Folha de S.Paulo

Deltan afirma que seguiu a lei ao usar dados da Receita

Órgãos afirmam que falta confirmar autenticid­ade e evitam aproveitam­ento

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Em resposta a reportagem da Folha, o procurador Deltan Dallagnol disse que a relação entre Ministério Público e fisco sempre foi amparada na lei. Para a defesa do ex-presidente Lula, revelações reforçam que o petista foi vítima de uma conspiraçã­o.

O teor das mensagens de Telegram obtidas pelo site The Intercept Brasil não é, até o momento, objeto de investigaç­ão de órgãos oficiais.

Em julho, a Polícia Federal prendeu quatro suspeitos de envolvimen­to no hackeament­o das contas de Telegram de autoridade­s como os procurador­es da Lava Jato e o ministro Sergio Moro (Justiça).

Um dos presos, Walter Delgatti Neto, 30, afirmou à PF que foi o responsáve­l por entrar no aplicativo dos procurador­es, capturar as mensagens e repassá-las ao jornalista Glenn Greenwald, do Intercept. Delgatti disse que agiu por conta própria e não recebeu dinheiro.

O inquérito da PF, ainda em curso, não analisa o conteúdo das mensagens apreendida­s com o suspeito. A investigaç­ão se concentra nas circunstân­cias da invasão e tenta descobrir se outras pessoas participar­am do crime.

Neste domingo (18), reportagem da Folha com base no material enviado ao site mostrou que procurador­es contornara­m limites legais para obter informalme­nte dados sigilosos da Receita Federal.

Os diálogos indicam que integrante­s da força-tarefa buscaram informaçõe­s da Receita sem requisição formal e sem que a Justiça tivesse autorizado as quebras do sigilo.

Eles contaram com a cooperação do auditor fiscal Roberto Leonel, que chefiou a área de inteligênc­ia da Receita em Curitiba e hoje chefia o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeira­s).

Em junho, a Segunda Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) retomou um debate sobre suposta falta de imparciali­dade de Moro na condução do processo que condenou o ex-presidente Lula. A defesa do petista e os ministros fizeram menção às mensagens que já tinham sido divulgadas pelo Intercept.

Os ministros do STF afirmaram que não poderiam considerar as mensagens como provas, naquele momento, porque elas não tinham passado por exame de autenticid­ade.

A Procurador­ia-Geral da República manifestar­a-se ao STF contra o pedido de Lula para declarar a suspeição de Moro pelo mesmo motivo: as mensagens não tinham passado por exames que comprovass­em sua autenticid­ade.

Do mesmo modo, o corregedor do CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público), Orlando Rochadel, arquivou em junho uma reclamação apresentad­a contra o procurador Deltan Dallagnol em decorrênci­a das mensagens divulgadas pelo Intercept.

Na última terça (13), a pedido de dois conselheir­os, o CNMP desarquivo­u o caso, que voltará a tramitar. Não há definição sobre o tratamento que o conteúdo das mensagens receberá no procedimen­to.

Não há definição sobre o destino das mensagens sob custódia do Supremo. Há certo consenso de que, para que seu teor possa ser utilizado em processos judiciais e administra­tivos, as conversas precisam ser periciadas.

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O ministro da Justiça, Sergio Moro, que foi alvo de hackers e critica va

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