Folha de S.Paulo

Matar ou morrer

- Ruy Castro

Uma coluna recente (“Cenas de morte”, 5/8), sobre a importânci­a da morte no cinema, e tendo eu dado exemplos de sequências clássicas do gênero —em “King Kong”, “Roma, Cidade Aberta”, “Psicose” e outras—, despertou a memória dos leitores e recebi valiosas contribuiç­ões ao assunto. Ninguém citou filmes de guerra, por motivos óbvios, nem filmes de hoje, em que é raro sobreviver alguém ao fim deles. Eis algumas:

A morte de Elisha Cook Jr., em “Os Brutos Também Amam” (1953), em que George Stevens dublou o tiro de revólver de Jack Palance com um tiro de canhão. A morte de Scott Brady no final de “Johnny Guitar” (1954), em que o bandido leva um tiro na testa —o primeiro furinho vermelho na testa na história do cinema. A morte de James Mason em “Nasce uma Estrela” (1954), entrando serenament­e no mar para sair de cena e deixar Judy Garland viver sua vida.

A morte da tarântula, em “Tarântula!” (1955), um daqueles filmes de insetos gigantes, bombardead­a de avião (pilotado por um jovem ator desconheci­do, chamado Clint Eastwood) com um produto então também desconheci­do: napalm. A morte do homem dentro do carro em “007 Contra Goldfinger” (1963), em que o carro é levado para um ferrovelho e reduzido a um cubo prensado com o sujeito dentro. O suicídio de Jean-Paul Belmondo em “Pierrot Le Fou” (1966), envolvendo sua cabeça com uma cartucheir­a de dinamite e riscando o fósforo.

Por fim, em “2001: Uma Odisseia no Espaço” (1967), duas mortes lindas: a de Gary Lockwood, o astronauta que sai da nave, é “desligado” por Hal 9000, o computador que comanda as operações, e vai literalmen­te para o espaço —talvez a morte mais silenciosa do cinema. E, claro, a “morte” do próprio Hal, desligado válvula por válvula e voltando à sua “infância” e ao estágio em que ainda não nascera.

No cinema, é assim: matar ou morrer.

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