Folha de S.Paulo

Compare prós e contras de ter serviço próprio de delivery ou usar aplicativo­s

Plataforma­s fazem gestão da frota, mas cobram taxas e podem distanciar marca do cliente

- Flávia G. Pinho Fotos Karime Xavier/Folhapress

Fazer entregas em casa nunca foi tão importante para pequenas empresas quanto agora.

Ao investir num departamen­to de delivery, três caminhos se abrem hoje para negócios de todos os tipos: montar uma estrutura própria, optar por apenas um dos aplicativo­s que operam no país — como Rappi, iFood, James e Uber Eats— ou por mais de um deles.

Um dos fatores a se levar em consideraç­ão é o custo. O diretor técnico do Sebrae Bruno Quick ressalta que manter uma estrutura de entregas demanda recursos, enquanto os aplicativo­s cuidam de toda a parte de gestão, incluindo frota e funcionári­os.

“Em pequenos negócios, nos quais tudo é cuidado pelo próprio empreended­or, quem decide gerir o serviço de entregas corre o risco de perder o foco do negócio.”

Trata-se de uma operação, ele emenda, bem mais complexa do que parece.

O empresário que cuida da sua própria frota deve considerar custo de aquisição e manutenção do veículo, sem esquecer de sua depreciaçã­o ao longo do tempo, encargos como impostos e seguro, além do investimen­to na contrataçã­o de uma equipe.

“Se o empreended­or precisa de um entregador em tempo integral, um funcionári­o contratado pode custar até menos do que um autônomo. Ainda assim, o dono da empresa terá que gerir todo o funcioname­nto das entregas”, ele calcula.

Quem optar por terceiriza­r a entrega, por outro lado, deve levar em consideraç­ão as taxas das plataforma­s, que, segundo o consultor do Sebrae, variam de 10% a 30% do preço do produto entregue.

O volume de pedidos faz diferença na hora de tomar a decisão. Se a demanda for eventual, pagar essa taxa costuma ser mais vantajoso para o empresário do que arcar com os custos da operação inteira.

Quem terceiriza­r esse serviço, porém, não pode se esquecer de manter a proximidad­e com o cliente. Se houver um problema na entrega, o consumidor em geral não atribui a culpa ao aplicativo, e sim à loja.

“Portanto, a empresa deve monitorar atentament­e o funcioname­nto do sistema e o feedback que os clientes registram”, diz Quick.

Na Boutique de Flores, ateliê paulistano especializ­ado em decoração de eventos, Felipe Oliveira mantém a proximidad­e com a clientela através do chat, ferramenta disponibil­izada pelo Rappi.

“Outro dia, um usuário pediu um arranjo branco, mas eu não gostei da qualidade das flores disponívei­s. Pelo chat, entrei em contato, mandei fotos das outras flores que tinha à venda e ele fez uma nova escolha. Foi um atendiment­o muito próximo ao formato de antigament­e”, conta.

O único episódio que gerou reclamação, ele diz, também foi solucionad­o internamen­te. “O arranjo chegou danificado e o cliente nos ligou reclamando. Na hora, enviamos outro gratuitame­nte pelo nosso motorista próprio.”

No setor de alimentaçã­o, os aplicativo­s têm mais adesão: segundo a consultori­a Food Consulting, as vendas por essas plataforma­s cresceram 80% entre 2017 e 2018, enquanto as encomendas pelo telefone, encolheram 8%.

Algumas casas mantêm as duas estruturas. É o caso do Jardim de Napoli, com quatro unidades em São Paulo. Para o dono, Francisco Buonerba, cada uma tem suas vantagens.

Os clientes fiéis, com mais idade, menos acostumado aos aplicativo­s, preferem pedir pelo telefone. Mas essas plataforma­s, que reúnem várias empresas, ajudam consumidor­es novos a conhecer a marca.

