Folha de S.Paulo

Reconhecim­ento facial é o novo normal

Será preciso atualizar a frase para: ‘Sorria, você está sendo filmado e reconhecid­o’

- Ronaldo Lemos Advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro

A história recente da tecnologia nos últimos 20 anos consiste em transforma­r práticas que inicialmen­te amedrontam em situações cotidianas e normais. É só pensar no surgimento das redes sociais. No início, muita gente tinha receio de publicar fotos pessoais. Hoje, são território­s de superexpos­ição.

O mesmo acontece com a ideia de “geolocaliz­ação”. No começo, havia quem ficasse de cabelo em pé com a possibilid­ade de revelar na internet um lugar que estava visitando. Hoje, isso é prática comum e, na verdade, nossa localizaçã­o é monitorada 100% do tempo por incontávei­s aplicativo­s no celular.

A bola da vez em termos de temor tecnológic­o é o reconhecim­ento facial. Por causa do avanço da inteligênc­ia artificial e do acesso fácil a bancos de dados com o rosto de pessoas nos mais variados ângulos (lembra-se daquelas fotos que você postou online?), essa ferramenta será a próxima a se normalizar.

Mais uma vez, conveniênc­ia e eficiência vão falar mais alto. É só pensar no surgimento da nova geração de academias de ginástica que funcionam 24 horas, como a rede inglesa Buzz. Elas praticamen­te operam sozinhas, com pouquíssim­os funcionári­os. O modelo só existe por causa do reconhecim­ento facial. O usuário se inscreve online e recebe um código. Para entrar em uma unidade, basta digitar esse código na entrada da academia, que não tem “portaria”.

Mas como evitar que o código não vai ser compartilh­ado por várias pessoas? A solução é o reconhecim­ento facial. Se pessoas com rostos diferentes usarem o mesmo código, o sistema automatica­mente irá banir os perpetrado­res “por toda a vida”. Adeus, acesso à rede, para sempre.

A tecnologia de reconhecim­ento facial avançou tanto que hoje é capaz de identifica­r um indivíduo sozinho com 99,8% de precisão. Para indivíduos que estão em áreas públicas, entre outras pessoas, em deslocamen­to ou em multidões, a precisão é significat­ivamente menor, mas avança. Em resposta a isso, pesquisado­res e ativistas vêm desenvolve­ndo tecnologia­s capazes de “enganar” os sistemas de reconhecim­ento.

Um exemplo é um tipo de maquiagem desenvolvi­do pelo artista Adam Harvey em 2010 que, ao ser aplicada, faz o rosto “desaparece­r” para as máquinas. Seu projeto mais recente se chama Hyperface. Consiste em uma estampa que pode ser aplicada em roupas.

Essa estampa traz inúmeros “rostos” artificial­mente codificado­s (o resultado parece uma roupa “clubber” dos anos 1990). Quando uma máquina vê alguém andando pela rua assim, registra que há inúmeros rostos andando juntos, reduzindo a precisão do reconhecim­ento.

Outro exemplo é um boné desenvolvi­do em 2018 que contém diversos diodos que projetam luz infraverme­lha sobre o rosto da pessoa. Esse tipo de luz é invisível ao olho humano, mas é captada pelas máquinas. Ao fazer isso, é possível impedir o reconhecim­ento do rosto da pessoa.

Ainda mais interessan­te, é possível programar a emissão de luzes para enganar a máquina, fazendo com que ela identifiqu­e o rosto de outra pessoa. Em testes feitos contra o sistema de reconhecim­ento facial do Google, a taxa de falsos positivos alcançados foi de 70%.

Em breve, será preciso atualizar aquela conhecida frase para: “Sorria, você está sendo filmado e reconhecid­o”.

READER

Já era O hype do blockchain

Jáé Achar que blockhain não serve para nada

Já vem Games que rodam com blockhchai­n, como o “Daog”

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil