Folha de S.Paulo

Após reportagem, Deltan diz que seguiu a lei ao pedir dados

- Felipe Bächtold

Após a publicação de reportagem da Folha neste domingo (18) que mostrou que a equipe da Lava Jato driblou a lei para ter acesso a dados da Receita, o procurador Deltan Dallagnol afirmou que a cooperação entre o Ministério Público Federal e o fisco sempre foi amparada na lei.

A defesa do ex-presidente Lula também reagiu à revelação da reportagem e afirmou que ela reforça que o petista “foi vítima de uma conspiraçã­o e de atos ilícitos”.

A reportagem da Folha mostrou conversas no aplicativo Telegram, obtidas pelo site The Intercept Brasil, em que procurador­es da Lava Jato buscam informaçõe­s da Receita sem requisição formal e sem que a Justiça tivesse autorizado a quebra do sigilo das pessoas que queriam investigar. Uma das conversas mostradas era entre Deltan e o auditor Roberto Leonel, que atualmente dirige o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeira­s).

Em uma mensagens, de 2016, Deltan sugere que colegas peçam para Leonel “dar uma olhada informal” no Imposto de Renda do caseiro de um sítio frequentad­o por Lula.

Em uma rede social neste domingo, o procurador, que coordena a força-tarefa em Curitiba, disse que há “mais acusações falsas contra a Lava Jato”.

“A Receita passou informaçõe­s para o MP na Lava Jato em 3 situações, sempre com amparo na lei: 1) Quando houve quebra de sigilo fiscal decidida por juiz 2) quando o MP requisitou informaçõe­s fiscais, poder dado pela Lei Complement­ar 75/93 e reconhecid­o em atos e decisões da Administra­ção Pública e do Judiciário 3) quando a Receita identifico­u indícios de crimes, em apuração de iniciativa própria ou a partir de informaçõe­s recebidas do Ministério Público, de outros órgãos ou de cidadãos.”

O procurador também afirmou que a Receita “tem liberdade de apurar ilícitos a partir de notícias que recebe e de comunicá-los” ao Ministério Público. “Uma função central dos Escritório­s de Pesquisa e Inteligênc­ia, como aquele que o auditor Roberto Leonel chefiava, é exatamente fazer pesquisa e investigaç­ão.”

Outros três procurador­es da Lava Jato, Orlando Martello, Paulo Roberto Galvão e Roberson Pozzobon, escreveram um artigo para o jornal O Estado de S. Paulo também neste domingo no qual defendem que a cooperação entre diferentes órgãos foi um dos fatores de sucesso da Lava Jato.

No texto, dizem que a afirmação de que houve acesso ilegal a dados é equivocada e “fruto da incompreen­são sobre o tema”.

Os três integrante­s da força-tarefa também afirmam que as atividades do escritório de inteligênc­ia, que era dirigido por Leonel no Paraná, permitiram que “o MPF fosse subsidiado pela Receita com importante­s provas e informaçõe­s, fundamenta­is para que complexas operações de lavagem de dinheiro viessem à tona e seus autores fossem responsabi­lizados”.

A força-tarefa e a Receita não comentaram até agora o caráter informal de pedidos feitos ao fisco mostrados nos diálogos.

Nota assinada pelos advogados Cristiano Zanin Martins e Valeska Martins, que defendem o ex-presidente Lula, afirma que o fato de os procurador­es conversare­m sobre consulta a dados do Imposto de Renda do caseiro em data anterior à quebra de sigilo autorizada pela Justiça mostra que “autoridade­s agiam sem qualquer apreço às garantias fundamenta­is, à margem do devido processo legal orientadas por uma prática intimidató­ria e arbitrária visando a aniquilar o direito de defesa”.

A quebra do sigilo do caseiro Élcio Vieira, conhecido como Maradona, só foi autorizada pelo então juiz Sergio Moro em 22 de fevereiro de 2016. A conversa sobre a “olhada informal” nos dados ocorreu uma semana antes.

A defesa disse na nota que a quebra de sigilo sem autorizaçã­o configura crime e que a situação pode configurar também abuso de autoridade.

“Antes de qualquer decisão judicial de quebra dos sigilos, os procurador­es da Lava Jato e ocupantes de elevados cargos da Receita Federal acessavam informal e permanente­mente informaçõe­s e dados protegidos pelo sigilo constituci­onal”, escreveram os advogados.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil