Aplicações atreladas ao ouro registram picos históricos
Investidor busca contratos e fundos que seguem oscilações de preço do metal
O temor com a desaceleração econômica nos países ricos e cortes de juros nas principais economias do mundo fez o ouro negociado na Bolsa se valorizar 28,6% em 2019. No mesmo período, o Ibovespa subiu 13,56%.
Além da maior demanda internacional por ouro, no Brasil a valorização acumula o efeito da alta do dólar, que sobe 3,4% no ano. Isso porque os investimentos em contrato de ouro seguem a cotação internacional da onça troy (31,1035 gramas) na Bolsa de Chicago.
A onça troy subiu 4,5% em duas semanas e chegou a US$ 1.513 (R$ 6.052) na sexta-feira (16).
Este é o maior patamar desde 2013, quando o metal iniciou trajetória de queda após a máxima histórica em 2009, decorrente da crise financeira.
Por ser um ativo de segurança e com alta liquidez (facilidade para vender), governos fazem estoques de ouro como reserva de valor. Em momentos de desaceleração global e inversão da curva de juros, que tendem a preceder recessões econômicas, os bancos centrais aumentam suas reservas como forma de proteção, para assegurar que poderão honrar seus compromissos financeiros.
Este movimento é um dos principais motivos da alta do metal. O outro é o aumento da procura de investidores por produtos atrelados a ouro, com a queda global do rendimento da renda fixa.
Investidores também recorreram a ETFs (Exchange Traded Fund) —fundo de investimento que segue um índice— ligados a ouro e têm hoje mais aplicações nesses fundos do que o volume registrado na crise financeira.
Já a posição em contratos futuros e de opções ligados ao ouro está na máxima da série histórica iniciada em 2005.
A escalada de tensões entre EUA e China, com imposição de novas tarifas americanas sobre bens chineses e promessa de retaliação por Pequim, somada a dados econômicos decepcionantes de Alemanha e China levaram a onça troy a US$ 1.523 na quarta-feira (14).
O mercado financeiro de ouro é complexo e com alta volatilidade (oscilações bruscas de preços), o que afasta o pequeno investidor. A opção é investir em fundos que incluíram o metal em suas carteiras como contrapeso para a queda no preço das ações.
Para Ricardo Kazan, sócio e gestor da Novus Capital, o leque mais diversificado de fundos deve ajudar o mercado doméstico de ouro com maior volume de negócios, sem que pequeno poupador tenha que negociar diretamente.
De acordo com Sandra Blanco, consultora de investimentos da Órama, investimentos em produtos ligados a ouro são recomendados apenas para quem tem perfil arrojado e é tolerante a perdas.
“É um investimento bem complexo, com muitas variáveis que impactam no preço do ouro e é difícil de prever. É muito arriscado. Não é um produto para o investidor que procura ganhos recorrentes”, afirma Blanco.
Ela recomenda ter, no máximo, 5% do dinheiro aplicado em ouro como forma de balancear o investimento em ações. O mesmo serve para o dólar, via fundo cambial ou contratos futuros de dólar.