À sombra de megashows, palco ‘raiz’ em Barretos tem sertanejo para poucos
Ao lado de arena de rodeios, espaço reúne fiéis do gênero musical e proíbe estilo universitário
A poucos passos do estádio de rodeios que tradicionalmente fica superlotado nos finais de semana da Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos, um grupo que não chegava a 20 pessoas acompanhava no início da noite de sexta (16) o violeiro Rancharia tocando músicas sertanejas raiz num palco com zero glamour.
Em sua maioria formado por artistas que se apresentariam ou já tinham tocado no mesmo espaço naquele dia, ou amigos e familiares deles, o pequeno público é a regra do local, que existe há 18 anos na festa —em sua 64ª edição— e tem como objetivo preservar as tradições caipiras, evitando instrumentos elétricos e onde é totalmente proibido tocar qualquer canção que se assemelhe ao sertanejo universitário.
Caso contrário, o show para na hora e o artista é convidado a deixar o espaço. Já viola, violão e sanfona são muito bem-vindos.
Com isso, Pedro Bento & Zé da Estrada, Tião Carreiro & Pardinho e Zilo & Zalo são algumas das figuras fáceis no repertório musical dos artistas que se apresentam no palco. Eles não recebem nada para se apresentar, arcam com gastos de transporte até Barretos (a 423 km de São Paulo) e passam por uma peneira para serem aprovados.
“São todos profissionais, não é karaokê. Já desliguei o microfone num show por não ter as regras respeitadas”, disse o produtor artístico Luiz Maya, responsável pelo palco.
Na última quinta (15), primeiro dia da Festa do Peão de Barretos, o palco não teve apresentações. Motivo: o eletricista não foi ao local ligar o som. Serão ao menos 35 shows até o dia 25, quando a festa termina —o espaço funciona de quinta a domingo.
“Se tiver uma pessoa só, é a mesma coisa, não tem problema. Estou tocando em Barretos, e é por amor”, disse Rancharia, da homônima cidade paulista. Ele gravou um CD com o hoje aposentado locutor de rodeios Asa Branca e o distribuiu a alguns presentes.
O maior público já visto no palco foi de 2.000 pessoas, segundo Maya. “O objetivo é resgatar a música, tendo ou não alguém. Me enriquece porque dou o melhor de mim para uma causa que acredito”, disse.
Se o produtor controla os bastidores do “raízes sertanejas”, o palco é comandado pela advogada e comendadora das tradições sertanejas Helenice Cunha, que deixou a profissão para se dedicar às carreiras de cantora e apresentadora.
Além da apresentação propriamente dita, Maya diz que ela, que fica no palco praticamente o tempo todo, entra em cena quando percebe que algum cantor está deixando o público ir embora ou não está “segurando” o show. O amor pela música, diz ela, veio do bisavô, que o passou para as gerações seguintes.
Maya conta que em seu palco já passaram três artistas que se apresentaram no global The Voice Brasil e nomes como a dupla Lucas Reis & Thacio, que fará show no segundo principal palco da festa barretense na terça-feira (20).
Frequentadores dizem que o espaço pode ser o menor da festa, mas só em tamanho, não em qualidade. “Esse tipo de música só tem aqui. Se abrirem para outros estilos não precisará mais dele, ficará igual aos outros palcos”, disse o vendedor João Luis Silva.
Bolsonaro flexibiliza lei sobre rodeios e desfila a cavalo
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) assinou na noite de sábado (17) decreto que flexibiliza a legislação sobre rodeios no Brasil. O anúncio foi feito no estádio de rodeios do Parque do Peão de Barretos, durante a terceira noite da 64ª Festa do Peão de Boiadeiro, a mais tradicional do país.
Com o decreto, fica definido que compete ao Ministério da Agricultura avaliar os protocolos de bem-estar animal elaborados por entidades promotoras desse tipo de evento e, com a mudança, também será possível a realização de provas não disputadas em alguns lugares.
“Ele [Bolsonaro] está mostrando que é possível fazer rodeio com 100% de boas práticas. Vai acabar com essa história de juízes bloquearem rodeios aos 47 [do segundo tempo]”, disse Ricardo Rocha, presidente de Os Independentes, associação responsável pela organização da festa paulista.
Em Barretos, por exemplo, uma lei municipal impedia a prova do laço e desde meados da década passada a Festa do Peão deixou de realizá-la. A organização suspendeu ainda a prova do bulldog após a morte de um bezerro, em 2011. Na prova, o bezerro é imobilizado pelo competidor.
Com o decreto, todos os rodeios no país poderão realizar essas provas, desde que seguidas normas definidas pelo ministério. Isso não quer dizer, porém, que Barretos voltará a adotá-las.
Após seu discurso, Bolsonaro deu duas voltas na arena montado num cavalo, ao lado do presidente da festa, Ricardo Rocha, e do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM). A associação Os Independentes separou 12 cavalos para que o presidente escolhesse um deles para ser usado.