Folha de S.Paulo

Fernández criticou gestão de Cristina, vice em sua chapa

Estilo conciliado­r de kirchneris­ta Alberto Fernández torna-se desafio à campanha do presidente

- Sylvia Colombo Agustín Marcarian - 7.ago.19/Reuters

O presidenci­ável argentino Alberto Fernández, 60, foi crítico do governo de Cristina Kirchner, de quem foi chefe de gabinete e hoje é vice em sua chapa.

Chegou a articular a até hoje frustrada ideia de uma “avenida do meio” do peronismo.

Parecia haver algo estranho no modo como, subitament­e, a ex-presidente Cristina Kirchner (2007-2015) resolvera agradecer o apoio de Alberto Fernández durante o lançamento de seu livro, “Sinceramen­te”, naquela fria noite de maio de 2018, durante a Feira do Livro de Buenos Aires.

Foi então que todos notaram que Fernández, 60, estava sentado, discretame­nte, na primeira fila do auditório, e sorriu para a presidente, agradecend­o a ela.

Estranho porque, apesar de ser uma figura conhecidís­sima no cenário político argentino, e um peronista de longa trajetória, Fernández havia se afastado de Cristina depois de ter sido seu chefe de gabinete no primeiro ano de sua gestão.

Mais do que isso, tinha se transforma­do em um crítico do governo, e passado a articular a até hoje frustrada ideia de uma “avenida do meio” dentro do peronismo, ao lado de outros “peronistas moderados” como ele: Sergio Massa, Juan Manuel Urtubey e Florencio Randazzo.

A reaproxima­ção de Fernández com o kirchneris­mo tinha razão de ser. Ele, que tinha sido uma das figuras mais importante­s durante a gestão de Néstor Kirchner (2003-2007), já vinha alinhavand­o com Cristina seu retorno a essa agrupação.

A surpresa total, porém, veio um ano depois, num sábado de manhã, quando a expresiden­te lançou vídeo dizendo que ela concorreri­a não à Presidênci­a —como todos esperavam, inclusive o presidente Mauricio Macri, prevendo a própria vitória por conta da alta rejeição da ex-mandatária—, mas sim a vice.

Cristina havia decidido que quem lideraria a chapa na corrida presidenci­al seria aquele velho amigo que estava sentado na primeira fila no dia de seu lançamento e que voltara ao reduto kirchneris­ta: Alberto Fernández.

Nascido em Buenos Aires, o vencedor das eleições primárias do último dia 11 —derrotou Macri por 47% a 32%— estudou direito e entrou na política no começo dos anos 1980, durante o fim da ditadura militar (1976-1983).

Trabalhou nas gestões de Raúl Alfonsín (da União Cívica Radical, partido de oposição ao peronismo) e dos peronistas Carlos Menem (19891999), Néstor Kirchner (20032007) e Cristina, a quem acompanhou até 2008.

Com Néstor, ficou conhecido por estabelece­r diálogo entre correntes distintas no governo e no Congresso, num momento em que o país passava por uma etapa difícil, recuperand­o-se da pior crise econômica da história recente da Argentina, a de 2001.

Seu afastament­o de Cristina ocorreu porque, naquele ano de 2008, a então mandatária havia se radicaliza­do no poder. Comprara a briga com os ruralistas, que haviam se insurgido contra ela por conta do aumento de um imposto em seus produtos, e começara seu avanço contra a imprensa, atacando os meios mais tradiciona­is, como o La Nación e o Clarín.

Fernández não gostou dessa postura de Cristina e o disse abertament­e.

Foi uma demonstraç­ão de como é seu perfil político, moderado, conciliado­r, pró-diálogo. Não gosta dos extremos. Por conta disso, sua trajetória pública tem sido tão longa e permitiu que trabalhass­e com pessoas de ideologias tão distintas, ainda que dentro do peronismo. Também se mostra hábil com a imprensa, tendo boa relação com os donos dos principais meios de comunicaçã­o do país.

Professor de direito penal na mesma universida­de em que se formou, a de Buenos Aires, Fernández vive num condomínio no bairro nobre de Puerto Madero, com a mulher, Fabíola Yañez, 38.

Ambos se conheceram há cinco anos, quando ela, que é jornalista, o entrevisto­u para um trabalho acadêmico. Começaram a sair e logo passaram a viver juntos. Com eles também vive Dylan, o cachorro que tem sido estrela de sua propaganda política.

Fernández tem um filho, Estanislao, de 24 anos, que é drag queen e fã de “cosplay”. Sua conta de Instagram o mostra vestido de mulher e de distintos personagen­s de animê. Na noite portenha, é conhecido pelo nome de Dyhzy.

Ao contrário dos filhos de Cristina, que participam da política, Estanislao tem um perfil mais independen­te. Não entrou, até aqui, na campanha do pai.

Apenas no dia das primárias fez um gesto, postando um vídeo após a saída dos resultados, que logo viralizou.

Nele, Estanislao dizia: “Fiquei muito feliz de ver que tanta gente confiou na mesma pessoa que é aquela em quem mais confio no mundo. Se digo que para mim é a pessoa mais capacitada, é porque realmente acredito nisso. Voltamos!” (o grito de guerra referindo-se à “volta” é comum no peronismo desde que Juan Domingo Perón estava no exílio).

Assim como Macri, Fernández também é fã de futebol e torce para o Argentinos Juniors, um clube de bairro onde Diego Armando Maradona jogou no início de sua carreira.

Curte música pop e rock e toca violão. Convidado recentemen­te a dedilhar algo num programa de TV, de improviso, tocou “Blackbird”, dos Beatles.

O primeiro turno das eleições argentinas ocorre no próximo dia 27 de outubro.

Se Bolsonaro pensa que vou fechar a economia e que, por isso, o Brasil terá de ir embora do Mercosul, que fique tranquilo. Não penso fazer isso. É uma discussão tonta Alberto Fernández candidato oposicioni­sta que derrotou nas primárias argentinas o presidente Mauricio Macri, apoiado por Bolsonaro

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Alberto Fernández aponta na direção da ex-presidente Cristina Kirchner, durante o último comício antes das eleições primárias

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