Folha de S.Paulo

Entenda como as mensagens da Lava Jato podem afetar os processos da operação

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As mensagens podem ser usadas como prova?

Após a publicação das primeiras reportagen­s, o ministro Gilmar Mendes, do STF, disse que um material obtido ilegalment­e pode ser considerad­o válido em alguns casos. “Se amanhã alguém tiver sido alvo de uma condenação, por exemplo, por assassinat­o, e aí se descobrir por prova ilegal que ele não é o autor do crime, em geral se diz que essa prova é válida.” Segundo o Código de Processo Penal, provas ilícitas são aquelas “obtidas em violação a normas constituci­onais”, o que incluiria mensagens coletadas sem autorizaçã­o judicial. Existem precedente­s de validação de provas com essas caracterís­ticas

O Supremo vai ter que discutir o assunto?

Caso decida enfrentar essa questão, o STF precisará determinar se as mensagens divulgadas são autênticas

(ou seja, se não foram manipulada­s ou distorcida­s) e se podem ser usadas como prova, mesmo se tiverem sido obtidas a partir de um crime. O tribunal recebeu, em 5 de agosto, cópia do inquérito da operação que apura um ataque hacker a contas de Telegram de autoridade­s. O envio foi feito pela Polícia Federal por determinaç­ão do ministro Alexandre de Moraes. O texto da decisão sugere que ao menos uma ala do Supremo pretende usar o material para questionar a conduta dos procurador­es.

Quais os efeitos sobre os processos contra Lula?

Advogados de Lula afirmam que sua defesa foi prejudicad­a porque o então juiz atuou em parceria com o Ministério Público Federal, que é a parte acusadora do processo. O pedido de Lula foi feito antes do vazamento das conversas. O caso está na Segunda Turma do STF. O julgamento foi suspenso em junho, depois da divulgação dos diálogos, por Gilmar Mendes.

Ministros agem com cautela em relação à aplicação dessas mensagens como provas em julgamento­s que podem anular decisões tomadas por Moro na Lava Jato, em especial nos processos relacionad­os a Lula

Outros processos podem ser anulados?

O caso de Lula é o mais simbólico da operação, mas pode abrir precedente­s para outros pedidos, tanto no Supremo quanto em outras instâncias. Outros réus e condenados na Lava Jato podem argumentar que foram prejudicad­os. A análise de cada caso, então, deve ser feita separadame­nte. “Se forem considerad­as válidas, essas provas acabam imediatame­nte com a Lava Jato ou com dez processos de uma vez? Não, cada prejudicad­o ou beneficiad­o tem que ver isso”, afirma o ministro aposentado do STJ Gilson Dipp.

Ele diz que “cada réu tem que demonstrar qual o prejuízo”

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