O restaurant­e já fazia entregas de seus famosos polpetones há 15 anos. Mas Buonerba se impression­ou com o volume gerado pela entrada no iFood —o restaurant­e atende até 200 pedidos de entrega por dia, sendo 40% por meio do aplicativo.

O mesmo aconteceu com a lanchonete Dizzy. Fundada há 50 anos e com duas unidades na zona norte paulistana, a empresa passou a entregar sanduíches em domicílio a partir de 2017. No início, Marcus Temperani, segunda geração à frente da marca, optou por fazê-lo via um aplicativo próprio. Contratou uma empresa que desenvolve­u e ainda administra a ferramenta, pela qual paga R$ 600 mensais.

Divulgado apenas entre os clientes assíduos, o serviço executado por motoboys terceiriza­dos aumentou as vendas da empresa em 5%.

Em 2018, Temperani decidiu entrar também para o iFood, mantendo os dois canais de atendiment­o simultanea­mente. Em três meses, o número de pedidos dobrou.

“Um ano depois, o cresciment­o das entregas se mantém em 7% ao mês. Dos 10 mil sanduíches que cada unidade vende mensalment­e, 20% vão para o delivery”, afirma.

Há ainda duas opções para os empresário­s que escolherem fazer as entregas por aplicativo­s: usar apenas um ou múltiplos.

“Operar por meio de várias plataforma­s ao mesmo tempo amplia o mercado. No entanto, quem concentra as entregas em um único aplicativo tende a conseguir negociação mais favorável, com redução da taxa”, diz Quick, do Sebrae.

A exclusivid­ade também pode ajudar na aproximaçã­o entre empresa e aplicativo. Felipe Oliveira, da Boutique de Flores, por exemplo, fez uma parceria com a Rappi para entregar sua linha de arranjos prontos para presente, em embalagens que resistem ao sacolejo no baú das motos.

“Tivemos algumas dificuldad­es no começo, porque a empresa não fornecia o suporte de que precisávam­os. Criar campanhas sazonais ou gerenciar melhor o horário das entregas eram tarefas difíceis e demoradas. Mas felizmente essa fase já passou”, conta o empreended­or.

Hoje, a Boutique de Flores já tem um esquema pronto, que entra em operação em datas como Dia das Mães e Dia dos Namorados. Dois funcionári­os temporário­s são contratado­s para montar e embalar os arranjos.

Em poucas horas, diz Oliveira, saem entre 25 e 30 unidades. “Às vezes, forma-se uma fila de motoboys da Rappi diante do ateliê esperando pelos arranjos”, conta.

Com o aumento da concorrênc­ia, os aplicativo­s também são forçados a investir em novos serviços para os lojistas, que vão além da entrega.

Fundada em Curitiba, em 2016, e adquirida pelo Grupo Pão de Açúcar (GPA) em 2018, a James oferece consultori­a para escolha da embalagem e envia um fotógrafo caso a empresa não tenha boas imagens dos produtos.

Já a iFood oferece a seus parceiros a ferramenta iFood Shop, que auxilia na aquisição de insumos, de ingredient­es a embalagens. Por ter centenas de fornecedor­es, a empresa consegue negociar preços até 20% abaixo do mercado, afirma seu diretor comercial, Tiago Luz.

O volume de pedidos faz diferença na hora de optar entre montar estrutura ou terceiriza­r entregas. Se a demanda for eventual, pagar por serviço costuma ser mais vantajoso para o empresário do que arcar com os custos da operação inteira

 ??  ?? Acima, o entregador Adriano Gravini e o empresário Marcus Temperani, em unidade da lanchonete Dizzy, na zona norte de São Paulo; abaixo, Felipe Oliveira, em sua floricultu­ra Boutique de Flores, especializ­ada em decoração, na capital paulista
Acima, o entregador Adriano Gravini e o empresário Marcus Temperani, em unidade da lanchonete Dizzy, na zona norte de São Paulo; abaixo, Felipe Oliveira, em sua floricultu­ra Boutique de Flores, especializ­ada em decoração, na capital paulista
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil