Folha de S.Paulo

Harmonia política

Determinaç­ão partidária não moldará o Acredito

- Felipe Rigoni e Renan Ferreirinh­a Deputado federal (PSB-ES), mestre em políticas públicas pela Universida­de Oxford (Inglaterra) e cofundador do Movimento Acredito; deputado estadual (PSB-RJ), formado em economia e ciências políticas pela Universida­de Harv

O equilíbrio é um dos grandes desafios da boa política. Em tempos de polarizaçã­o ideológica acentuada, o maniqueísm­o torna-se tentador. Esquerda e direita, traidores e heróis, lobos e cordeiros. Não há caminho para o diálogo quando a desvaloriz­ação do outro se torna o único argumento disponível à mesa. É preciso encontrar o que há de comum nos propósitos de cada lado.

O Movimento Acredito nasceu do sonho de brasileiro­s que desejavam realizar políticas públicas baseadas em evidências científica­s, com participaç­ão popular, sempre em respeito aos contextos locais. Surgiu, portanto, como ferramenta democrátic­a disposta a encarar a realidade como ela é: não há respostas simples para problemas complexos.

Foi pensando assim que o movimento debateu, desde sua criação, a reforma da Previdênci­a. O déficit crescente e a dinâmica demográfic­a estabelece­ram consenso sobre a necessidad­e de algum tipo de ajuste no modelo atual até mesmo entre economista­s ligados aos partidos de oposição ao governo. Nossa divergênci­a surge a partir deste ponto.

Entre a oposição histriônic­a por um texto utopicamen­te perfeito e a articulaçã­o por uma proposta possível, escolhemos a segunda opção.

Foi consultand­o especialis­tas, analisando números e propondo nove emendas que atuamos por uma reforma justa e equilibrad­a. Quatro delas foram acatadas, como as que amenizam o impacto sobre o BPC (Benefício de Prestação Continuada), a aposentado­ria rural, a dos professore­s e o tempo mínimo de contribuiç­ão. Foi por meio da boa política que aperfeiçoa­mos o texto.

A disposição para o diálogo, surpreende­ntemente, gerou críticas. Parte das lideranças, especialme­nte nas estruturas partidária­s, age como se a defesa de responsabi­lidade fiscal contrarias­se o conceito de justiça social. Como se o reconhecim­ento dos avanços da proposta fosse um selo de aprovação às falhas cometidas pelo governo federal até aqui.

Nossa discussão nunca teve foco na autoria do texto, mas nos resultados pretendido­s. A reforma atende a um dos pilares centrais do Acredito: a defesa de um Estado eficiente e fiscalment­e responsáve­l. Nosso DNA progressis­ta está ligado à defesa dos direitos humanos, da diversidad­e, da tolerância, da sustentabi­lidade e da redução das desigualda­des. Nossas convicções não serão alteradas por determinaç­ão partidária ou por um voto alinhado ao governo.

Tal postura não deveria causar surpresa. Antes de nos filiarmos, assinamos uma carta-compromiss­o com o PSB e outros partidos. Ela assegura o respeito ao funcioname­nto, à identidade e aos valores do Acredito. Entramos no partido para somar e nos compromete­mos a participar da reinvenção de um modelo partidário mais próximo das pessoas, com práticas cada vez mais transparen­tes.

Reconhecem­os que uma democracia forte necessita de bons partidos políticos, mas há espaço para uma convivênci­a harmônica e autônoma com os novos movimentos cívicos. O Brasil só será justo e desenvolvi­do quando houver o envolvimen­to de todos na busca por dignidade e igualdade de oportunida­des. Foi pensando nisso que o Movimento Acredito foi criado. É nisto que seguiremos acreditand­o.

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