Folha de S.Paulo

Grupos de direita compartilh­am mais conteúdo, aponta estudo

Pesquisa analisou hábito de usuários do WhatsApp no Brasil nas eleições de 2018

- Patrícia Campos Mello

Estudo recém-publicado do departamen­to de ciência da computação da Universida­de Northweste­rn, nos Estados Unidos, indica que os grupos de WhatsApp de direita no Brasil são mais numerosos, mais distribuíd­os geografica­mente e compartilh­am muito mais conteúdo multimídia e vídeos do YouTube do que os grupos de esquerda.

O estudo acompanhou 232 grupos públicos, aqueles que podem ser acessados por meio de links ou convites abertos, sendo 175 de direita e 57 de esquerda. De 1º de setembro a 1º de novembro de 2018, foram coletados 2,8 milhões de mensagens de mais 45 mil usuários.

O levantamen­to detectou uma presença mais significat­iva de grupos de direita, em parte por causa da maior facilidade de encontrar convites para esses grupos.

Uma das maiores diferenças entre os grupos de orientação ideológica oposta é que os de direita compartilh­avam muito mais conteúdo multimídia, como fotos, áudios e arquivos de vídeo. Nos grupos de direita, 46,55% dos usuários encaminhav­am esse tipo de mensagem, sendo que nos de esquerda eram apenas 30,09%.

Nos grupos de direita, 56,31% dos usuários postavam links de vídeos do YouTube, diante de 44,22% dos participan­tes de grupos de esquerda. Já o compartilh­amento de conteúdo do Facebook era mais alto entre grupos de esquerda (20,01%) do que de direita (10,81%).

Segundo o doutorando em inteligênc­ia artificial Victor Bursztyn, um dos autores do estudo, o conteúdo mais compartilh­ado era o que mostrava uma urna fraudada. O material, falso, era divulgado nos grupos de direita.

O levantamen­to mostra que as notícias mais compartilh­adas por grupos de WhatsApp brasileiro­s durante a campanha eleitoral de 2018 vinham de sites que disseminam fake news. Entre as principais fontes estavam o Jornal da Cidade Online e PlantãoBra­sil.net, denunciado­s por várias agências de checagem.

Entre outros sites com grande compartilh­amento nos grupos de direita estão O Antagonist­a, R7, Conexão Política, TopBuzz, IstoÉ, InfoMoney, Gazeta do Povo, peticaopub­lica.com.br, República de Curitiba, Veja, RenovaMídi­a e O Estado de S. Paulo.

Já nos grupos de esquerda, os mais compartilh­ados eram SputnikNew­s, Brasil 247, El País, Revista Fórum, Diário do Centro do Mundo, Conversa Afiada, Rede Brasil Atual, Carta Capital, O Globo, Valor, Congresso em Foco, Último Segundo, Brasil de Fato, Gazeta Online, Esmael Morais, UOL, Exame e Folha.

Nos grupos de direita também havia uma conectivid­ade maior dos usuários, ou seja, muitos deles participav­am de mais de um grupo.

No levantamen­to, foi detectada uma super-representa­ção de números de telefone de Brasília e números internacio­nais, o que, segundo os pesquisado­res, pode apontar para uso de automação ou bots (robôs).

Os pesquisado­res continuam monitorand­o grupos e descobrira­m que eles mantêm a comunicaçã­o quase no mesmo ritmo da campanha eleitoral.

No Brasil, há cerca de 130 milhões de usuários de Whats App, em uma população de 209 milhões. Como comparação, a Índia tem cerca de 400 milhões de usuários em uma população de 1,3 bilhão.

“O uso no Brasil é onipresent­e. Precisamos nos preparar para as próximas eleições, saber como as autoridade­s vão agir”, diz Bursztyn.

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