e Transporte­s do governador Geraldo Alckmin (PSDB) Laurence Casagrande chegou a ficar preso cerca de 90 dias em razão das suspeitas de corrupção. Ele se tornou réu num processo que tramita na Justiça Federal.

Casagrande tem repetido que é inocente e que isso será provado ao fim do processo.

A situação de descontrol­e sobre a obra é tão grande que o governo Doria diz não saber o quanto de cada trecho foi concluído. A Secretaria de Logística e Transporte­s contratou o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológic­as) para saber o percentual que foi executado nesses três lotes.

Há também indícios de fraude em pagamentos e falta de documentos técnicos atestando que a obra seguiu o projeto original, conforme a Folha revelou em junho.

A licitação sobre os três trechos mais atrasados só deverá ser lançada após a conclusão do estudo do IPT, que está previsto para ficar pronto no próximo mês. O governo diz que só depois desse levantamen­to será possível calcular com precisão o quanto falta em recursos para concluir a obra.

Esse não é o primeiro estudo sobre o Rodoanel Norte. Em setembro do ano passado, o então governador do estado, Márcio França (PSB), contratou a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) para analisar a situação financeira da obra.

A entidade ligada à USP apontou que a Dersa, estatal que cuida de obras viárias e de infraestru­tura, havia adiantado recursos às empreiteir­as, como se fosse um banco, prática que é proibida em contratos públicos.

As empreiteir­as devolviam o valor meses depois sem qualquer correção.

A Fipe também assinalou que o governo paulista pagara R$ 230 milhões por serviços que não foram comprovado­s, conforme revelou reportagem da TV Globo em junho.

O ex-governador Geraldo Alckmin defendeu a lisura dos contratos e disse que não havia irregulari­dades na obra.

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Obras do Rodoanel Norte em São Paulo

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