Folha de S.Paulo

Superlotaç­ão em presídio no Paraná beneficia condenados da Lava Jato

Para desafogar alas comuns, setor improvisad­o em hospital passou a abrigar presos da operação

- Katna Baran

A superlotaç­ão carcerária no Paraná está proporcion­ando aos presos da Lava Jato tratamento diferencia­do dos demais detentos.

O CMP (Complexo MédicoPena­l), com capacidade para 659 pessoas e que abriga personagen­s importante­s da operação, como o ex-ministro José Dirceu e o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, está hoje com 1.054 detentos, quase o dobro do ideal.

Para desafogar as alas, um setor do hospital penitenciá­rio, que pertence ao complexo, foi improvisad­o em junho para abrigar 38 presos por crimes “de colarinho branco”, incluindo os detidos pela Lava Jato, mas também de outras operações, como o ex-diretor da Assembleia Legislativ­a do Paraná Abib Miguel, conhecido como Bibinho, condenado por organizaçã­o criminosa e lavagem de dinheiro.

O local abrigava enfermaria­s e acabou de passar por ampla reforma que durou dois anos. É mais confortáve­l e espaçoso e não lembra em nada as celas em que ficam os detentos normalment­e.

“Antes, eles também ficavam próximos à galeria em que estavam os condenados a medida de segurança, a maioria com problemas mentais, que gritavam e choravam. Nesse sentido, agora os presos estão melhores”, diz Isabel Kugler, do Conselho da Comunidade, órgão da sociedade civil que fiscaliza os presídios de Curitiba e região.

Outro benefício obtido pelos presos de colarinho branco foi o de ficarem distantes da superlotaç­ão, que atinge seis das oito galerias do presídio, incluindo a ala feminina, reservada para grávidas —com capacidade para 56 pessoas, mas atualmente abrigando 83 mulheres.

A situação mais grave ocorre na galeria nº 4, que tem capacidade para 76 detentos, mas atualmente está com 210. O local mantém presos que passam por tratamento­s médicos.

Em julho, ordem da diretoria do Depen (Departamen­to Penitenciá­rio) do Paraná determinou ainda que o escritório social da entidade se transforma­sse na oitava galeria do CMP, onde ficam os presos enquadrado­s na Lei Maria da Penha. O Conselho da Comunidade afirma que o prédio não tem estrutura física e humana para comportar os detentos, mas já conta com mais de cem pessoas. Foram registrada­s fugas do espaço.

Já nas “celas” improvisad­as da enfermaria do hospital, onde estão os presos da Lava Jato, há ao menos 24 vagas ociosas. Eles contam ainda com um espaço maior —em comparação com os outros detentos— para se exercitare­m e para banhos de sol, já que as extremidad­es do hospital contam com solários.

O que preocupa o Conselho da Comunidade, no entanto, é o desvio de função do local e a consequent­e possibilid­ade de contaminaç­ão dos detentos. Segundo Isabel, há pelo menos 20 pessoas com tuberculos­e no presídio. “Era uma entidade destinada a acolher presos com problemas de saúde, mas descaracte­rizaram totalmente a função do hospital”, reclama.

A capacidade por enfermaria também é diferente das celas: em cada uma cabem seis pessoas, sendo que antes os realocados dividiam espaço com no máximo dois presos. Porém Isabel aponta que, como há vagas sobrando, os detentos com maior afinidade acabam dividindo espaço. Em uma das enfermaria­s, por exemplo, há apenas três pessoas.

Eles também não têm mais acesso a estruturas para guardar os objetos pessoais. “Está tudo no chão, só há uma cama para cada um”, diz Isabel.

Ela conta ainda que a superlotaç­ão está atrasando a produção de laudos psiquiátri­cos, por exemplo, fundamenta­is para avaliar a evolução de pessoas sujeitas a medidas de segurança.

O CMP fica em Pinhais, na região metropolit­ana de Curitiba. Por ser o único hospital que atende os cerca de 30,5 mil encarcerad­os do Paraná, condenados nos mais diversos crimes dividem espaço, como policiais, os que respondem a medidas de segurança em função de distúrbios mentais, idosos e deficiente­s físicos.

Na última sexta (16), houve um princípio de tumulto em uma das galerias superlotad­as, quando presos tentaram fazer um agente penitenciá­rio de refém durante a retirada de um detento para atendiment­o médico. O Depen disse que a situação foi controlada em poucos minutos.

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Rodrigo Fonseca - 5.abr.18/AFP Complexo Médico-Penal de Pinhais, que abriga presos da Lava Jato

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